A população iguaçuense se preparou mais uma vez para escolher os futuros representantes dos poderes legislativo e executivo municipal. No dia 15 de novembro de 2020, feriado da Proclamação da República Federativa do Brasil, nós tivemos sob nossa responsabilidade a decisão de “aprovar” ou “reprovar” as candidaturas que se apresentaram enquanto postulantes aos cargos de vereador/a e prefeito/a.
Entretanto, com o fim do processo eleitoral em nossa cidade, uma questão ainda se faz latente: o que representou para a população esta campanha eleitoral?
Para começar a análise sobre o processo eleitoral em Foz do Iguaçu, é preciso dizer que a perspectiva enunciativa é de uma trabalhadora da educação pública municipal, militante feminista classista. Assim, justifico que não serei branda na crítica dos programas de governo e propostas apresentadas pelos candidatos ao executivo e ao legislativo.
O primeiro elemento de análise diz respeito a campanha eleitoral apresentada nos veículos de comunicação. Foi uma campanha sofrível para a população! Sem exceção, os candidatos a prefeito estiveram mais ocupados em apresentar uma campanha de ataque aos adversários e foram incapazes de apresentar soluções concretas aos problemas da cidade, aos problemas que a classe trabalhadora enfrenta há muitos anos.
É importante ressaltar também que a campanha eleitoral de 2020 foi destinada a inflar o ego de candidato X e Y, por ser mais bolsonarista do que outros. Um total desrespeito com o eleitor e com o cidadão que amarga os efeitos da crise sistêmica do capitalismo/neoliberalismo privatista dos governos de Jair Bolsonaro e do Ratinho, além, é claro, dos efeitos devastadores da pandemia da Covid-19, que está fora de controle em nossa cidade.
Outro importante ponto a destacar é a inexistência de candidatos que representaram um programa de transformação radical de nossa sociedade. A grande maioria dos candidatos representaram a continuidade e manutenção da ordem política vigente. Dois dos nove candidatos apresentaram programas com um amplo viés reformista e de conciliação de classe entre trabalhadores explorados e de grandes empresários que lucraram, e muito, com a pandemia. Além disso, observa-se que a política institucional é a profissão aspirada pelos postulantes ao executivo municipal, caso explícito de candidaturas iniciantes.
Outro fator bastante evidente nesta campanha eleitoral foi o total despreparo da imensa maioria dos candidatos. Um verdadeiro show de desconhecimento sobre o funcionamento dos serviços públicos, das formas de financiamento público e do orçamento público. Além disso, os candidatos preferiram omitir da população que o próximo período será bastante dificultoso para investimento nos serviços públicos do município, pois a Emenda Constitucional 95 impõe um ajuste fiscal rigorosíssimo pelos próximos 20 anos a toda esfera administrativa do Estado brasileiro.
Isto é, a população que hoje deseja a melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS), da Educação Pública e de outros serviços essenciais não poderá contar com as falsas promessas firmadas pelos candidatos durante a campanha de rádio, televisão e nas mídias sociais. Além disso, qualquer um dos candidatos que vença esta eleição, já está comprometido com o governo federal a fazer a Reforma Administrativa dos serviços públicos municipais assim que a Reforma for tramitada e aprovada pelo Congresso Nacional – e isso, na prática, impossibilita o acesso da população aos serviços públicos que são garantidos pela esfera municipal.
Outra questão que deve ser apontada são as eleições para o legislativo municipal que são importantíssimas para os candidatos que concorrem à prefeitura. A composição da Câmara é que determinará se o futuro prefeito conseguirá por em prática seu plano de governo. Tal qual aos candidatos à prefeitura, a imensa maioria dos candidatos e candidatas a vereança não representaram um novo programa eleitoral – a essência autoritária, de defesa pela esfera moralizante, de defesa pelo “cidadão de bem”, pelo Estado “fio dental” e de ataques ao ensino público foi o discurso evidente na maioria esmagadora dos candidatos.
Ou seja, o iguaçuense poderá enfrentar mais quatro anos de vexames e humilhações em cenário nacional com as candidaturas que se apresentaram como alternativa a atual composição da casa legislativa. As pouquíssimas candidaturas que expressam um perfil de transformação e renovação política precisam lidar com o jogo sujo dos “barões” da cidade. Uma verdadeira tragédia histórica e uma farsa construída com o argumento de representação eleitoral.
Por fim, não é possível festejar a democracia como afirma a justiça eleitoral. Nós trabalhadores e trabalhadoras de Foz do Iguaçu temos a certeza de que grande parte dos candidatos eleitos, vereador, vereadora, prefeito ou prefeita, não representam um projeto de transformação de nossa realidade e muito menos serão gestores comprometidos em superar a crise do capital que assola a classe trabalhadora. Se quisermos manter os poucos direitos que ainda temos, teremos nós o dever de dizer não à eleição burguesa!
* A análise é de Nataly Lemes Valdez, professora da rede pública de ensino municipal, e não representa necessariamente a opinião da Rádio Cultura.