Foz do Iguaçu voltou a bater recorde de casos confirmados de Covid-19 em uma única semana. Entre domingo, dia 15 de novembro, e sábado, 21 de novembro, foram confirmados 1045 casos da doença. Somente no sábado, 21, foram confirmados 229 casos, igualando o pior dia desde o início da pandemia que foi na quarta-feira, 11 de novembro, quando também foram confirmados 229 casos.
Desde o início da pandemia, em março, essa foi a primeira vez que a cidade ultrapassou mil casos em uma única semana, superando o maior registro, também em novembro, que foi de 912 casos. Durante o mesmo período a cidade registrou nove mortes. O total de recuperados na mesma semana foi de 912 pessoas.
Domingo (15) – 117
Segunda-feira (16) – 58
Terça-feira (17) – 192 (1 óbito)
Quarta-feira (18) – 151 (3 óbitos)
Quinta-feira (19) – 149 (2 óbitos)
Sexta-feira (20) – 149 (2 óbitos)
Sábado (21) – 229 (1 óbito)
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Índice atinge 74,4 na proporção de novos casos de Covid-19 por dia, a cada 100 mil habitantes em novembro
Os números do mês de novembro acendem um sinal de alerta aos moradores de Foz do Iguaçu. Um gráfico comparativo do município em relação a algumas capitais brasileiras retrata que no último dia 17, por exemplo, na proporção de novos casos por dia a cada 100 mil habitantes, Foz do Iguaçu alcançou uma incidência de 74,4, enquanto duas das capitais mais populosas do Brasil – São Paulo e Rio de Janeiro – obtiveram índice de 19,7 e 9, respectivamente. Na mesma data, Curitiba apresentou uma taxa de 45,5 e Belo Horizonte chegou a 12 novos casos, a cada 100 mil habitantes.
A bióloga e professora da UNILA Elaine Soares, responsável pela elaboração desse primeiro gráfico, evidencia que, se neste mês de novembro o aumento do número de casos nas grandes cidades tem chamado atenção, em Foz do Iguaçu não é diferente. O município, com cerca de 258 mil habitantes, apresenta uma alta no índice de infectados, que também acompanha uma curva crescente na velocidade de transmissão, sobretudo em novembro. Com base no cálculo de dias que se leva para atingir mil casos, Foz do Iguaçu demorou 20 dias para passar de 7 para 8 mil casos, e apenas oito dias para, a partir de 10 mil casos, atingir o patamar de 11 mil – intervalos que podem ser vistos no gráfico 2.
Com relação ao aumento de casos ativos, que também pode ser visualizado no gráfico 2, vale uma ressalva de que houve uma mudança de metodologia de registro no dia 27 de julho. “Assim, o número de casos ativos também foi reduzido pela mudança de metodologia, e o cenário atual não pode ser imediatamente comparado com o do final de julho”, explica Soares.
Feriados
Ela aponta, também, para o fato de ter encontrado um padrão que sinaliza uma tendência de curva crescente de casos após feriados (ver gráfico 3). “Percebe-se que houve um aumento no número de casos após aproximadamente 10 dias do feriado”, analisa a docente. Ainda segundo Elaine Soares, esse padrão encontrado é correlativo. “Não dá para ser taxativo de que o aumento é efeito do feriado. Mas, pela comparação, parece [que sim]”, complementa.
Exaustão da pandemia
Para a médica infectologista e professora da UNILA Flávia Trench, esse aumento é reflexo de um momento atual não só em Foz do Iguaçu, como também em outras cidades, onde há um retorno de aglomerações em decorrência do que ela chama de “exaustão da pandemia”. “Ninguém mais aguenta o atual estado das coisas, o isolamento e o distanciamento. Estão arriscando a saúde física por uma ilusão de normalidade. Por isso estão saindo”, aponta. E complementa: “minha dica é que cada um avalie seus riscos e dos que estão ao seu redor, e use medidas preventivas ao circular. E nós, da Saúde, devemos nos preparar para seguir trabalhando muito e majorar a capacidade de leitos instalados”, afirma.
