O empenho de professores e diretores dos colégios estaduais de todo o Paraná tem sido essencial para que os estudantes mantenham o vínculo com a escola e a rotina de estudos durante a pandemia. Na fronteira do Brasil e Paraguai o esforço se torna ainda mais importante. A fronteira entre os dois países fechou na metade de março e, mesmo com a reabertura parcial nesta semana, a situação continua afetando a vida de muitos estudantes brasileiros e paraguaios que estão matriculados em escolas da rede estadual, já que as aulas presenciais não foram retomadas.
De maneira geral, os chamados “brasiguaios” (brasileiros que residem no território paraguaio) já lidam diariamente com questões como o fuso horário – o relógio no país vizinho está uma hora atrasado em relação ao do Brasil – e o trânsito de travessia da fronteira. Ainda há a diferença de qualidade entre os sistemas públicos brasileiro e o paraguaio.
Um aluno matriculado na rede pública do Paraguai tem o curso curricular da língua Guarani, por exemplo, e não tem o ensino do Português. Muitos desses fatores fazem com que famílias optem por matricular os filhos em escolas brasileiras, mesmo que isso represente um esforço maior. Para ingressar na rede estadual paranaense de ensino não há restrição para estrangeiros.
NACIONALIDADES
O Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, em Foz do Iguaçu, conta com cerca de 30 estudantes que cruzam a fronteira todos os dias para estudar, 22 deles brasileiros e oito paraguaios. “A rotina deles é normal, pois na escola temos muitos outros alunos que são paraguaios, árabes e libaneses, mas que já moram no Brasil. Temos um bom convívio social e de muito respeito entre eles. Alguns alunos paraguaios têm um pouco de dificuldade com o português no primeiro ano no colégio, mas aprendem rápido”, disse Maycon Alves Rodriguez, diretor da escola.
FORÇA-TAREFA
Por conta da pandemia, esse grupo de estudantes conta com o trabalho dos professores para enviar o material pelas redes sociais e auxiliá-los por grupos de whatsapp e com ligações, uma vez que o acesso ao aplicativo Aula Paraná não é possível do lado de lá da fronteira.
A Secretaria de Estado da Educação e do Esporte fornece pacotes de internet 3G e 4G em parceria com as quatro maiores operadoras de telefonia do Paraná (Claro, Oi, Vivo e Tim). Assim, alunos e professores de todo o Paraná podem acessar gratuitamente os aplicativos Aula Paraná e Google Classroom, em território nacional. “Entretanto, a maioria desses alunos não conseguiu baixar o aplicativo e lá eles não têm acesso às aulas pela televisão, então acessam pelo Youtube”, explica o diretor.
“Nós enviamos para todos esses alunos, via e-mail, as atividades que os professores mandam para imprimir. Os alunos imprimem, realizam os exercícios e mandam de volta aos professores para correção”, explica Rodriguez.
PREFERÊNCIA
A estudante Alana Ibarra, do Colégio Costa e Silva, vive em Cidade do Leste e teve dificuldades no começo da pandemia para acompanhar todo o conteúdo. “Antes do isolamento costumava ser bem legal acordar cedo, ir para a escola e conviver com amigos e professores. Desde que começou a pandemia, tem sido complicado por não ter os professores presentes, mas com o tempo eu consegui realizar tudo que foi pedido”, disse, reforçando que conta com a ajuda dos pais, presencialmente, e dos professores pelas redes sociais.
O pai de Amanda, Paulo Ibarra, conta que matriculou a filha no Brasil pela qualidade do ensino paranaense e pela facilidade que a filha terá para ingressar em uma faculdade brasileira no futuro.
Jean Carlos dos Santos Fabris tem 14 anos e também é aluno do Costa e Silva. Ele está aproveitando a quarentena para desenvolver pesquisas por conta própria. O estudante tem auxílio dos professores da escola nos trabalhos. “Nós não temos acesso às aulas na TV e nem pelo aplicativo aqui no Paraguai. O jeito é procurar na internet e livros didáticos, e os professores mandam bastante material por e-mail.”
O diretor do colégio destaca que as redes sociais têm sido o grande diferencial. “Tivemos muita dificuldade para entrar em contato com esses alunos, mas através das mídias sociais e com a rede toda de estudantes conseguimos interagir com todos,” afirma.
Para os alunos do Colégio Agrícola Estadual Manoel Moreira Pena, também em Foz do Iguaçu, a rotina está ainda mais intensa. Os estudantes têm uma grade recheada de aulas práticas que foram impactadas diretamente pela pandemia.
“Tem sido bem difícil porque estamos fazendo tudo o que já faríamos, mas em menos tempo. Fazemos as atividades do Google Classroom e também a parte prática que os professores mandam por e-mail ou whatsapp”, descreve Bruna Colossi, 16 anos, que também reside em Cidade do Leste, a 120 quilômetros da fronteira. “Eu assisto às aulas pela internet, mas o único problema é que não tenho o sinal brasileiro para acessar o aplicativo, então, preciso usar o celular de parentes e aproveitar o que os professores mandam.”
A mãe de Bruna, Meri Colossi, explica que a parte prática tem exigido bastante dos estudantes. “Nossa preocupação era o tanto de matérias práticas que os alunos do Colégio Agrícola têm, pois sobrecarregou um pouco os alunos. Felizmente, os professores mandam tudo à parte e acompanham de perto”, reforça Meri, que optou pela educação brasileira, de acordo com ela, pela qualidade deste lado da fronteira.
“O colégio ensina muito bem. Meu filho é ex-aluno do Agrícola e hoje está cursando Agronomia. Boa parte do conteúdo dos primeiros dois anos da faculdade ele já havia visto na escola”, conclui.
AEN