“A saída para os nossos países não será um voo solo”, avalia o professor de Economia da UNILA Luciano Wexell Severo ao falar sobre soluções possíveis na América Latina para a crise econômica decorrente da pandemia de Covid-19. Para ele, a solução passa, necessariamente, pela integração econômica dos países e, nesse contexto, o Brasil precisa exercer sua liderança natural. “A saída seria muito mais simples se o Brasil assumisse uma postura que todo mundo espera que o Brasil tenha”, afirma.
“O Brasil tem condição, com os recursos que tem, de fazer um grande plano de fomento da sua própria economia, distribuindo renda, estimulando o mercado interno, fomentando a demanda, e ativar a demanda dos outros [países da América Latina] também.”
“A situação neste momento é que a crise econômica, que já estava presente, foi ou será intensificada pela pandemia”, analisa. Para ele, os governos tentarão justificar a crise econômica com a crise sanitária provocada pela Covid-19, mas a América Latina já apresentava sinais de tensão antes disso. “A região, sem nenhuma dúvida, está pegando fogo e estava pegando fogo.
A manchete do jornal mudou, o problema agora é um vírus, uma característica desesperadora e que vai derrubar ainda mais as nossas economias”, avalia, citando a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal) de que “esta crise deve ser maior do que a que todos aprendemos a respeitar, que é a crise dos anos 30”.
Pauta de exportações
O professor, que é doutor em Economia Política Internacional, lembra que as economias da América Latina estão passando por um processo “violento” de reprimarização da sua estrutura produtiva e da sua pauta de exportação. A pauta de exportações do Brasil para a China, nosso principal parceiro comercial, cita Severo, é composta por, aproximadamente, 95% de produtos primários e apenas 5% de produtos manufaturados.
O inverso do que acontece com a pauta de exportações do Brasil para outros países da América Latina. “Cerca de 85%, 90% de tudo que nós vendemos para os vizinhos são produtos com algum valor agregado, ou com mais valor agregado. Produtos que não entram na Europa, não entram nos Estados Unidos, ou entram com mais dificuldade”, observa.
“A saída, portanto, mais uma vez, porque em outros momentos da história foi assim, na crise de 29 foi assim, é substituir importações por produção nacional, olhar para os vizinhos, complementar o comércio com os vizinhos”. Com o comércio entre vizinhos, seria possível, reflete Severo, a volta das negociações sem o uso do dólar, prática já utilizada nos anos 1980, uma vez que “não poderemos contar com dinheiro das grandes agências internacionais de fomento, porque não vai ter dinheiro”.
Ao falar sobre a situação de Foz do Iguaçu e da Tríplice Fronteira, Luciano Severo observa que a solução também passaria pela integração econômica regional e a adoção de medidas como o comércio sem o uso do dólar. “O fechamento físico de uma ponte é algo muito forte, muito violento. Mas o fechamento virtual, com a taxa de câmbio alta, é forte também. E a gente não vai resolver esse problema abrindo ponte somente”, pondera.
Fator Ciência
Os novos episódios da websérie Fator Ciência estão sendo divulgados sempre às sextas-feiras no canal da UNILA do Youtube e também em formato podcast no Spotify. O primeiro episódio trouxe um panorama geral da epidemia com a infectologista Flávia Trench e estão previstos ainda debates sobre as origens do vírus e o mundo pós-coronavírus.
Assessoria