Na madrugada do dia 9 de novembro de 2021, quase todos os flamingos da colônia mantida no Parque das Aves vieram a óbito. Câmeras de monitoramento registraram que, durante a madrugada, duas onças-pintadas adentraram o recinto onde estavam os animais.
“Estamos todos desolados com a situação, pois cada animal aqui é um membro da nossa família. Nosso time conviveu diariamente com cada um deles trabalhando incansavelmente para oferecer sempre os melhores cuidados. Mas também temos ciência que estamos em meio à floresta, um ambiente natural e povoado de vida silvestre. Essa fatalidade foi um evento inesperado”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
A Coordenadora Executiva do Projeto Onças do Iguaçu, Yara Barros, está trabalhando junto com o time do Parque das Aves desde cedo para averiguar a situação.
“Identificamos, através de imagens das câmeras de monitoramento, os dois indivíduos que adentraram o Parque das Aves: trata-se de uma fêmea adulta, Indira, e seu filhote, Aritana. Em grandes felinos, é comum que a fêmea ensine os seus filhotes a caçar, antes que se tornem completamente independentes. Todas as medidas de segurança para evitar ataques já tinham sido tomadas, com nossa orientação e supervisão, mas como animais silvestres podem ter hábitos não previsíveis, o evento foi inesperado e o primeiro a acontecer nos mais de 27 anos de existência do Parque das Aves”, comenta Yara.
Tristeza no Parque
Há 27 anos a família Croukamp iniciou, em Foz do Iguaçu, um sonho: o de restaurar um dos biomas mais ameaçados do planeta e inspirar milhões de pessoas a protegê-lo. O Parque das Aves, construído em meio à Mata Atlântica, compartilha seu Centro de Visitação com a floresta e todos os seus habitantes.
Por quase três décadas, o Parque das Aves viveu harmoniosamente com estes animais, utilizando de medidas detentoras para evitar a aproximação de grandes felinos.
“Pelo histórico do Parque das Aves no manejo destes animais há mais de 25 anos, não tínhamos razões para acreditar que um evento como este seria possível. Somos uma instituição baseada em ciência e, em parceria com o projeto Onças do Iguaçu, já havíamos instalado, além da cerca que está em todo arredor do Parque, outros instrumentos desenvolvidos para repelir a presença destes animais no entorno do recinto dos flamingos. São utilizadas luzes pulsantes, medida reconhecida como eficaz para manter felinos afastados. Além disso, o recinto é monitorado por câmeras de segurança e também por armadilhas fotográficas.”, comenta Paloma.
Todos os funcionários, em especial aqueles que cuidam desses animais há muitos anos, ficaram extremamente abalados.
“Foi uma surpresa. É arrasador, não consigo nem explicar o que estou sentindo. Depois de tanto tempo de trabalho, luta e carinho por esses animais: é uma situação muito triste. Até agora não estou acreditando. Acho que a gente não vai esquecer disso tão cedo.”, comenta Mário Diba, o tratador que foi responsável pelos cuidados desses animais nas últimas décadas.
A colônia de flamingos
Em 1995 a família Croukamp recebeu 16 flamingos africanos resgatados de uma salina localizada entre a África do Sul e Botswana. Devido a uma seca extrema na região, que chegou antes do término do período reprodutivo, dezenas de filhotes de flamingos haviam sido abandonados pelos casais que migraram em busca de condições melhores. Sem cuidado parental, estes filhotes viriam a óbito. Os animais foram resgatados pelo Umgeni River Bird Park, na África do Sul, e encaminhados para instituições de conservação em todo o mundo.
Os 16 animais recebidos pelo Parque encontraram aqui uma segunda chance e deram início à colônia que viveu no Parque nestes últimos 26 anos. Ao longo desses anos, o Parque desenvolveu e implementou técnicas de reprodução e bem-estar animal consideradas um caso de sucesso. Em 2001, o Parque das Aves celebrou o nascimento do primeiro filhote de flamingos na instituição. Ao todo, a colônia tinha 176 flamingos chilenos e africanos vivendo no recinto.
Medidas preventivas para o futuro e a coexistência com a biodiversidade
As medidas que o Parque das Aves vinha tomando há muitos anos, com o apoio do Projeto Onças do Iguaçu, foram efetivas por quase três décadas.
“O entorno do recinto dos flamingos tem luzes que piscam de forma intermitente, que se mostram mais eficientes do que luzes fixas para manter grandes felinos afastados. Além disso, existem no Parque das Aves armadilhas fotográficas instaladas em pontos estratégicos para monitoramento constante da fauna silvestre que circula no entorno. Até esse incidente, nunca foram registrados grandes felinos nas proximidades do recinto dos flamingos”, comenta Yara.
Apesar da tristeza, a equipe do Parque das Aves, formada por biólogos e veterinários, dentre tantos outros profissionais, reforça seu propósito de conservação da Mata Atlântica e toda a sua biodiversidade. A equipe exprime sua preocupação com a proteção às onças-pintadas, espécie ameaçada de extinção, e infelizmente já bastante incompreendida e vilificada por algumas pessoas.
Previsão de reabertura
Por conta da situação, a família Croukamp declarou luto por três dias e o Parque das Aves permanecerá fechado até quinta-feira, com previsão de reabertura na sexta-feira, dia 12/11 às 9 horas.
“A nossa equipe está em luto. A nossa maior preocupação neste momento é acolher os nossos colaboradores, muito fragilizados por tudo que aconteceu. É uma cicatriz na história do Parque das Aves. Estamos tristes, mas também confiantes que daqui pra frente nos reergueremos, como fizemos outras vezes”, comenta Anna Croukamp, fundadora do Parque das Aves.
A equipe do Parque das Aves agradece a toda a comunidade Iguaçuense e a todos os parceiros pelo carinho e acolhimento neste momento mais difícil de nossa história. Agradecemos cada mensagem de solidariedade gentilmente encaminhada para nossa equipe.
Assessoria