Por: Frei Adailton Borges.
São Francisco[1] de Assis é santo de nossos tempos. Apesar de haver inúmeros milagres por meio de sua intercessão, a sua santidade se manifestava mais pelas virtudes do que por milagres. Este grande homem chamado Francisco, nascido em Assis, na Itália, por volta dos anos 1181 ou 1182, cujos pais eram comerciantes de tecido, e muito conhecido pela redondeza, tinha uma marcante personalidade de nobre, apesar de não o ser, pois a sua atitude para com todos, seja nobre rico ou um simples camponês, era um trato cortês nos costumes e nas palavras.
O ponto de partida da conversão de Francisco se dá no encontro com um pobre homem que pede algo para se alimentar, mas à primeira vista lhe-é negado. Depois, iluminado pela graça divina, interiormente repreendeu-se da grande grosseria, falando consigo: “Se aquele pobre te pedisse alguma coisa em nome de um grande conde ou barão, com certeza tu lhe darias o que foi pedido. Tanto mais devias tê-lo feito, pelo Rei dos reis e Senhor de todos”. Depois daí, nada negou que fosse pedido por amor de tão grande Senhor.
Interpelado já pela ação do Espírito de Deus, vai ao encontro de ser cavaleiro, mas algo havia lhe mudado interiormente. Tomado de tamanha alegria, diz para todos que será um grande príncipe. Todavia, no decurso da viagem uma voz lhe diz: Quem te pode fazer melhor? O Senhor ou o servo? E, prontamente, respondeu: O Senhor. E novamente a voz persiste: “E por que deixas o Senhor pelo servo?” Com isso, Francisco se rende e diz àquela voz: “Senhor, que queres eu faça?”
Após ir à guerra e ter perdido, Francisco se questiona por aquilo que lhe foi dito pela voz. A partir de então, vai cuidar de leprosos. À primeira vista era insuportável vê-los, mas o Senhor foi-lhe dando a graça para suportar. Assim, foi se tornando o que era amargo, em doçura da alma e do corpo. Francisco, embebecido desta tal experiência, contemplava o leproso numa admiração compassiva, como que vendo em sua dor, a dor de Jesus. Considerando nessa dor um amor de pura doação, vai descartando o sentido de resignação que causa o sofrimento. A partir desse estado de vida, o pobre de Assis consegue enxergar a beleza da humildade que possui a tudo no acolhimento. Com isso, esse grande homem rompe com a sua vida passada e assume novo estilo de vida pautado no Evangelho.
À semelhança do Cristo Crucificado, que carregou as nossas dores e enfermidades (Is 53,4), tornando-se fonte de graça para toda a humanidade, o pobre de Assis incorpora essa forma de vida revelada no Cristo, assumindo a sua palavra que diz: “Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me. Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25, 35-40).
Ao rezar numa capelinha da Igreja de São Damião, escuta uma voz dizendo-lhe: “Francisco reconstrói a minha Igreja, não vês que está em ruina?” Então prontamente obedece à voz e começa a reconstruir aquela igrejinha, entendendo ele que era para ser construída a Igreja-templo, embora se tratasse da igreja povo de Deus. Muitos, vendo esta atitude de Francisco, foram interpelados pelo Espírito de Deus que havia nele e começaram a ser agregados como outros membros, deixando tudo o que tinha, dando aos pobres e seguindo a Cristo Pobre e Crucificado. Eram chamados de frades penitentes.
Francisco era uma novidade para a Igreja de seu tempo, imersa em grande poder político, pois o que ele mais queria era viver o Evangelho de Cristo em pobreza. Ele fez com que a Igreja redescobrisse a alegria do Evangelho com o seu próprio testemunho de vida. Seguiram-no não só leigos que queriam viver uma nova forma de vida, mas clérigos e mulheres, a exemplo de Clara de Assis, que fundou o seu mosteiro franciscano inspirado pela espiritualidade que Francisco trazia. Francisco morre a três de outubro do ano de 1226, deixando um grande legado espiritual para a Igreja e para todo o mundo.
A partir da história hagiográfica de Francisco de Assis, percebemos que, de fato, é um santo de nossos tempos, apesar de ter vivido no período da Idade Média, pois sendo o Evangelho vivo, perpassando todo o tempo, este homem santo soube encarnar sobremaneira essa vida evangélica. Eis os pilares de sua espiritualidade: a manjedoura, a cruz e a Eucaristia, como símbolos visíveis da Encanação de Cristo Jesus que, por puro amor, assume a nossa condição humana.
[1] Referencias bibliográfica das Fontes Franciscanas.