Uma mãe não nasce no momento em que o filho vem ao mundo. Quando uma gestação é descoberta ela já passa a existir, ainda que no imaginário, nos sonhos e planos que são criados com base na chegada de uma nova vida. A gravidez é um período permeado de dúvidas e uma montanha-russa de sentimentos, que vão da euforia de gestar até a insegurança de não saber como será a rotina de cuidados com o bebê que vai chegar.
Cursos, livros e troca de ideias sobre maternidade trazem conhecimento e segurança, mas é difícil estar preparado para a chegada prematura de quem deve ficar nove meses no ventre. Esta foi a realidade vivida há alguns meses pela empresária Estela Aline Fischer e também pela funcionária pública Daniela Moreira Bacardin Bueno.
Para Estela, mamãe de primeira viagem, após um susto com a retirada de um mioma, a descoberta da gestação trouxe alento e esperança. Mas a vida reservava um trajeto mais longo e desafiador para que a primeira filha viesse ao mundo. “Eu e meu marido não tínhamos certeza se queríamos ter filhos. Depois do mioma, a médica disse que se eu quisesse ser mãe era o momento. Isso foi em março de 2023 e em junho eu descobri que estava grávida. Senti um misto de alegria e surpresa, porque foi muito rápido. A gestação foi bem desafiadora, com 12 semanas eu sofri um acidente na rodovia. O carro em que eu estava deu perda total. Foi um susto bem grande e eu achei que ia perder a Joana. Mas fizemos todos os exames e ela estava intacta. Depois disso a gravidez correu normalmente, até que chegou a 25ª semana, quando comecei a perder líquido e foi detectado um rompimento de colo. Precisei ser internada e consegui segurar até completar a 26ª semana e 3 dias de gestação e então ela nasceu”, conta.
O mundo humanizado da UTI Neo
Prematura extrema, a pequena Joana foi levada imediatamente para a UTI Neonatal, onde uma jornada de internamento e luta pela vida, que durou 65 dias, começou. “O Policlínica Hospital de Cascavel foi o primeiro berço da Joana. Quando ela nasceu só o meu esposo pode ver ela rapidamente. Ela chegou às 19h de sábado e eu só fui ver ela ao meio-dia do domingo. No trajeto até a UTI eu via as plaquinhas indicando o caminho e, chorando, questionava Deus porquê eu estava naquela situação. Eu não sabia como seria tudo dali pra frente. Os primeiros cinco dias foram os mais impactantes porque ela estava em uma situação de alto risco, mas o que me deu forças foi o meu marido que me acompanhou 24 horas e principalmente a equipe da UTI, que além de acolher minha filha, me acolheu também. Eu fui entendendo todos os passos que viriam e me sentindo mais segura, a equipe deixou tão leve o processo que eu só tenho a agradecer”, conta deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto.
As surpresas da UTI Neo não eram restritas à evolução da pequena Joana. “Eu nunca imaginei passar por um parto prematuro e sempre planejei comemorar os mêsversários da Joana. Ainda na gestação pensava em temas e quando ela completou um mês eu pedi para uma das enfermeiras se podia trazer algo só pra tirar uma foto e comemorar que ela tinha vencido até aqui. E ela disse que eu poderia ficar tranquila que teria comemoração. Quando cheguei foi muito emocionante, elas enfeitaram tudo com tema de joaninha, tinha balões, uma capinha pra ela. Emociona porque são coisas que não seria o dever delas, mas elas são tão humanas que tentam deixar tudo como gostaríamos que fosse se estivéssemos em casa. Como moro em Marechal Cândido Rondon, as únicas pessoas que tinha para me apoiar eram o esposo e os profissionais do Policlínica. Quando eu ia pra casa era com a certeza que ela estava nas mãos dos melhores profissionais”, lembra.
Hora de ir pra casa
Passados pouco mais de dois meses de uma rotina exaustiva de visitas diárias à filha na UTI, a mãe recebe a notícia mais esperada. “A médica foi me preparando para a alta. 21 dias antes da data prevista ela pediu pra eu organizar tudo e assim eu fiz. Comprei o que faltava de enxoval e deixei tudo pronto em casa. Foi o dia mais feliz da minha vida. Um momento de tanta alegria de saber que ela tinha passado por tudo aquilo e vencido. Olhar pra ela e dizer: pronto, agora você é nossa”, conta.