Taxa de óbitos por faixa etária
A médica Flávia Trench chama atenção para dados que podem ajudar a avaliar os riscos, como a taxa de óbitos por faixa etária. Com base no dia 6 de novembro, quando Foz do Iguaçu atingiu 10 mil casos de infectados pelo novo coronavírus, dados mostram que a faixa etária com maior risco de morte, até aquela data, era de pessoas com mais de 80 anos (26,22% de letalidade) e entre 70 e 79 anos (19,32% de letalidade. Na avaliação de riscos, vale reforçar que as medidas preventivas incluem um conjunto das propaladas ações, como uso correto de máscaras, higienização das mãos e distanciamento social, evitando-se, principalmente, locais fechados e aglomerações.
Com relação à ocupação de leitos em Foz do Iguaçu, a professora Elaine Soares destaca a tendência de aumento da taxa de ocupação dos leitos exclusivos para pacientes com Covid-19 que, em novembro, está próximo de 80%, mesmo com a adição de 14 novos leitos, o que é considerado estado de emergência. “É importante que a população mantenha-se informada sobre os dados da cidade, especialmente os relacionados à ocupação de leitos, e mantenha os cuidados para ajudar a reduzir a circulação do vírus”, alerta.
Testagem e mutação do vírus
O aumento no número de infectados pelo novo coronavírus em Foz do Iguaçu também pode estar relacionado ao alto índice de testagem que ocorre na cidade. Já foram quase 36 mil amostras submetidas ao exame RT-PCR, como aponta a professora da UNILA Maria Leandra Terencio, coordenadora da equipe que realiza os exames no Laboratório de Biologia Molecular, montado no Hospital Municipal, em parceria com a Universidade.
“Em outubro e novembro, as coletas aumentaram absurdamente, uma média de 400 até 500 amostras por dia. Muito do que temos visto, do aumento de casos positivos, também está relacionado a um número maior de coletas”, afirma Maria Leandra. Além de atuar na testagem, ela – junto com a também docente da UNILA Maria Cláudia Gross – está na fase de levantamento de dados orçamentários dos reagentes necessários, para realizar um projeto de sequenciamento de algumas amostras de pacientes de Foz do Iguaçu e, assim, identificar qual cepa viral está circulando no município.
“Esse dado é importante porque nos permite identificar a origem dessas cepas, de onde elas vieram, e também analisar a questão de virulência delas, do poder de infecção, se elas têm a mesma potência na infecção e no adoecimento dos pacientes. Seria um estudo populacional genético das cepas virais, para tentar entender e compreender não só a estrutura viral, mas também o impacto que ela causa na patogenicidade”, explica Maria Leandra.
Dados iniciais
Segundo Kelvinson Viana, docente do curso de Biotecnologia da UNILA e pesquisador em Bioengenharia para o desenvolvimento de vacinas, é preciso analisar com cuidado a associação entre o aumento do número de casos de Covid-19 com as mutações virais. “Ainda não há evidências de que qualquer uma das mutações que foram observadas no Sars-Cov-2 tenha afetado a transmissibilidade viral ou a doença em humanos. Em algum momento isso poderá ocorrer, é uma probabilidade, mas, ao menos por enquanto, não é o que temos observado”, esclarece.
Para estudos vacinais, em parceria com o Centro de Medicina Tropical da Tríplice Fronteira, Viana solicitou o sequenciamento de amostras isoladas de pacientes do Hospital Municipal de Foz do Iguaçu, para saber as variantes do vírus presentes na cidade. “Ainda não temos conhecimento de quais são as variantes do novo coronavírus que circulam em Foz. Isso será respondido por diferentes grupos de pesquisa de instituições da cidade, inclusive por um trabalho mais amplo que será conduzido pelas professoras Maria Cláudia e Maria Leandra. No entanto, já sabemos que uma das cepas é a chamada B1.1, uma das mais prevalentes no Brasil e em outros países”, explica.
Kelvinson Viana, assim como os demais docentes ouvidos nesta reportagem, acredita que o aumento do número de casos em Foz do Iguaçu deve-se, sobretudo, ao não cumprimento, de forma correta, das medidas para evitar os contágios, a exemplo do distanciamento e isolamento social. “Seja por necessidade de trabalho, seja por questões de saúde mental ou outros fatores, mas a realidade é que não existe mais isolamento, então é mais que natural a ocorrência deste aumento do número de casos. Isso não é uma surpresa”, conclui.
Com assessoria Unila