No dia 19 de setembro de 1929, morria em Foz do Iguaçu o cientista, pesquisador, idealista e naturalista Moisés Bertoni. Conhecido por viajantes, cientistas e a população local como o sábio Bertoni, durante o tempo em que morou na casa onde hoje funciona o Museu Bertoni (fica na cidade de Presidente Franco, Paraguai), o sábio cientista escreveu 524 obras entre livros, folhetos e outras publicações em sete idiomas. E não só escreveu as obras. Ele também as tipografava e imprimia os livros e materiais para ele e até para terceiros.
Como legado, Bertoni deixou uma coleção com 43.600 peças. Um levantamento posterior dos resultados de seu trabalho na Colônia revelou uma coleção de 16.675 espécies. A coleção botânica tinha 250 espécies, o herbário 6.800 espécies, a coleção florestal tinha 350 peças. Só de insetos a coleção tinha 6500 peças. A coleção de etnografia apresentava 600 exemplares, além de 100 crânios na seção de craniologia.
Mosè Giacomo Bertoni deixou para trás o Ticino, seu cantão suíço-italiano natal, em março de 1884. Primeiro, seu destino foi o porto de Gênova, na Itália, onde embarcou para Buenos Aires, na Argentina. No desembarque, foi recebido pelo presidente da Nação, o general Julio Argentino Roca. Bertoni já chegou com aura de pessoa influente, acompanhado da esposa, Eugenia Rebaudi Bertoni (ex-Rossetti), cinco filhos nascidos na Suíça e cerca de 40 agricultores suíços que o acompanhavam.
O plano de Bertoni era criar uma colônia com produção agrícola, científica e cultural. A selva, os rios e os índios eram alvo de sua curiosidade científica. O projeto original era realizar esse sonho na Argentina, mas não foi possível devido ao pensamento econômico em voga no processo de colonização, que o fez mudar-se para o Paraguai. Em Puerto Bertoni ele conseguiu realizar parte do sonho. Parte, porque não conseguiu tirar do papel o projeto de Colônia Circular com capacidade de abrigar mais de mil pessoas com laboratórios, escolas e biblioteca. O plano era testar ideias que hoje recebem nomes como permacultura e agroflorestal, além de técnicas como “roçar sem queimar” – assunto muito moderno hoje, em tempos de mudanças climáticas.
Nessa época, o governo paraguaio pediu que ele organizasse uma Escola Nacional de Agricultura em Trinidad, na grande Assunção, que serviu de base para o atual Jardim Botânico. Alguns membros da família também se destacaram. É o caso do filho Arnaldo de Winkelried, conhecido como o primeiro zoólogo do Paraguai. Das 750 espécies de pássaros do país, 350 foram identificadas por ele e, segundo a monitora de visitação (anfitriã) do Monumento Científico Moisés Bertoni, Bianca Soares, “sete das 350 espécies são endêmicas da área do Monumento Científico”.
Doença e morte
Já no fim da vida e vítima de malária, Bertoni foi trazido pela família a Foz do Iguaçu, mais especificamente para a Rua Tiradentes, próximo ao antigo Porto Oficial, onde morava o farmacêutico, fotógrafo e amigo pessoal Harry Schinke. O jornal El Liberal, de 9 de outubro de 1929, registrou: “Ao agravar-se o estado de saúde do doutor Bertoni, foi solicitado a ajuda dos profissionais médicos residentes nessa cidade, os doutores Luis Gomes e Passo H. Schinke. Foi atendido no domicílio deles com o carinho de um pai e com todos os recursos da ciência”.
No dia em que ele morreu, na casa de Harry Schinke, Foz do Iguaçu parou. A bandeira brasileira foi mantida em meio mastro ao longo do dia de luto. Toda a cidade desfilou para prestar homenagens. O administrador apostólico de Foz do Iguaçu, o monsenhor Guilherme María Thiletzek, oficializou os sérvios religiosos e no dia seguinte acompanhou Bertoni em sua última viagem rio abaixo em direção ao Porto Bertoni, onde foi sepultado. Um mês antes, a esposa dele havia morrido também de malária em Encarnação, no Paraguai. Ele morreu sem saber que Eugenia Bertoni tinha morrido.
O Museu Bertoni é aberto para visitação. Pode-se acessá-lo pelo Paraguai (fica a 30 Km da Ponte da Amizade) ou então via fluvial, pelo passeio Kattamaram II (embarque pelo Porto de Areia).
Assessoria