Já se passaram cerca de dois meses deste dia e, no primeiro Dia das Mães, Estela transborda alegria. “Ser mãe é superar todos os desafios, é um amor incondicional. O meu conselho para todas as mamães é nunca perder a fé, porque a Joana é um milagre”, completa.
“As primeiras mães do meu filho são as enfermeiras da UTI Neo”
A jornada de Daniela foi ainda mais desafiadora. Ela já era mãe de três quando o pequeno Mateo chegou trazendo experiências completamente diferentes dos irmãos. “Em todas as gestações eu não tive problemas. Na do Mateo com 30 semanas o médico me alertou que ele poderia vir prematuro e pediu um exame. Com o resultado do exame eu fui avisada que ele precisava nascer naquele momento. E aí eu só pedi a Deus que meu bebê nascesse bem”, conta, em meio às lágrimas.
Mateo chegou com 900 gramas e 28 cm. Mãe e filho só se encontraram 24 horas depois do nascimento. “Eu não sabia o que vinha pela frente, se ele conseguiria sobreviver. A gente não tem noção do que é uma UTI Neo até cair nela. Você tem uma sensação muito contraditória porque ao mesmo tempo que sabe que ele é seu, você chega lá e entende que quem foram as primeiras mães do seu filho são as enfermeiras da UTI Neo do Policlínica. Quando meu coração começava a se desesperar eu lembrava que ele estava no melhor lugar que poderia estar, porque comigo ele não iria sobreviver. E eu vi que na UTI, além de medicamentos e tratamentos, ele também estava recebendo muito amor e carinho. Então foi na UTI Neo que eu encontrei as mães do meu filho e as minhas melhores amigas naquele momento”, garante.
Os 54 dias de internamento foram muito desafiadores para a mãe que além do bebê prematuro tinha outros três meninos de 12, 8 e 3 anos precisando dela em casa. “Os irmãos queriam muito esse bebê, ninguém estava preparado pra aquilo e se eu que sou adulta não conseguia entender imagina eles. Eu tinha que estar no hospital por conta dele e eu também tinha que estar em casa e dar o suporte para a família. E foi nesse momento que o apoio psicológico do hospital fez a diferença. Eu nunca tinha feito acompanhamento com psicólogo e a dra. Carol conseguiu fazer com que eu me abrisse e conseguisse entender o que se passava dentro de mim. Eu me senti cuidada, elas não cuidaram só do Mateo, cuidaram da minha família. Quando você vai ter um bebê, as partes técnica e estrutural do hospital são importantes, mas a humanitária é imprescindível. Uma equipe que não seja só técnica, mas também humana faz toda a diferença. Nesse período teve muita dor, mas teve muito mais amor envolvido. Eu tirei muitas fotos e fiz vídeos, porque é a história do meu Mateo e eu queria registrar”, lembra.
Hora de se juntar aos irmãos
Depois de muitas etapas e evolução, Mateo foi liberado para ir pra casa. “Quando o Mateo recebeu alta, eu fui mais uma vez surpreendida pela humanidade da equipe, por conta da minha dinâmica familiar o protocolo de liberação foi diferenciado, de acordo com a minha necessidade. Não é um tratamento padrão, é individualizado. Há um olhar para as dificuldades de cada família. Em casa, as crianças estavam muito eufóricas esperando o irmão e toda a nova rotina se organizou rapidamente. Hoje Mateo está com 9 meses e a tristeza e a dor daquele período se tornaram a história dele. A primeira jornada importante da vida aconteceu atrás daquela porta bonita e colorida da UTI”, ressalta.
Com quatro experiências, a visão da maternidade para Daniela está relacionada a enfrentar os desafios, mas sem perder a fé. “Nem tudo vai sair como a gente imagina, então temos que levar da melhor forma possível, com a maior leveza que você puder, porque no final vai dar tudo certo. Ser mãe é ir de acordo com a demanda. Depois que tive o Mateo eu só posso dizer que ser mãe é você estar pronta para o que vier e, se estiver muito pesado, peça ajuda. Acalme seu coração, terão dias difíceis, mas viver o processo é muito importante e os dias nebulosos vão virar dias de sol”, garante.