O novo coronavírus infectou mais de 83 mil pessoas em 53 países e territórios em cinco continentes desde o surgimento da doença, em dezembro passado. Ao menos 2.858 morreram.
O surto começou na China, que concentra 95% dos casos. Mas, nas últimas semanas, o número dos novos pacientes tem caído, e o país, pela primeira vez desde então, deixou de concentrar a maioria dos novos casos que surgem todos os dias.
A chegada da doença ao Brasil, que confirmou um caso e investiga outros 300 suspeitos, ampliou o compartilhamento de informações — nem sempre verdadeiras — sobre o nível atual da crise e como se proteger da doença. Autoridades falam em “infodemia”, ou seja, uma “epidemia de informações falsas”.
A BBC News Brasil reuniu 25 dúvidas que surgiram desde o início do surto. Há perguntas sobre sintomas, o que fazer em caso de suspeita da doença, dicas compartilhadas em redes sociais, taxa de mortalidade, formas de prevenção, impacto econômico e alastramento do vírus no Brasil, entre outros tópicos.
As respostas abaixo se baseiam em dados que vêm de infectologistas e virologistas entrevistados pela reportagem e de fontes oficiais como a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde brasileiro, o Serviço de Saúde do Reino Unido e os centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da China.
1. Quais são os sintomas da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus?
Os principais são: febre, tosse e dificuldade para respirar. Em um número menor de casos há espirro e coriza. Em geral, após uma semana, a doença causa dificuldade para respirar e alguns pacientes necessitam de tratamento hospitalar.
Mas nem sempre todos esses sintomas aparecem.
2. Estou com sintomas parecidos. Devo ir ao hospital?
Por ora, no Brasil, um caso tem que se encaixar em uma combinação de critérios para ser considerado suspeito. Primeiro, a pessoa precisa ter viajado para alguma área em que o vírus esteja circulando, como a China ou a Itália, ou ter tido contato próximo com alguém que tenha viajado para lá.
Contato próximo significa ter contato direto ou estar a aproximadamente dois metros de um paciente com suspeita de novo coronavírus dentro do mesmo ambiente, por um período prolongado.
Depois, a pessoa que suspeita estar doente precisa ter febre e/ou precisa ter pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, como tosse ou dificuldade para respirar.
Caso se encaixe nesses critérios, especialistas e autoridades brasileiros afirmam que essa pessoa deve ir a uma unidade de saúde, preferencialmente procurar um lugar em que seja possível fazer diagnóstico de coronavírus — nesse caso, hospitais, em vez de unidades básicas de saúde.
3. Quão letal é o novo coronavírus?
A taxa de letalidade da doença provocada pelo novo coronavírus é estimada em 2,3%. Ou seja, a cada 100 pessoas que contraem o vírus, em média, pouco mais de duas morrem.
É muito quando comparada à taxa de mortalidade da gripe comum, de menos de 0,1%, mas pouco quando comparada a quantos morreram, por exemplo, com a Sars, doença ligada a outro coronavírus que surgiu na China em 2002 e registrou taxa de mortalidade de cerca de 10%.
Mas esses dados estatísticos não são precisos porque milhares de pacientes em tratamento ainda podem morrer, o que elevaria a taxa de mortalidade. Por outro lado, também não está claro quantos casos leves podem não ter sido reportados, então a taxa de mortalidade também pode ser menor.
4. Quantas pessoas sobrevivem ao coronavírus?
No surto atual, com base em dados de 44 mil pacientes infectados pelo novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde informa que:
- 81% desenvolvem sintomas leves;
- 14% desenvolvem sintomas graves;
- 5% ficam em estado crítico;
- não foram registradas mortes de crianças de até 9 anos.
O infectologista Luis Fernando Aranha Camargo, do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta, no entanto, que não se sabe ainda a respeito da sobrevida desses pacientes, o que vai acontecer a longo prazo.
Por isso, não é possível ainda fazer afirmações categóricas sobre os pacientes recuperados.
5. O coronavírus tem cura?
Não existe vacina ou tratamento contra o vírus até agora. Quando o ciclo do vírus termina — ou seja, você adquire a doença, mas, depois de um tempo, os sintomas desaparecem completamente — você estaria teoricamente curado. É a chamada cura espontânea.
