A médica infectologista e professora da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila), em Foz do Iguaçu, Dra. Flávia Trench, contestou em um artigo, divulgado no sábado, 03, a reportagem do jornal Folha de São Paulo, da última sexta-feira, de que doses vencidas da vacina contra a Covid-19 da Astrazeneca tenham sido distribuídas vencidas à estados e municípios, pelo Ministério da Saúde. Entre eles, Foz do Iguaçu, que teria recebido 100 dessas doses. Leia:
Ao Ombudsman da Folha de São Paulo.
Boa noite.
Meu nome é Flávia Trench, sou médica Infectologista atuando no interior do Paraná. Passei boa parte do meu dia respondendo a mensagens de colegas, amigos, familiares e pacientes preocupados a respeito da notícia veiculada pela Folha de São Paulo no dia de hoje, alegando que lotes vencidos da vacina ASTRA ZENECA foram administrados na população em diversos locais do país.
Errar é humano, mas acho próximo do impossível ter ocorrido o que a notícia relata, já que um dos profissionais de saúde mais obcecados com lotes, validade, doses e checagens é justamente o profissional de sala de vacina, e entendo ser muito pouco prováveis doses vencidas terem sido administradas em tantos municípios diferentes. Um erro pontual, aqui ou acolá seria plausível, mas este equívoco generalizado acredito ser pouco possível.
A partir do final da tarde passo a receber notícias de diversos municípios desmentindo a notícia, mas o estrago já está feito.
Num enfrentamento a Pandemia que tem se destacado muito mais pela guerra de narrativas do que pela eficiência técnica da sua condução vem a FOLHA de SÃO PAULO e publica (a meu ver sem a investigação aprofundada que a delicadeza da situação requeria) uma matéria com este teor bombástico.
O Brasil sempre teve um PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES (PNI) extremamente efetivo – digo sem medo de errar que somos o país com maior expertise em campanhas de vacinação em massa. Tínhamos o potencial para ter sido a primeira nação no mundo a iniciar e finalizar a imunização de sua população, mas não foi o que se viu: atraso nas compras, notícias desconexas semeando insegurança para receber a vacina, algumas pessoas querendo “escolher” vacina, outros entrando na fila várias vezes e agora para jogar a pá de cal a imprensa vem e publica uma bomba dessas sem mais aquela.
Todas as atitudes que atrasam o andamento da vacinação, mantém a população em risco, facilitam a circulação viral, o aparecimento de novas variantes mais transmissíveis/agressivas e prejudicam nossa vida e a mantém a economia na descendente.
Talvez esta publicação tenha sido um dos maiores desserviços que a imprensa brasileira cometeu nesta Pandemia. Espero sinceramente que a apuração dos fatos e o eventual mea culpa tenha tanto destaque quanto a reportagem veiculada.
Ah, e por favor, que não usem a desculpa de que “consultamos fontes oficiais” porque todo mundo sabe muito bem que há um delay considerável entre a informação digitada no município e a chegada dos registros no Ministério da Saúde.
Atenciosamente.
Dra. Flávia Trench – CRM 12550-PR
Professora Assistente do Curso de Medicina da UNILA