Desde o início da pandemia do Coronavírus, a procura por máscaras tem sido grande em todo o Brasil. Por conta da necessidade de manter um distanciamento social e do crescimento no número de contaminados, ao menos onze estados e o Distrito Federal já determinaram a necessidade do uso de máscaras. Entre eles está o Paraná. O governador do Estado, Ratinho Junior, decretou a obrigatoriedade no último dia 28 de abril, inclusive com aplicação de multa em caso de descumprimento.
O consultor do Sebrae/PR, Tiago Correia da Cunha, afirma que a pandemia criou grandes problemas para a maioria dos negócios de diferentes setores econômicos, entre eles o da confecção. Muitas empresas do segmento sentiram o impacto das medidas de isolamento social, diminuíram a produção e outras chegaram a parar temporariamente as atividades. “Em meio à crise, as empresas demonstraram capacidade de reinvenção e inovação nos processos”, afirma.
Cunha lembra ainda que a obrigatoriedade do uso de máscaras abriu novas oportunidades não apenas para empresas de confecção, mas também de outras áreas, que aproveitaram o momento para se adequar. “E as máscaras se tornaram não apenas um item de segurança, mas também de moda, com estampas e tecidos diferentes”, aponta.
O consultor ressalta, porém, a importância de as empresas se estruturarem para atender todos os requisitos de segurança estabelecidos pelo Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para se adequarem ao momento, empreendedores da área de confecção aproveitaram, em muitos casos, a própria matéria-prima. Esse foi o caso da artesã Jociane Boratto Monteiro, de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, que começou a produzir as máscaras em fevereiro, estimulada por uma cliente que atua na área da saúde. A empresária viu as vendas de seus produtos como necessaire, porta fraldas, chinelos, panos de prato, entre outros, despencarem em fevereiro e passou a produzir as máscaras utilizando tecidos do estoque. Para isso, buscou modelos na internet e divulgou as máscaras nas redes sociais.
“Recebi um grande número de pedidos e nas redes sociais tive mais de 13 mil visualizações. Até o momento, já foram quase 800 máscaras comercializadas, com pedidos até de outros estados. Quatro costureiras me ajudam a dar conta da demanda”, comentou. Ela explica que também confecciona modelos personalizados de acordo com o cliente.
Prevendo uma concorrência na demanda por máscaras ela também começou a desenvolver bolsinhas de plástico, com uma abertura lateral para a máscara usada, outra para a máscara limpa e um espaço para o álcool gel. “Quis criar um novo produto que facilite a vida das pessoas”, relata.
A crise do Coronavírus também afetou e provocou mudanças em pequenas indústrias de confecções como é o caso da Terra & Sol Confecções, fábrica e loja de uniformes em Jacarezinho, norte pioneiro do Paraná. A dona da empresa, Mara Silvia de Mello Moraes, precisou adaptar a produção, antes voltada para atender escolas e empresas, à nova realidade trazida pela pandemia. No primeiro mês das medidas de distanciamento social, Mara diz que focou na confecção de máscaras, roupas especiais para uso em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e jalecos para profissionais de saúde, de forma voluntária para doação. Como as restrições de funcionamento foram estendidas e a demanda por esses produtos era crescente, a empreendedora passou a fabricar as peças para comercializar e manter os custos da operação do negócio durante a crise.
Os materiais são vendidos em grandes quantidades no atacado para empresas e prefeituras. Na fábrica trabalham seis pessoas, mas a empresa tem parceria com costureiras, que confeccionam as peças em casa. Diariamente, são produzidas mais de mil máscaras. No mesmo endereço da fábrica funciona uma loja em que são vendidas as peças para pessoa física.
“Também estamos vendendo tecidos para as pessoas que estão confeccionando suas próprias máscaras. A procura tem sido grande”, conta. Mara afirma que a mudança no foco da produção tem ajudado a empresa honrar com os compromissos financeiros e ter até algum lucro.
Cooperação
Profissionais de outras áreas e sem experiência na produção de confecções também tornaram a produção de máscaras um negócio do momento. Em Pato Branco, as amigas e vizinhas Bárbara Gaio, cerimonialista, e Elisa Ortigara, diarista, começaram a produzir, com a ajuda de uma máquina de costura antiga e de um molde, máscaras para consumo próprio antes da obrigatoriedade.
“Já trabalhei em frigoríficos e sei da importância do uso de máscaras e equipamentos de proteção. Quando foi declarada a pandemia, sabia que as máscaras seriam necessárias. Logo, também começamos a fazer para amigos e visualizamos que poderíamos produzir para vender”, observa Bárbara.
Desde o dia 19 de março, quando a produção começou, foram vendidas mais de 500 máscaras com duas ou três camadas e até mesmo personalizadas, com rendas ou cristais. Com o lucro obtido, elas puderam adquirir uma máquina de costura nova e passaram a produzir outros modelos, como patchwork e confecções para bebês.
A responsabilidade social também está presente no novo negócio das empreendedoras. “No início, demos prioridade aos profissionais de saúde. Já fizemos a doação de máscaras para um albergue e estamos finalizando um lote de peças para um asilo de idosos. Parte do lucro que tivemos foi doado para uma protetora de animais, em Pato Branco”, completa Bárbara Gaio.
Assessoria