Em discurso de despedida do cargo de diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, o general Joaquim Silva e Luna, aplaudido de pé por várias vezes, fez um rápido balanço da gestão, nesta quarta-feira, 7, e contou que a economia de recursos com as ações de austeridade adotadas foi “devolvida aos consumidores brasileiros” na forma de “legados inquestionáveis”, por orientação do presidente Jair Bolsonaro. Como não houve consenso binacional para reduzir a tarifa de Itaipu, explicou, a empresa alinhou ações com os governos federal, estadual e municipais, para investir em obras de infraestrutura, saneamento e segurança pública.
O discurso de despedida foi durante a solenidade em que transmitiu o cargo ao ex-colega de turma no Exército e seu amigo general João Francisco Ferreira, com a presença do presidente Jair Bolsonaro. Silva e Luna explicou que a prioridade em sua gestão foi cortar custos e gastos para preparar a margem brasileira para 2023, quando a usina estará sem dívidas e poderá praticar tarifas sem esse ônus. Até lá, o agora ex-diretor-geral brasileiro entendeu que é preciso continuar com uma política de austeridade, para que a usina esteja “preparada para atuar, em diferentes cenários, dentro de um mercado de energia elétrica complexo, dinâmico e competitivo”.
O ex-diretor-geral brasileiro enumerou as ações principais desenvolvidas nesse sentido, em termos de gestão: centralização de toda a empresa em Foz do Iguaçu; fim dos convênios e patrocínios que não tinham aderência à missão de Itaipu; unificação das estruturas replicadas; encurtamento e informatização dos processos decisórios; redução dos custos operacionais; envolvimento de todos os níveis de direção com a governança.
E ainda: “Fizemos um contrato da potência da Itaipu por longo prazo (2019-2022), coisa que nunca tinha sido feito antes, dando assim previsibilidade orçamentária à Empresa; prosseguimos com o processo de Atualização Tecnológica da Usina – nossa galinha dos ovos de ouro; e passamos a preparar Itaipu para 2023”.
A política de austeridade deixou Itaipu com mais recursos, o que permitiria baixar a tarifa de comercialização no mercado brasileiro de eletricidade, mas, para isso, seria preciso um consenso binacional. Como isso não foi possível, Silva e Luna atendeu à orientação do presidente e estabeleceu o financiamento de uma série de obras fundamentais para o desenvolvimento regional, todas antigos sonhos da comunidade de fronteira e do Oeste do Paraná.
Entre essas obras, estão a ampliação da pista de pouso e decolagem do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu, inaugurada nesta quarta-feira pelo presidente Bolsonaro, governador Ratinho Jr. e outras autoridades. Estão ou vão entrar em obras a Ponte da Integração Brasil-Paraguai, a Perimetral Leste, o mercado municipal de Foz, os contornos de Guaíra e de Cascavel e a conclusão da Estrada da Boiadeira, no Noroeste do Estado, para citar algumas das mais importantes.
O general lembrou que Itaipu começou a entrar na “fase de entrega” das obras, mas que sai da empresa “sem ter conquistado essa cortejada satisfação do dever cumprido”, por ter sido convocado pelo presidente Bolsonaro “para uma nova, honrosa e desafiadora missão”, disse, referindo-se à presidência da Petrobras”. Emocionado, disse ainda: “Mas saio agradecido, sereno e confiante, por entregar a Direção Geral Brasileira da Itaipu em mãos mais bem preparadas que as minhas, que certamente melhor conduzirão, em harmonia com a Direção Geral Paraguaia, os destinos da nossa Binacional.”
Leia a íntegra do discurso de Silva e Luna
Sr. presidente, há pouco mais de dois anos, o Sr. – em ligação com o ministro Bento Albuquerque – me nomeou diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, a maior produtora de energia hidrelétrica do mundo.
A diretriz que o Sr. me deu foi simples, clara e objetiva:
– “Silva e Luna, você sabe o motivo pelo qual eu fui eleito presidente da República. Siga em frente!”
Fizemos isso, Sr. presidente, seguimos em frente.
Iniciamos o cumprimento da missão sabendo que teríamos que realizar “mudanças necessárias”. Por que necessárias?
– Porque dentro de quatro anos (dois já se foram) a Empresa passará pelo processo de revisão do Anexo C, que trata das bases financeiras e da prestação dos serviços de eletricidade do Tratado de Itaipu;
– Porque em 2023 a dívida contraída para a construção da usina estará paga, desonerando Itaipu desse compromisso, passando sua energia elétrica a ter um custo muito mais baixo;
– Porque, até lá, Itaipu deverá estar preparada para atuar, em diferentes cenários, dentro de um mercado de energia elétrica complexo, dinâmico e competitivo.
