Pela primeira vez em sua história, o Refúgio Biológico Bela Vista, mantido pela Itaipu Binacional, registrou em imagens o nascimento de uma anta-brasileira (Tapirus terrestris). A antinha, cujo sexo não foi identificado porque está só com a mamãe, nasceu às 17h22 de terça-feira (17).
Foi o segundo filhote da espécie a nascer em menos de dois meses no RBV. No dia 11 de agosto, outra antinha nasceu no local, a Cenoura, que junto com a mãe, Frida, já pode ser vista pelos visitantes.
E a fertilidade da bicharada no local não para por aí. As famílias de lontra (Lontra longicaudis) e de veado-bororó (Mazama nana) ganharam novos integrantes também, desde junho: duas lontrinhas, macho e fêmea, e dois filhotes de veado-bororó, também macho e fêmea, totalizando seis filhotes no RBV.
Os filhotes passam bem e estão recebendo os devidos cuidados pelos técnicos e veterinários, que fazem do Refúgio um dos maiores exemplos de manejo e conservação de fauna e flora da América do Sul. As lontrinhas nasceram no dia 15 de junho. Já o macho do casal de veados-bororós no dia 8 de setembro e a fêmea, no dia 9. Enquanto a anta e a fêmea do veado-bororó podem se reproduzir em qualquer época do ano, as lontras se reproduzem geralmente na primavera. Em comum, todos os animais contribuem para o equilíbrio florestal.
Em épocas de queimadas, esses nascimentos são um sinal de esperança para o ciclo da vida e das futuras gerações. Todos são de espécies em risco de extinção ou ameaçadas de quase desaparecer. O RBV reúne um plantel de 305 animais de 53 espécies.
“Muitas dessas queimadas, assim como a questão da perda de hábitat e até da mudança do clima, estão acontecendo por causa da ação do homem. Graças a um trabalho de muitas mãos, temos aqui um grande know-how para conseguir reproduzir, manter e cuidar dos animais. E isso é muito importante”, diz a médica-veterinária Aline Luiza Konell, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu.
Para ela, o RBV é uma grande ferramenta de conservação para a futura libertação desses animais na natureza, como já ocorreu com outras espécies, como jaguatiricas e mutuns-de-penacho. “O Refúgio mantém somente animais da Mata Atlântica, do nosso bioma. Para nós, é muito importante que eles estejam se reproduzindo com saúde, se reproduzindo bem, justamente para a gente conseguir reduzir essa e qualquer outra ameaça da natureza à conservação dessas espécies.”
Cuidados
Segundo Aline Luiza Konell, o registro inédito das imagens é muito importante, pois envolve vários aspectos. “Quanto mais informações sobre animais mantidos sob cuidados humanos, melhor, porque com isso conseguimos juntar dados sobre reprodução e comportamentos da espécie: quanto tempo demora o parto, como ocorre esse parto e se o animal vai parir deitado ou em pé. Então, essas informações são muito importantes, porque na natureza a gente tem muita dificuldade de coletar isso.”
Segundo a médica-veterinária, a partir desses dados é possível trocar experiências com outros organismos de pesquisa e conservação para a melhoria do manejo e reprodução das espécies, como é o caso da lontra. “Nós tivemos que fazer uma mudança drástica no manejo que nós tivemos com a fêmea mãe. Essa fêmea veio encaminhada lá do Pontal do Paraná e havia sido cuidada por pessoas. Então, a gente tem uma tendência de que quando os animais são cuidados, amamentados e têm essa ligação muito forte com o ser humano, quando eles vão reproduzir, têm um pouco de dificuldade para manter os filhotes”, conta.
Foi aí que o RBV entrou em contato com o Projeto Lontra e tudo mudou. “Fizemos um substrato do recinto e mudamos toda a forma de manejo.” O final da história a gente já sabe: um grande sucesso. A expectativa é de que muitas lontrinhas virão por aí.
Alegria de turistas e tratadores
Se, para a ciência, os filhotes são valiosos, para os turistas, são encanto total. “Passamos pelas harpias, a onça, o lobo-guará, os cervos e a seriema, mas ver o filhotinho de anta foi a coisa mais fofa. E sabemos que a vida delas na natureza está se tornando cada vez mais difícil, por causa das queimadas”, afirmou a professora aposentada Roseli Barlati.
Emily Gabriely Cover, terceirizada do Refúgio, comenta que é um orgulho trabalhar com o manejo de animais no RBV. “É uma grande satisfação dar essa contribuição para a natureza com o nosso trabalho. A gente vem sempre trabalhar feliz”. Opinião compartilhada por Caroline Letícia da Silva, que também presta serviço para a empresa. “Enquanto uns estão devastando, nós estamos reproduzindo vidas”, reforça.
Paulo Roberto Dalla Corte, que há treze anos trata de animais na usina, orgulha-se de, ao longo dos anos, ter vivenciado o nascimento de inúmeros animais, como de um casal de onças gêmeas. Ele é só alegria ao comentar sobre as lontras. “É um setor que cuido com muito amor. É maravilhoso vê-las agora nadar, vê-las crescer. Eu me criei na roça e sempre fui apaixonado por bichos. Esse é um grande lar para mim”, revela.
Informações: Imprensa Itaipu