Mas não se sabe, por exemplo, se nosso corpo adquire imunidade ao vírus após o primeiro contágio. China e Japão relataram casos de pacientes que pareciam ter se curado, mas voltaram a manifestar a doença — não se sabe, porém, se foram infectados uma segunda vez ou apenas tiveram uma recaída da primeira infecção.
E há precedentes nesse sentido: mesmo infectado uma vez, nosso corpo não cria imunidade contra o vírus da influenza, por exemplo, como destaca o médico Luis Fernando Aranha Camargo. Por isso, aliás, que existe vacina contra ele.
6. Uma pessoa pode ser infectada pelo novo coronavírus duas vezes?
Há muitas coisas que os cientistas não sabem sobre esse novo vírus. E isso inclui a possibilidade de uma pessoa ser infectada duas vezes ou mais. Até então, acreditava-se que isso não fosse possível, tendo em vista o que se sabe sobre outras infecções virais respiratórias.
Mas informações divulgadas por autoridades da China e do Japão lançaram dúvidas sobre isso: algumas pessoas que já haviam se recuperado da doença foram diagnosticadas novamente com o vírus. Mas ainda é muito cedo para afirmar se isso é possível ou houve, por exemplo, alguma falha de diagnóstico.
7. A transmissão é rápida? Passa pela tosse?
Centenas de novos casos estão sendo registrados todos os dias. No entanto, os analistas acreditam que a real dimensão do surto pode ser 10 vezes maior que os números oficiais indicam.
Estima-se que no surto atual cada pessoa infectada passou a doença para menos de três pessoas, em média.
Em geral, todos os vírus que afetam o trato respiratório são transmitidos pela via aérea ou pelo contato das mãos com a boca ou com os olhos — respirando no mesmo ambiente, tocando algo que uma pessoa infectada tocou, por exemplo.
Até agora, a grande maioria dos casos do novo coronavírus registrados foram transmitidos entre pessoas com contato próximo, como familiares ou amigos e profissionais de saúde.
A definição de contato próximo do Ministério da Saúde brasileiro é “estar a dois metros de um paciente com suspeita de caso por 2019-nCoV, dentro da mesma sala ou área de atendimento (ou aeronaves ou outros meios de transporte), por um período prolongado, sem uso de equipamento de proteção individual. Ou cuidar, morar, visitar ou compartilhar uma área ou sala de espera de assistência médica”.
8. Se a taxa de mortalidade é relativamente baixa, por que tanta preocupação?
Em primeiro lugar, o fato de estarmos diante de um novo vírus sempre gera uma preocupação maior porque não se sabe exatamente como ele se comporta, o quão facilmente sofre mutações.
Não é possível afirmar com certeza, por exemplo, se uma pessoa que foi infectada, mas ainda não apresenta sintomas, pode infectar outras.
O contágio assintomático durante o período de incubação (que varia entre 1 e 14 dias) é uma possibilidade bastante grande, segundo as autoridades de saúde, mas isso não está 100% comprovado.
Se confirmado, no entanto, significaria que o vírus tem uma capacidade de se alastrar maior do que a de outros agentes patogênicos, como o ebola ou o sarampo, em que o contágio só acontece quando há sintomas.
Além disso, não há imunidade na população para um novo vírus que surge de repente e se espalha rapidamente. Isso faz com que essa taxa relativamente pequena de mortos acabe representando um número absoluto alto de fatalidades.
Nesse sentido, preocupa a possibilidade de chegada do vírus a países com sistemas de saúde pública mais frágeis, com menos recursos, com menor capacidade para lidar com um volume alto de doentes de uma vez só.
Aliás, a OMS destacou recentemente que o Brasil tem um histórico de lidar com surtos e epidemias, com o caso recente da zika, que pode ajudar na luta contra a disseminação da doença.
Medidas como quarentenas e suspensão das aulas assustam e causam transtornos, mas especialistas apontam que esse tipo de medida é eficaz para conter o surto, como tem acontecido na China.
“Essas ações podem ser disruptivas e ter impacto econômico e social em indivíduos e comunidades. No entanto, estudos mostram que a adoção em etapas dessas intervenções podem reduzir a transmissão em comunidades”, explica o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.
