Pés no chão e olhar na eternidade.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp*
Diz-se que certa vez perguntaram a um famoso poeta qual frase gostaria que fosse escrita em sua lápide, ao que ele respondeu: “Quero que seja escrito: ‘Não estou aqui’”. O poeta era ateu.
Nós, pela fé, sabemos que a vida não termina na cova. De igual modo, cremos que não ficamos presos à sepultura. Mas temos claro também que a morte constitui um dos maiores mistérios que nos envolvem. Ela nos comove e, muitas vezes, nos põe à prova.
É certo que a partida faz chorar. Aquele que verdadeiramente cultiva os sentimentos sente a dor da ausência, sobretudo dos próximos e de quem mais ama. Não há mal em chorar a separação das pessoas queridas. Homens e mulheres choram. Jesus também chorou. No entanto, para o cristão, o horizonte não é a escuridão da morte, a dor que ela provoca. À nossa frente está o clarão da vida.
Por isso, neste dia de memória, em vez de pensarmos apenas na tragicidade da morte, poderíamos refletir sobre o que nos falta fazer para que ninguém seja privado do direito de viver bem no tempo presente. Daí a necessidade de nosso empenho constante por uma realidade de paz, partilha, respeito, amor de verdade e fraternidade.
Jamais compreenderemos o mistério da morte. Temos, porém, a capacidade de construir um mundo de paz agora, onde não haja mortes violentas e prematuras. Que o Senhor ressuscitado nos ajude a viver a vida presente. E, quando chegar nossa hora, saberemos que nosso destino não é a tumba. “Não estou aqui.”
* Padre da Congregação Paulinos. São Paulo, SP.