Recentemente, a cidade de Foz do Iguaçu se destacou em âmbito nacional, e desta vez não foi pela beleza das Cataratas nem por suas peculiaridades geográficas. O diferencial foi a alta qualidade do ensino nas escolas da rede municipal, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2015 a média das escolas municipais brasileiras era de 5,3, enquanto a média iguaçuense foi de 7,25. Para se ter uma ideia, a média 6 corresponde a um sistema educacional de qualidade comparável ao dos países desenvolvidos. O índice é calculado de acordo com as notas obtidas pelos estudantes nas provas de português e matemática na Prova Brasil.
Essa diferença substancial chamou a atenção de um grupo de pesquisadores da UNILA, que decidiram investigar os aspectos administrativos e pedagógicos que geraram esse resultado. Na pesquisa, que iniciou em 2016 como um projeto de extensão, os dados foram analisados utilizando-se uma metodologia de modelo hierárquico, que considera as informações em três níveis: o individual (relacionado diretamente ao aluno), o da escola (infraestrutura, corpo docente e diretivo etc) e o municipal (questões relacionadas aos investimentos na educação). “A metodologia combinou técnicas quantitativas para o tratamento dos dados fornecidos pelo Inep e, por outro lado, técnicas qualitativas, através da realização de entrevistas”, explica o coordenador do Centro de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Cepecon), professor Henrique Kawamura. Foram analisadas as notas das provas de português e matemática de 148 mil estudantes da Região Sul do país, de forma a obter um panorama abrangente para traçar o comparativo.
As entrevistas também foram bastante detalhadas e trabalhosas, conforme relata a professora Marcela Nogueira Ferrario. “Nós realizamos 29 entrevistas, com gestores e ex-gestores municipais (ex-prefeitos e ex-secretários municipais de educação), diretores de escolas, professores, coordenadores pedagógicos, merendeiras, além dos próprios estudantes e seus familiares”, relembra. A pesquisa abarcou escolas de todas as regiões da cidade.
Diferença está na gestão
As mudanças mais significativas na gestão da educação municipal começaram a ser implementadas em 2005, e os resultados começaram a aparecer alguns anos depois. “Isso porque a educação é um tipo de política que responde a longo prazo. Então, por exemplo, para ter um impacto na Prova Brasil, os efeitos começam a se mostrar em 2007, e a diferença em relação ao resto do país pode ser observada em 2009”, cita a professora Marcela.
Os resultados da pesquisa apontam que os fatores que mais contribuíram para o salto no desempenho dos estudantes iguaçuenses no Ideb foram as ações de valorização da carreira docente e a implantação de uma cultura avaliativa no município. A professora Maria Alejandra Nicolas explica que a aproximação da gestão municipal com os diretores de escolas e professores também foi fator determinante neste processo. “Houve uma reconstrução da carreira docente, então isso tem um impacto considerável”, aponta.
Outros aspectos que também favoreceram esses indicadores foram questões relativas à infraestrutura das escolas, ao acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos, além das questões socioeconômicas, conforme acrescenta Maria Alejandra.
Retorno à sociedade
Os pesquisadores apresentaram os resultados da pesquisa à Secretaria Municipal de Educação e também aos diretores das escolas, no intuito de dar um retorno sobre os trabalhos que deram certo e de auxiliar a construção de políticas públicas que mantenham Foz do Iguaçu neste alto patamar. “O nosso papel, enquanto universidade pública, é justamente o de ajudar a cidade a sempre melhorar, contribuir com o desenvolvimento econômico e social”, pontua Kawamura.
Para Marcela, “o que a gente quer é mostrar isso ao público, que Foz do Iguaçu tem uma educação de qualidade, e colaborar com a gestão municipal em como tratar esses dados, como analisar, ver o que está ruim, o que está bom, onde se pode melhorar”.
Trabalho contínuo
A primeira pesquisa foi concluída, mas o trabalho não deve parar. Os pesquisadores pretendem continuar acompanhando esses índices, para verificar se a superioridade dos resultados iguaçuenses se mantém. Além disso, o grupo pretende avaliar se a educação básica de qualidade produz resultados que perduram na vida do aluno, analisando também as escolas de Ensino Médio. “Aí, já não é mais competência do município, e sim do estado, mas é possível investigar, por exemplo, se uma educação de base com qualidade se reflete em melhores resultados também no Ensino Médio”, ilustra.
Os pesquisadores também pretendem encaminhar os resultados da pesquisa para o Ministério da Educação e para o Inep, para ajudar a subsidiar as pesquisas sobre a educação básica, uma vez que o Ideb é um condutor de política pública em prol da qualidade da educação, além de ser a ferramenta para acompanhamento das metas de qualidade do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) para a educação básica.
A pesquisa, interdisciplinar, foi conduzida pelos professores Henrique Coelho Kawamura, Marcela Nogueira Ferrario e Rodrigo Cantu de Souza, do curso de Ciências Econômicas; Maria Alejandra Nicolas e Lucimara Flavio dos Reis, de Administração Pública e Políticas Públicas; e Flávio Alfredo Gaitán, de Ciência Política e Sociologia. Além disso, o trabalho contou com os bolsistas de graduação Marcele de Freitas Batista (Ciências Econômicas) e Katia Nascimento Vicente Coelho e Mariana Eggers (Administração Pública e Políticas Públicas).