9. É verdade que o vírus não sobrevive no calor?
Essa foi uma dúvida que surgiu depois que o ministro da Saúde brasileiro afirmou que não sabemos ainda qual vai ser o comportamento do vírus aqui porque estamos no verão.
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, o NHS, de forma geral as temperaturas mais baixas aumentam o tempo de sobrevivência do vírus da gripe no ar. No calor, portanto, a sobrevida deles fora do corpo é menor.
Além disso, há ainda o fato de que no frio as pessoas tendem a ficar mais em ambientes fechados, o que favorece a propagação de doenças respiratórias.
Camargo, infectologista do Einstein, ressalta, entretanto, que, como nós não conhecemos totalmente as características do vírus, não conseguimos inferir como vai ser o comportamento dele no Brasil.
O país já teve surto de influenza em meses de outono, ele lembra, uma estação relativamente quente. Sem falar que o Brasil está passando por um verão bem chuvoso, mais do que a média, que acabou derrubando as temperaturas em alguns dias.
Por outro lado, é importante lembrar que uma variedade diferente de coronavírus — causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), por exemplo — surgiu no verão, na Arábia Saudita, então não há garantias de que o clima mais quente interrompa o surto.
10. Tomar chá quente mata o vírus? Evitar boca seca mata o vírus?
Essas dicas vêm sendo compartilhadas nas redes sociais e são falsas, segundo Camargo, infectologista do Einstein. Ele disse que chegou a receber pelo WhatsApp a segunda, que dizia que médicos japoneses tinham recomendado às pessoas que bebessem água porque o vírus iria para o estômago e lá seria destruído pelos ácidos estomacais.
Segundo o Ministério da Saúde, até o momento não há nenhum medicamento, substância, infusão, óleo essencial, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir ou tratar a infecção pelo novo coronavírus. Isso vale para todas as fake news envolvendo chá quente, vitamina C, vitamina D e bebida alcoólica, entre outras.
Camargo ainda acrescenta: a informação mais confiável nesse sentido é aquela publicada em periódicos médicos, que tenha sido comprovada com pesquisa. Sites como o The Lancet e o Journal of the American Medical Association têm reunido boa parte do que tem saído em termos de pesquisas médicas sobre o coronavírus.
11. O que funciona, então, para combater o vírus?
- Lavar as mãos com frequência é básico e é o que vem sendo apontado como mais eficaz;
- Não botar a mão na boca, no nariz ou nos olhos também evita levar o vírus para as mucosas do corpo, por onde ele também entra. Entra também por via aérea, ou seja, alguém tosse, espirra e você respira aquilo;
- É fundamental usar lenço na hora que tossir ou espirrar e jogar aquele papel fora na hora;
- Não há evidências científicas de que as máscaras cirúrgicas sejam eficazes;
- Manter hábitos saudáveis para fortalecer a imunidade. Ou seja, dormir a quantidade de horas certas para a sua idade, alimentar-se bem, manter-se hidratado, fazer exercícios físicos regularmente e tentar reduzir o estresse;
- E, claro, se você tem uma gripe, evite o contato com outras pessoas, mas principalmente com idosos. Isso pode abrir caminho, por exemplo, para uma infecção cruzada de dois vírus da gripe diferentes que, claro, vão sobrecarregar o sistema imunológico da pessoa.
12. Já que tocamos nesse assunto, por que idosos são principais vítimas fatais?
De fato, a taxa de mortalidade do novo coronavírus aumenta a partir dos 60 anos e chega a 15% para quem tem mais de 80 anos. Por dois motivos: a imunidade a partir dos 60 anos perde força, o que deixa a pessoa mais suscetível a algumas doenças e também com capacidade comprometida de lutar contra infecções.
Ocorre também que as células do sistema imunológico que deveriam apenas matar as células infectadas acabam atingindo também aquelas que estão sadias.
Além disso, existem as chamadas comorbidades. A chance de alguém com mais de 60 anos ter outros problemas como diabetes, pressão alta, problemas cardíacos, entre outros, é maior, o que gera um peso adicional no corpo na hora de lutar contra um novo vírus.