E todos os cenários estudados apontavam e apontam para a necessidade de diminuição das despesas na produção de energia.
Para isso construímos, passo a passo, uma equipe forte e coesa, criamos uma série de oportunidades de conversar com todos os empregados, com uma narrativa simples, apoiada no exemplo, e capaz de gerar entendimento, confiança e comprometimento.
Definimos que a maior distância entre qualquer empregado e a Diretoria seria a de um aperto de mãos. Estabelecemos uma política de austeridade traduzida em: “apaguem as luzes e fechem as torneiras”.
Identificamos nossos empregados como um ativo prioritário e não como despesa. Escrevemos nosso código de conduta com as nossas ações. E mantivemos como norteador de todos os nossos atos o Art. 37 da Constituição Federal, que chamamos de LIMPE.
Em termos de gestão:
– Centralizamos toda a empresa em Foz do Iguaçu.
– Encerramos todos os convênios e patrocínios que não tinham aderência à missão de Itaipu.
– Unificamos as estruturas replicadas.
– Encurtamos e informatizamos os processos decisórios.
– Reduzimos os custos operacionais da Empresa.
– Envolvemos todos os níveis de direção com a governança.
– Fizemos um contrato da potência da Itaipu por longo prazo (2019-2022), coisa que nunca tinha sido feito antes, dando assim previsibilidade orçamentária à Empresa.
– Prosseguimos com o processo de Atualização Tecnológica da Usina – nossa galinha dos ovos de ouro.
– E passamos a preparar Itaipu para 2023.
A partir das economias que fizemos, já que não foi possível reduzir a tarifa de energia, por falta de consenso binacional, e seguindo orientação do Senhor, presidente Bolsonaro, devolvemos ao consumidor o que foi economizado.
Isso foi materializado por meio de legados inquestionáveis, alinhando todas as nossas ações com os governos Federal, Estadual e municipais, nas áreas de infraestrutura, saneamento e segurança pública, como pontes, aeroportos, estradas, hospitais, sistemas de linhas de transmissão de energia elétrica – entre outros.
Os investimentos já somam um valor que supera R$ 2,5 bi, tudo em conformidade com a missão de Itaipu de gerar energia elétrica de qualidade, com responsabilidade social e ambiental, contribuindo com o desenvolvimento sustentável no Brasil e no Paraguai.
E estamos na fase das entregas, Sr. presidente, sendo a principal delas a de gerar mais 75 milhões de MWh de energia elétrica por ano, que corresponde a mais de 12% de toda a demanda de energia elétrica do Brasil e mais de 90% da demanda do Paraguai.
Temos ações aderentes a 15 ministérios do Governo Federal, que já somam mais de 500 Convênios, Contratos, Patrocínios e Auxílios Eventuais, incluindo-se os de reponsabilidade social para mitigar os efeitos da pandemia. Todas com total transparência e visibilidade.
Bem, em homenagem à concisão, difícil num momento como este, preciso começar a agradecer para concluir.
Começo afirmando que este é um momento de emoção que eu gostaria de adiar. Uma despedida, mesmo esperada, sempre nos pega desprevenidos. Mas, como o governador Ratinho Júnior disse que estava apenas me emprestando, troco “despedida” por “até breve”.
Como todos sabem, saio da Itaipu por ter sido convocado para uma nova, honrosa e desafiadora missão. Sobre Itaipu, tenho consciência de que muito ainda está por fazer. Saio, portanto, sem ter conquistado essa cortejada satisfação do dever cumprido. Mas saio agradecido, sereno e confiante por entregar a Direção Geral Brasileira da Itaipu em mãos mais bem preparadas que as minhas, que certamente melhor conduzirão, em harmonia com a Direção Geral Paraguaia, os destinos da nossa Binacional.
Que os olhares se voltem para o general João Francisco Ferreira, companheiro de turma e amigo de tantas outras jornadas, a quem hipoteco minha total confiança e votos de pleno êxito no honroso cargo, acompanhado de sua querida família. “Suerte, amigo!”
Esses dois anos voaram!
Nesse período, usei o crachá vermelho da Itaipu, sentindo que ele me emprestava uma espécie de elegância moral.
Sou o 12o diretor-geral brasileiro, desde o general Costa Cavalcanti, a passar o cargo. Vamos aos agradecimentos.
