Um estudo inédito, com participação de pesquisadores da Itaipu Binacional e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pretende auxiliar na construção de protocolos para o abate humanitário de peixes. Esse tipo de protocolo já existe na cadeia produtiva de aves, bovinos e suínos, mas ainda não na piscicultura.
Conforme o engenheiro agrônomo André Watanabe, da Divisão de Reservatório da Itaipu, o abate humanitário nessas cadeias produtivas utiliza eletrochoques para sedar os animais antes do abate propriamente dito. Com peixes, utiliza-se gelo, processo que é bem mais demorado e não elimina o sofrimento do animal.
“O uso da eletricidade permite processo de atordoamento mais rápido e econômico”, explica Watanabe. “E também resulta em uma carne de melhor qualidade. Porém, o emprego dessa técnica para os peixes requer mais estudos. Há uma grande variação na eficiência de atordoamento em função das características de cada espécie, como o tamanho, por exemplo. Para cada espécie poderá existir um procedimento específico”, acrescenta.
Para estabelecer esses protocolos, o Laboratório de Bem-estar Animal (Labea), da UFPR, firmou uma parceria técnica com a Itaipu, que consistiu no uso de equipamentos de pesca elétrica, importados pela Itaipu para a captura com fins de monitoramento e estudos desenvolvidos sobre espécies nativas do Rio Paraná. Atualmente, a equipe possui um sistema específico para aplicação na piscicultura.
A parceria resultou no artigo científico “Electrical stunning in South American catfish (Rhamdia quelen) using current waveform: welfare and meat quality”, que acaba de ser publicado na revista Ciência Rural e que, além de Watanabe, também é assinado por Daniel Santiago Rucinque, Andrea Gomes Chalbaud Biscaia, Carla Forte Maiolino Molento, todos do Labea/UFPR. Em 2018, essa mesma equipe produziu publicação similiar para o pacu, na revista Aquaculture, intitulado “Electrical stunning in pacu (Piaractus mesopotamicus) using direct current waveform”
Os estudos utilizaram 140 peixes das espécies jundiá e pacu, distribuídos em dois grupos. Para um, foi utilizado como protocolo um choque de 125 Volts, 30 Hertz, ciclo de trabalho de 90% e 1,3 Ampere por 30 segundos. Para o outro, a sedação foi realizada com 400 V, 30 Hz, ciclo de 27% e 0,9 A por 30 s. O estudo em específico atestou a eficiência de sedação em 100% dos animais no grupo de 400 V.
“Esses testes realizados com o pacu e o jundiá são inéditos e certamente serão referência para estudos e futura publicação normativa a respeito desse método para a indústria de pescado, o que é bastante importante para a região Oeste do Paraná, onde se encontra um dos principais polos de cultivo de peixes do País”, garante Watanabe.
“Os resultados em pacu e jundiá podem subsidiar novas pesquisas e estimular a atualização da normativa de abate humanitário, na qual os peixes não estão contemplados. Assim como os outros animais, os peixes podem sentir dor, e o consumidor está cada dia mais preocupado com o bem-estar dos animais”, comenta Daniel Santiago Rucinque.
Fotos do André Watanabe, crédito: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional.
Demais imagens da pesca elétrica: captura de vídeo realizada pelos pesquisadores.