13. O que explica a baixa incidência do coronavírus em crianças?
A resposta não é simples e há pelo menos três hipóteses, mas nenhuma delas ainda foi comprovada:
- as crianças teriam um sistema imunológico mais forte, levando a menos complicações e, consequentemente, menos diagnósticos oficiais;
- o início do surto coincidiu com o período de recesso escolar, expondo as crianças a menor risco de contágio, e os adultos tendem a agir mais como cuidadores nessas situações, mandando a criança para casa de um parente caso alguém esteja doente, por exemplo;
- há também a possibilidade de o coronavírus ser mais um do rol de vírus com sintomas mais brandos em crianças, como o da catapora, o que também gera menor detecção formal pelo sistema de saúde.
14. Estou grávida, devo me preocupar?
Especialistas e autoridades afirmam não haver motivo para acreditar que mulheres grávidas ou os bebês sejam mais suscetíveis aos efeitos do novo coronavírus do que qualquer outra pessoa.
Também não há qualquer indício de que o vírus possa ser contraído no útero.
15. Ter asma é um fator de risco? O coronavírus pode causar um ataque?
Infecções respiratórias, como o novo coronavírus, podem servir de gatilho para sintomas de asma.
A entidade Asthma UK recomenda àqueles que estiverem preocupados com o vírus que sigam uma série de passos para cuidar da saúde.
Isso inclui, por exemplo, portar seu inalador preventivo no dia a dia. Ele ajuda a interromper o risco de um ataque de asma ser disparado por qualquer vírus respiratório, incluindo o novo coronavírus.
Mas se a falta de ar e outros sintomas piorarem, procure atendimento médico.
16. Como detectar se a pessoa está doente?
Em geral, numa doença como esta, amostras de secreção respiratória são levadas ao laboratório. Ali, técnicas de detecção de material genético viral podem identificar a presença do agente infeccioso.
Mas durante o surto atual a China ampliou sua metodologia e passou a considerar um caso confirmado também por meio de diagnóstico clínico associado a um exame de imagem do pulmão.
A mudança, segundo as autoridades chinesas, visava a dar mais celeridade ao tratamento e ao isolamento dos pacientes infectados com a doença, além de ampliar o escopo de quem precisa ser monitorado por eventuais sintomas.
Parte dos especialistas também questiona a precisão dos exames de laboratório, depois que surgiram relatos em diversos países de pessoas que receberam até seis resultados negativos para a doença até que finalmente a análise apontou a presença do novo coronavírus. Mas, no estágio atual do surto, é impossível dizer exatamente o que está acontecendo.
17. Por que o primeiro paciente com coronavírus no Brasil vai ficar em quarentena em casa?
A quarentena domiciliar está entre as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para pacientes que estão em bom estado clínico, sem necessidade de internação.
No hospital, aumentam as chances de que mais pessoas entrem em contato com o paciente, podendo propagar doenças entre outras pessoas que estão em situações mais graves e com a imunidade baixa.
Há também o risco de que a pessoa infectada pelo novo coronavírus seja atingida por outras doenças que circulam no hospital.
A quarentena em casa é também uma forma de tentar evitar que os hospitais fiquem sobrecarregados.
As pessoas em quarentena domiciliar devem ter cuidados redobrados com a higiene, como usar máscara quando tiverem contato direto com outras, lavar as mãos com frequência, usar álcool em gel e não compartilhar objetos de uso pessoal — como talheres, copos e toalhas.
18. Por que o número de casos suspeitos no Brasil aumentou?
O número de casos suspeitos do novo coronavírus no país deu um salto pelo menos 1.500% em um dia, após a confirmação do primeiro brasileiro contaminado.
Segundo o Ministério de Saúde, há algumas hipóteses que podem explicar o salto.
Em menos de uma semana, a lista de países que fazem parte dos critérios adotados para identificação de casos suspeitos cresceu significativamente: passou de 1 para 16 países.
A confirmação oficial de um caso no país também pode ter levado mais pessoas com sintomas a procurarem profissionais de saúde, que também podem ficar mais atentos e receosos de deixar passar um caso sem fazer o teste para o novo coronavírus.