Agradeço inicialmente ao Sr. presidente Jair Bolsonaro pelas demonstrações de apreço com que sempre nos distinguiu. Por ter acompanhado de perto os trabalhos da nossa Itaipu, motivando a todos nós com sua presença e liderança inspiradoras. E ainda por ter, recentemente, me indicado para presidir a Petrobras. Obrigado, Sr. presidente, pela confiança! Hipotecarei o melhor das minhas energias (limpa e renovável) no sentido de bem cumprir essa nova missão.
Agradeço a todos os nossos ministérios de Estado o convívio enriquecedor e fraterno e o apoio inconteste recebidos. Destaco o MME, no nome do ministro Bento Albuquerque, pelo direcionamento estratégico da Empresa; o MRE, no nome do chanceler Carlos Alberto França, no zelo pela nossa binacionalidade; e o Ministério da Infraestrutura, no nome do Ministro Tarcísio, no apoio aos nossos projetos.
Agradeço ao Sr. governador Ratinho Júnior, uma liderança carismática, reconhecida, dinâmica, despojada, presente e amiga, que uniu a ele todo o Estado do Paraná a nos apoiar.
Agradeço aos prefeitos dos 56 Municípios da AMOP e Lindeiros, onde se inclui Foz do Iguaçu, nossa sede – Obrigado, prefeito Chico Brasileiro! -; às associações representantes da sociedade civil, às universidades e às cooperativas.
Agradeço aos integrantes do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, das funções essenciais à Justiça, das autoridades religiosas (Dom Sérgio e padre Clodoaldo), dos órgãos de segurança e das nossas Forças Armadas, que responderam sempre de maneira construtiva nossas demandas institucionais.
O trabalho conjunto que desenvolvemos e os princípios éticos que nortearam nosso caminhar, além de entregar resultados em benefício da nossa gente, concederam-me motivação permanente, fortaleza interior e diuturna alegria.
À Itaipu Margem Paraguaia, agradeço a todos, por intermédio dos ex-diretores gerais senador José Alderete, ministro Ernest Bergen, embaixador Frederico González e o atual, embaixador Manuel Cáceres, pela busca permanente de convergência, construção de consensos, imprescindível apoio e fraterna amizade.
À Itaipu Margem Brasileira é mais difícil o agradecimento e a despedida. Nela vivemos intensamente esses dois anos fora da zona de conforto, sem receita de bolo, e que nos impuseram muita resiliência e ousadia, aliada à imaginação.
Destaco a compreensão e o exaustivo trabalho de todos, a começar pelo nosso Conselho de Administração, com a orientação e o apoio dos conselheiros ministro Bento Albuquerque, diga-se de passagem, uma liderança que se impõe pela serenidade e firmeza; do embaixador Pedro Miguel, um diplomata vocacionado; dos conselheiros Marum, Célio, Aleluia e Wilson, especialistas em suas áreas específicas; e do nosso representante do MRE, o secretário-geral embaixador Brandelli, amigo solidário de todas as horas. Incluo, nesse contexto, o embaixador do Brasil no Paraguai, Flávio Damico.
Da nossa Diretoria Executiva, agradeço ao Dr. Torino, Dra. Mariana, almirante Risdem, general Carbonell e almirante Paulo Roberto; e das nossas Fundações, ao general Garrido, Dra. Andrea e Dr. Fernando, amigos incansáveis de lutas diárias.
Dos nossos outros três níveis de Direção – superintendentes, chefes de Departamentos e chefes de Divisão – que alinharam conosco seus esforços, juntamente com todos os nossos empregados, agradeço por transformarem resistências em adesões e posteriormente em mudanças e resultados.
Nesses dois anos, construímos um time imbatível. Tornamo-nos um grupo de amigos. Sabemos mais uns dos outros. Estamos mais juntos. Somos mais solidários. E se o principal objetivo de uma missão é unir as pessoas, esse nós alcançamos. E é exatamente por isso que se torna complicado, agora, dizer “até breve”. Digamos então que nada se perderá, pelo menos de dentro de nós. Muito obrigado a cada um e a todos.
Agradeço aos conterrâneos do Estado do Paraná, especialmente aos iguaçuenses, que me acolheram e me adotaram com especial carinho.
Aos meus familiares, agradeço por terem me apoiado em tudo, mesmo a distância, sem reservas de compreensão.
Agradeço a Deus por continuar acordando mais cedo, todos os dias, para ouvir minhas orações, e por manter sua mão invisível me guiando até aqui. Desculpe-me, Senhor, mas vou continuar precisando da Sua mão estendida na nova missão.
Por fim, agradeço a todos que homenageiam o general Ferreira, a Tânia e toda família com suas honrosas presenças.
Muito obrigado.
Foz do Iguaçu, 07 de abril de 2021.
General de Exército (Res) Joaquim Silva e Luna
Assessoria