Qual é o estudo científico utilizado pela Prefeitura de Foz do Iguaçu e pelo Governo do Paraná para sustentar a segurança das aulas presenciais? Esse foi um dos questionamentos da diretora da APP-Sindicato/Foz, Cátia Castro, durante audiência pública requerida por sindicatos da educação e promovida pela Câmara de Vereadores nesta segunda-feira, 21.
Em nome da entidade, a educadora pediu a suspensão das aulas presenciais, por conta das condições epidemiológicas de Foz do Iguaçu. Em sua explanação, Cátia afirmou que, devido à alta transmissão de covid-19, falta de vagas em unidades de tratamento intensivo e elevado número de mortes no município, não é possível reabrir as escolas neste momento.
“Se a escola fosse um lugar seguro para as crianças e adolescentes neste momento da pandemia, pais e mães não teriam que assinar um termo assumindo a responsabilidade pela volta às aulas de seus filhos”, apontou. Segundo ela, as autoridades públicas estão adotando uma postura que contraria a ciência ao reabrirem os estabelecimentos de ensino.
“No contexto em que estamos, com a pandemia fora descontrole e a vacinação longe de chegar à maioria da população, voltar às aulas é expor a vida de educadores e estudantes”, enfatizou Cátia Castro. “O prefeito, governador e todos que estão avalizando esse retorno serão responsabilizados”, completou.
A dirigente sindical criticou duramente a ausência da chefia do Núcleo Regional da Educação de Foz do Iguaçu (NRE) na audiência da Câmara Municipal. “A chefe do Núcleo, Silvana Garcia, age pela volta às aulas em todos os colégios, mas se esconde em seu gabinete para não vir dialogar com a comunidade e assumir a sua responsabilidade”, frisou Cátia.
A representante da APP-Sindicato/Foz instou os vereadores de Foz do Iguaçu a intercederem politicamente junto ao prefeito Chico Brasileiro (PSD) e à gestão estadual pela suspensão das aulas. “Os colégios estaduais não têm estrutura, nem mesmo ventilam adequadamente. Faltam servidores. Recebemos máscaras de pano, sequer obtivemos um modelo com recomendação técnica”, denunciou.
Sobrecarga dos educadores
O professor Gilberto Calil, doutor em História e integrante da Adunioeste (Sindicato de Docentes da Unioeste), destacou que a categoria está sob desgaste físico e emocional intenso, sendo o segmento que mais quer a volta às aulas. “Estamos com sobrecarga de trabalho e custos econômicos adicionais para trabalhar. A perspectiva de todos nós é a de retornar às salas, mas isso tem que ocorrer com segurança”, ponderou.
O docente, que participa de um grupo de pesquisa e monitoramento da covid-19, criticou o elevado número de mortes pela doença em Foz do Iguaçu, no estado e no país. “Esse cenário é fruto de opções políticas, é resultado direto das decisões que foram tomadas. É preciso avançar com a vacinação, em associação a medidas rigorosas de contenção”, defendeu Gilberto.
Restrições rígidas e não volta às aulas
Com transmissão comunitária de covid-19, Foz do Iguaçu não deve permitir a volta às aulas presenciais, sob risco de acelerar o número de casos e de mortes pela doença, bem como de provocar o colapso do sistema de saúde. A orientação é do cientista Lucas Ferrante, feita durante audiência pública realizada pela Câmara de Vereadores.
“Há consenso entre cientistas, por meio de artigos nas principais publicações de ciência do mundo, de que localidades com transmissão comunitária não devem voltar às aulas presenciais”, ressaltou. Segundo ele, a situação de Foz do Iguaçu requer a adoção de medidas restritivas rígidas, sem retorno às atividades em sala, para não aumentar a circulação viral.
Com base nos dados epidemiológicos do município, Lucas Ferrante questionou na audiência os argumentos usados por representantes do poder público. “Temos que considerar o que diz a ciência, o que é comprovado e embasado. Não podemos tentar mascarar o cenário, criando uma situação ilusória, colocando a comunidade em risco”, disse Lucas.
Conforme o cientista, não existe protocolo seguro, e as aulas presenciais só deveriam voltar a ocorrer com vacinação em massa, com a segunda dose para grande parte da população – entre 85% e 95% –, e não apenas a profissionais da educação. “É necessário lockdown de 21 dias para impedir o aumento do colapso hospitalar, de óbitos e pessoas com sequelas”, recomendou.
O epidemiologista é autor de artigos publicados na Nature e Science, principais revistas científicas internacionais. Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Lucas Ferrante participou de estudos que previram e alertaram sobre a segunda onda de covid-19 em Manaus (AM). Atualmente faz o monitoramento da pandemia em dez cidades do Paraná.
(APP-Sindicato/Foz)