Maiara Garcia, egressa do curso de Engenharia de Energia, avaliou, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a viabilidade técnica para a instalação de uma usina termoelétrica no aterro sanitário de Foz do Iguaçu. Sabe-se que, atualmente, o lixo causa grandes prejuízos ambientais ao planeta, pois além da emissão do gás metano, produzido pela deterioração da matéria orgânica, tem-se o problema do chorume, um líquido altamente poluente, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição desses resíduos. O chorume atrai insetos, causa mau cheiro e contamina o solo, podendo causar danos ao lençol freático.
O que pouca gente sabe é que é possível gerar energia a partir dos gases produzidos pela decomposição do lixo, o que resolveria dois grandes problemas da modernidade: eliminaria os danos ambientais que o lixo causa e, de quebra, geraria renda e energia. “No Brasil, o aproveitamento do potencial energético de aterros sanitários começou a ser impulsionado por programas vinculados ao mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL), criados pelo extinto Protocolo de Kyoto e, posteriormente, incentivados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, implementada no ano de 2010”, comenta a engenheira.
A possibilidade de se gerar energia a partir do lixo é muito atraente, pois o mundo está prestes a viver um colapso no abastecimento, uma vez que a principal fonte de energia do nosso planeta, o petróleo, é um combustível fóssil e, portanto, limitado, uma vez que esse tipo de substância não é renovável. Já a produção do gás metano proveniente do lixo, ao contrário dos combustíveis fósseis, só aumenta ano após ano. Nesse quesito, Maiara afirma que, conforme o histórico de coleta de lixo observado, desde de 2011 até meados de 2018 (fornecido pela Vital, empresa que realiza a coleta no município de Foz do Iguaçu e que gerencia o aterro), “é nítido que, a cada ano, o volume de lixo coletado e depositado é cada vez maior. Portanto, o que posso afirmar é que, hoje em dia, temos um passivo ambiental que apresenta indícios de crescimento – pois o volume de gás produzido é diretamente proporcional à quantidade de lixo depositado no aterro, o que poderia gerar energia e, consequentemente, renda –, porém, está sendo desperdiçado”.
Maiara relata que existem três alternativas principais para se converter energia térmica em eletricidade. Porém, neste trabalho, optou-se por avaliar a viabilidade técnica do potencial energético do aterro de Foz do Iguaçu a partir de duas soluções tecnológicas que já haviam sido utilizadas anteriormente em outros projetos: o motogerador e a microturbina a gás. “O motogerador é um motor de combustão interna (MCI), acoplado a um gerador elétrico. O MCI opera via ciclo Otto, mesmo ciclo utilizado pelos motores de automóveis. Porém, neste caso, são realizadas modificações para que o motor funcione bem usando biogás como combustível. O biogás é queimado no interior do pistão e, assim, o movimenta, e o movimento do pistão é transformado em potência elétrica pelo gerador”, esclarece.
Já a outra solução, a microturbina a gás, funciona de forma um pouco diferenciada. “A partir do ciclo térmico denominado ciclo Brayton, no qual o biogás é comprimido e enviado a uma câmara de combustão, ocorre a queima do combustível. O produto da queima, por sua vez, é um gás altamente energético, que é capaz de movimentar as pás da turbina e, assim, gerar um trabalho mecânico que será transformado em potência elétrica em um gerador”, explica a engenheira. Conforme esse estudo teórico, em termos de quantidade de energia produzida e de residências que poderiam ser atendidas, a primeira alternativa (motogerador) mostrou-se mais interessante, com uma capacidade de geração de 1.327,95 kWh/dia (suprindo a energia de aproximadamente 253 residências), contra 1.100 kWh/dia da microturbina a gás, o que atenderia mais ou menos 210 famílias.
É importante reforçar que a produção de lixo, além de crescente, é inevitável e torna-se um desafio ainda maior, especialmente nos grandes centros urbanos. O trabalho da pesquisadora, que foi orientada pelo professor Luis Evelio Garcia Acevedo, “pretende contemplar várias dessas esferas. Especificamente na ordem ambiental, a contribuição tem a ver com diminuir o consumo elétrico tradicional e evitar o incremento de gases do efeito estufa na atmosfera. No entanto, a implementação dessa proposta precisa ser articulada com ações em todas as dimensões de diversas áreas do conhecimento para ter um impacto significativo”, ressalta Maiara.
A egressa menciona que aproximadamente 40% do lixo depositado no aterro poderia ter outro destino, pois trata-se de material reciclável. Nesse aspecto, há um outro importante desafio a ser superado: a implementação da coleta seletiva de lixo em Foz do Iguaçu. “Esta solução tecnológica [de aproveitamento energético do aterro sanitário] deve ser aplicada conforme contexto colocado na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010), na qual ações como a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos devem ser anteriores ao aproveitamento energético, a partir do momento que estes tenham sua viabilidade técnica e ambiental comprovada”, finaliza.
Assessoria