O secretário afirmou ainda que uma demanda reprimida de atendimentos médicos por causa do Carnaval, quando muitas unidades de saúde ficam fechadas, pode ter contribuído para elevar rapidamente as notificações a partir da segunda-feira, quando estes locais voltaram a funcionar normalmente.
19. O que vai acontecer com o surto no Brasil a partir de agora?
Haverá quarentenas para poucos ou para cidades inteiras? Aulas serão canceladas? Ou a rotina segue relativamente normal, como em mais de 40 países que já tiveram casos confirmados da doença?
Na prática, tudo depende da evolução dos casos no país. Há dois grandes cenários possíveis na crise atual: um de contenção, outro de mitigação.
No primeiro, o país passa a ter cada vez mais casos pontuais ligados a pessoas oriundas de outros países, como tem acontecido nos Estados Unidos e no Reino Unido. O Brasil, hoje, está nesse grupo. Neste cenário, a rotina da população em geral praticamente não muda.
O segundo surgirá se o vírus estiver disseminado em uma área mais ampla pelo contágio, o surto estiver instalado no país e a doença passar a ser transmitida com rapidez e volume entre diversas pessoas, como na Itália e na China.
Neste cenário, há, por exemplo, quarentenas de cidades ou regiões, cancelamentos de aulas e eventos públicos e implementação de trabalho remoto em empresas.
20. É verdade que esse vírus surgiu como uma arma biológica criada na China? É verdade que já existia patente de laboratório farmacêutico ligada ao novo coronavírus?
Primeiro, não há qualquer indício ou evidência de que esse novo vírus foi criado em laboratório. Também há informações falsas circulando sobre um instituto que teria feito uma patente de remédio para tratar o coronavírus. Mas esse instituto faz pesquisa sobre outros tipos de coronavírus, sem qualquer relação com o surto atual.
A droga, ainda em fase experimental e sem aprovação pelas autoridades competentes, foi usada apenas em animais. E pode, inclusive, ajudar os cientistas que hoje buscam desenvolver algum tipo de tratamento contra a covid-19.
21. Então, qual foi a origem do surto?
A hipótese mais provável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é que a epidemia começou em um mercado da cidade chinesa de Wuhan e foi transmitida de um animal vivo para um hospedeiro humano, antes de se espalhar de humano para humano.
Nesse mercado eram vendidos tanto animais vivos quanto já abatidos. Mas não se sabe ainda qual animal está ligado ao novo coronavírus.
Mas também não há certeza se de fato o surto começou no mercado chinês. Um estudo de pesquisadores chineses publicado no periódico médico Lancet alega que o primeiro diagnóstico da covid-19 ocorreu bem antes, em 1º de dezembro, e que o paciente em questão “não teve contato” com esse mercado de Wuhan.
Desvendar essa origem é um “trabalho de detetive”, diz à BBC o professor Andrew Cunningham, da Zoological Society of London, no Reino Unido.
Uma grande variedade de animais pode ter servido como “hospedeiro” do vírus, especialmente o morcego, conhecido por ser portador de um número considerável de coronavírus diferentes.
Segundo Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, este é mais um vírus que chega à espécie humana por causa de impacto ambiental.
Ao desmatar, degradar o ambiente e ampliar a proximidade de animais silvestres para alimentação, recreação ou estimação, o homem se aproxima de vírus com os quais não tinha contato nem imunidade. Se expõe ao que ele chamou de uma nova virosfera.
21. Cachorros e gatos podem se infectar e transmitir a doença?
Não há qualquer evidência científica de que cães e gatos possam transmitir o novo coronavírus para humanos ou outros animais, afirmou a secretária de Saúde de Hong Kong, Sophia Chan.
O comunicado ocorreu depois da notícia de que o cachorro de uma pessoa infectada com o vírus foi examinado e recebeu um diagnóstico “positivo”, mas “fraco”.
O cachorro, da raça Lulu da Pomerânia, está em quarentena sob observação e passará por novos exames. O animal não apresentou sintomas.
22. Qual será o impacto na economia global?
Economistas e especialistas hesitam em falar em números nesse estágio inicial do surto, mas alguns temem que a paralisação da atividade econômica ao redor do mundo leve a uma crise do tamanho da ocorrida em 2008.
