Muito se ouviu falar nos últimos dias com a onda de calor na Europa que “este verão escaldante é o mais frio que você vai experimentar no restante da sua vida”, dando a entender que a cada verão a temperatura será mais alta que no anterior. A afirmação é enganosa. A tendência de longo prazo, pelo aquecimento global, é que os verões fiquem cada vez mais quentes, mas isso não significa que a cada verão a temperatura fique mais alta que no anterior.
Se a onda de calor na Europa for vista por um contexto de aquecimento planetário que favorece ondas de calor mais intensas e frequentes, é sinalização de que o nosso verão pode voltar a ser muito quente e com risco de novos extremos de temperatura, embora não necessariamente com a mesma proporção de janeiro de 2022. A estatística é clara em mostrar uma tendência de aquecimento cada vez maior em países como Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
As condições de circulação global da atmosfera agora, quando da onda de calor na Europa, porém, não serão as mesmas em dezembro de 2022 a fevereiro de 2023, quando do nosso verão climático, de forma que não se pode automaticamente afirmar que teremos um verão tórrido simplesmente porque a Europa teve um verão escaldante seis meses antes. Seis meses separam o auge do verão europeu do pico do verão do Cone Sul da América.
Ocorre que um padrão de enorme importância de escala global presente hoje e que favorece escassez de chuva em muitas regiões deve estar ainda presente no final de 2022 e possivelmente no início de 2023. Trata-se do fenômeno La Niña.
A esmagadora maioria das projeções indica que no final deste inverno e na primavera haveria uma nova intensificação do resfriamento das águas do Pacífico, agravando o risco de déficit de precipitação.
Assim, com o risco agravado de nova estiagem ao menos em parte da próxima estação pela continuidade do fenômeno La Niña até o fim do ano ou o começo de 2023, sob um contexto global de aquecimento de longo prazo que favorece verões mais quentes, cresce também a possibilidade de ondas de calor de intensidade muito forte.
Modelos climáticos de longo prazo, a propósito, desde já sinalizam uma perspectiva que o verão de 2023 no Centro-Sul do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai sejam mais uma vez de marcas acima da média com anomalias positivas significativas em algumas áreas, cenário que se crê não deve se alterar nas atualizações das simulações ao longo dos próximos meses.
Portanto, a tendência é que o Centro-Sul do Brasil e os países do Prata voltem a enfrentar um verão de temperatura acima da média com marcas possivelmente muito acima da média em algumas áreas, contexto que favorece ondas de calor e que podem ser muito intensas, embora não se possa predizer com a mesma magnitude do episódio de janeiro de 2022.
Antes mesmo do verão, agora no final do inverno e começo da primavera, a tendência é de temperatura muito acima da média em estados do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil, o que pode levar a marcas extremas de calor no final da estação seca e talvez recordes em algumas cidades. A sequência de meses com temperatura acima da média no Brasil Central pode levar a episódios de calor atípico e com grande desvio da climatologia, apesar de curta duração, no Sul do Brasil.
Fonte: MetSul
O que a onda de calor na Europa sinaliza para o próximo verão