A reabilitação dos pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (Caps AD) em Foz do Iguaçu é feita de forma humanizada. Por meio de oficinas na instituição, como as rodas de conversa, todas as semanas pessoas que assumem o compromisso de romper com hábitos autodestrutivos, como o uso de drogas e álcool, se reúnem para compartilhar experiências e firmar novos compromissos com a mudança de vida.
Acompanhados por uma equipe multiprofissional, composta por psicólogos, assistentes sociais, terapeuta ocupacional e enfermeiros, os adictos compartilham os sentimentos em relação a gatilhos emocionais, recaídas e também contam os avanços em relação ao tratamento.
Carlos* convive com o vício há mais de 20 anos. Após três internamentos, garante que a partir de agora tenta valorizar ao máximo o estado de sobriedade e comemora a recuperação da confiança dos familiares.
“Sempre tive muita sorte, porque mesmo em meio a tantas quedas, minha família sempre esteve lá por mim. Vi várias vezes a minha mãe ajoelhada, pedindo para que Deus me livrasse do vício. Mas eu sei que isso precisa começar por mim. Moro com a minha irmã, e agora ela já me deixa ficar sozinho enquanto vai trabalhar. Não quero deixar essa oportunidade passar”, contou.
Elaine Wenzel, assistente social do Caps AD, explica que a intenção da roda de conversa, bem como a de outras oficinas em grupos, como a de prevenção a recaídas e educação em saúde, é contribuir para que o paciente recupere a autoestima e a confiança, tanto em si como nas demais pessoas. Por conta disso, a verbalização é trabalhada com frequência.
“É preciso reconhecer, antes de tudo, que a dependência se trata de uma doença. Com os grupos é possível conhecer as histórias e fazer o acompanhamento mais amplo, verificando a necessidade de cada pessoa e contribuindo para que ela tenha uma vida novamente”, afirmou.
Contar para outras pessoas que o entendem também faz a diferença para a caminhada de Fabrício*. Após passar nove meses em reabilitação na Comunidade Terapêutica Sagrada Família, parceira do Caps, retornou à instituição para continuar, onde tem a oportunidade de conversar com outros pacientes.
“Não importa quantas histórias ouvimos, sejam do passado ou presente, o fim é sempre o mesmo. Tentei culpar outras pessoas pelos meus erros, mas somente quando vi que o grande culpado por tudo era eu mesmo, tive um choque de realidade e me tratei. Meu pai era alcoólatra e sofri muito com isso. Também tenho um filho e quero fazer de tudo para romper esse ciclo e dar uma vida melhor a ele”.
“Esse tratamento humanizado e um acompanhamento de perto dos pacientes é fundamental para que eles não se sintam sozinhos e ganhem força para superar os vícios. O Caps, por meio das oficinas e outras atividades, desempenha um papel muito importante neste sentido”, afirma a secretária municipal de Saúde, Rosa Maria Jerônymo.
Oficinas práticas
Atividades práticas também são essenciais para o tratamento, afirma Elaine. Além da roda de conversa, o Caps ainda possui uma série de oficinas abertas para todos os pacientes.
Uma delas é a jardinagem, onde colocam em prática o trabalho para redução de danos. Em um espaço aberto, eles desenvolvem hábitos de cuidado e encontram uma forma de ocupar a mente.
“O grupo terapêutico de jardinagem surgiu com objetivo de plantar, esperar crescer e colher. Existe uma relação com o tratamento, em que é necessário, dia após dia, ter objetivos, projetos de vida e persistência”, afirmou Elaine.
A semana no Caps ainda inclui cursos de pintura e artesanato, música, grupos de dança, em parceria com a Fundação Cultural.
Para Paulo*, que passou 25 anos morando em ocupações pela cidade, o trabalho representa um novo momento de vida. Além do tratamento pelo Caps, também realiza acompanhamento pelos Alcoólicos Anônimos e hoje mora na Unidade de Acolhimento Adulto Transitório Sagrada Família.
“Eu quero largar todos esses vícios. Depois da minha última grave recaída, decidi nunca mais passar por isso de novo. Hoje estou morando em um bom local e recebendo muita ajuda para ter uma nova vida e aprender, quem sabe, um novo trabalho. Nunca é tarde para mudar”.
Os asteriscos (*) foram utilizados por conta do uso de nomes fictícios para os pacientes entrevistados, que preferiram não divulgar a identidade.
PMFI