Mas é possível identificar qual forma o impacto terá e observar os danos econômicos causados por episódios similares no passado, especialmente o caso da Sars entre 2002 e 2003, que também começou na China.
Uma estimativa indica que o custo do surto de Sars à época para a economia mundial foi de US$ 40 bilhões (R$ 167 bilhões em números atuais).
No surto atual, já é possível perceber alguns dos danos econômicos. Bolsas de valores têm despencado ao redor do mundo e dezenas de empresas enfrentam desabastecimento na cadeira de fornecedores, como Apple e Microsoft.
Há impactos graves também no setor turístico e de companhias aéreas.
E do lado da exportação brasileira, o principal impacto de curto prazo tem sido nos preços das principais commodities vendidas pelo Brasil. As cotações da soja, do petróleo e do minério de ferro vêm acumulando queda desde que os primeiros casos da doença foram confirmados, diante do temor de uma desaceleração da economia chinesa.
As primeiras projeções apontam uma desaceleração da economia chinesa — tanto o banco UBS quanto o Itaú, por exemplo, revisaram a estimativa para o crescimento do país em 2020 de 6% para 5,4% e 5,8%, respectivamente.
23. É arriscado importar produtos da China?
Em geral, os coronavírus sobrevivem pouco tempo no ambiente. Questão de horas ou dias, no máximo.
Isso ocorre por causa do envelope, uma espécie de camada de gordura que envolve o vírus e o torna vulnerável a um simples detergente, por exemplo.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos afirmou que não há, até agora, nada que indique qualquer risco associado à importação de produtos industrializados e ou de origem animal.
24. A Olimpíada de Tóquio será cancelada ou adiada?
A realização do evento em Tóquio, previsto para acontecer de 24 de julho a 9 de agosto, passou a ser ameaçada em razão do avanço do surto. Surgiram temores envolvendo até a passagem da tocha olímpica por 859 lugares ao redor do mundo.
Para evitar a transmissão do vírus, diversos países têm cancelado grandes eventos públicos, como shows e jogos de futebol, mas nada se compara ao tamanho de uma Olimpíada.
Os organizadores negam a possibilidade de qualquer mudança, adiamento ou cancelamento, mas essa hipótese tem ganhado mais destaque entre autoridades, especialistas e atletas.
O Japão, que registrou 214 casos do novo coronavírus até agora, decidiu fechar todas as escolas do país para evitar a disseminação da doença.
Uma decisão final sobre a realização ou não do evento deve ocorrer até maio.
25. Como um surto como esse acaba?
Diante do quadro de queda do número de novos casos da doença, autoridades chinesas já estimam que as transmissões estarão totalmente sob controle até abril. Por outro lado, temem que um eventual “efeito bumerangue”, depois que uma pessoa oriunda do Irã chegou infectada ao país.
Especialistas também já esperavam que houvesse picos da doença em outros países além da China, mas não era possível prever quando isso ocorreria.
Ou seja, com base no que já ocorreu em epidemias anteriores, dá para estimar o que pode acontecer na trajetória do vírus, mas não quando ela vai acabar.
“Quando um vírus é introduzido em uma espécie, ele costuma causar doenças mais graves no início, mas depois passa por um processo de adaptação e se torna mais brando. Do ponto de vista evolucionário, ele precisa transmitir seus genes adiante. Não adianta matar todos os hospedeiros”, diz Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.
Vírus são organismos propensos a sofrer mutações, o que permite que eles saltem de uma espécie para a outra, como teria ocorrido com este coronavírus.
Mas essa característica também permite que eles se tornem mais bem adaptados ao organismo humano e menos agressivos, aumentando as chances de convivermos com eles.
Há três grandes formas de uma transmissão chegar ao fim:
- medidas adotadas por autoridades de saúde impedem que haja contato entre pacientes infectados e pessoas saudáveis, evitando novos contágios;
- processo de imunização do hospedeiro, ou seja, quanto maior a circulação do vírus, mais pessoas adquirem anticorpos contra ele e ficam imunes, fazendo com que o vírus perca força, ou sejam vacinadas;
- dizimar toda a população mundial, o que seria um fracasso para o vírus, porque ele morreria junto.
Fonte: BBC Brasil