Estimular a reflexão sobre a origem do Sistema Solar, do nosso planeta e da vida é uma das propostas da Exposição Memórias Siderais, que reúne um conjunto de 107 meteoritos (fragmentos de corpos celestes) e 23 impactitos (rochas da Terra que tiveram impacto de meteoritos).
A exposição foi aberta ao público na noite de sexta-feira (05) e apresenta boa parte das classes e grupos de meteoritos já catalogados. Os visitantes podem visualizar, por exemplo, fragmentos rochosos provenientes da crosta da Lua e de Marte. Também meteoritos metálicos oriundos do núcleo de astros. As peças foram encontradas em diversos locais do planeta, incluindo países da América, Europa, África, Ásia e Oceania.
Conforme explica o professor Daniel Iria Machado, doutor em Física, responsável pelo acervo, um diferencial da coleção é a proporção significativa de meteoritos brasileiros, contando com exemplares de 46% do total de meteoritos recuperados no país. “O Brasil está bem representado, pois a coleção possui fragmentos de 33 meteoritos brasileiros, de um total de 71 meteoritos conhecidos. O acervo dispõe também de dois impactitos de origem nacional”, conta.
Na coleção está uma amostra do meteorito Bendegó, encontrado em 1784, na Bahia, que foi um dos primeiros do mundo a terem tido sua natureza extraterrestre reconhecida cientificamente, em 1816. Também há impactitos da Cratera de Vista Alegre, uma das poucas crateras identificadas no Brasil, localizada próximo à Foz do Iguaçu, no município paranaense de Coronel Vivida.
Os estudos dos fragmentos extraterrestres possibilitam obter dados fundamentais para a compreensão do universo e do Sistema Solar – inclusive, permitem estimar a idade do nosso sistema. “Alguns grupos de meteoritos possuem material muito similar ao que se condensou a partir da nuvem de gás e poeira que originou o Sistema Solar. Tendo sofrido relativamente poucas transformações, estes meteoritos conservam informações importantes sobre as condições e processos existentes no início de nosso sistema planetário”, explica o professor.
Ele destaca que os meteoritos oferecem uma oportunidade ímpar para conhecer a estrutura interna de astros, entender como se formam e se desenvolvem. Permitem, ainda, entender questões relacionadas ao surgimento e evolução da vida na Terra. “Colisões de corpos celestes com nosso planeta vêm ocorrendo desde os seus primórdios, como indicam as diversas crateras e estruturas de impacto encontradas pelo mundo. E certos tipos de meteorito são ricos em água e matéria orgânica. Em alguns meteoritos foram detectados até mesmo aminoácidos, que são blocos básicos componentes das proteínas, e também bases nitrogenadas, as quais fazem parte do código genético”, diz. Por outro lado, Daniel lembra que alguns impactos de objetos celestes com a Terra ocasionaram a extinção em massa de espécies, como o que ocorreu há cerca de 65 milhões de anos, quando a maior parte dos dinossauros foi extinta.
ACERVO
A coleção foi organizada em sete blocos temáticos. Cada fragmento possui um tamanho, peso e estrutura diferenciada. Expostos individualmente em pequenas caixas, que lembram porta-joias, evidencia-se o grande valor científico e cultural das peças. “Alguns meteoritos mostram características decorrentes da passagem de um corpo pela atmosfera da Terra, como uma crosta de fusão, de aspecto mais escuro, formada a partir de material derretido pelo atrito com o ar. Outros objetos que teriam sido formados pela transformação de rochas terrestres na colisão de um meteorito com o chão, gerando vidros naturais, em alguns casos com formas aerodinâmicas, moldadas durante o voo após sua ejeção de uma cratera”, descreve.
Foi o professor Daniel quem deu início à coleção, hoje cedida à Holoteca do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (Ceaec) para a realização de atividades didáticas e culturais. Ele conta que o seu interesse pelos meteoritos surgiu do trabalho de ensino, pesquisa e divulgação da astronomia; bem como da busca por uma visão mais ampla sobre o Universo, a vida e sua evolução. “Uma coleção deste tipo é uma ferramenta valiosa para auxiliar na construção de conceitos científicos e permitir a expansão da cultura, pois o contato mais próximo com as peças estimula a curiosidade e fornece exemplos de como as teorias científicas vão sendo elaboradas, a partir de diferentes fontes de evidência”, avalia. A ideia é, no futuro, criar uma exposição permanente das peças.
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
O evento é uma iniciativa da Holoteca, em parceria com o Polo Astronômico do Parque Tecnológico Itaipu (PTI). “A Holoteca possui diversas coleções de artefatos do saber e experiência em organizar exposições. O Polo constitui hoje um centro reconhecido de divulgação da astronomia. A parceria alia os talentos de cada instituição para levar novas ideias à comunidade, que contribuam para a ampliação de horizontes e a reflexão sobre o cosmos e a vida”, avalia.
Para coordenador do Polo, Janer Vilaça, a exposição tem grande potencial educacional e permite desmistificar conceitos sobre objetos que vem do espaço. “O visitante terá contato com objetos muito interessantes, que nos permitem uma leitura diferente do universo, ampliando o conhecimento sobre astronomia”, diz. Um dos meteoritos, chamado Campo del Cielo, pertence ao Polo e poderá ser tocado pelos visitantes.
A exposição estará no Polo Astronômico, em Foz do Iguaçu – PR, até o dia 09 de julho. A visitação acontece de terça a domingo e integra o roteiro turístico, que envolve atividades no planetário e observação do sol e de astros por meio de telescópio. A visita é gratuita para crianças de até 6 anos; pessoas com deficiência; e moradores dos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu e ao Parque Nacional do Iguaçu. Mais informações na página www.turismoitaipu.com.br/atracoes/polo-astronomico.
15ª SEMANA DE MUSEUS
A exposição integra a 15ª Semana de Museus, que acontece de 15 a 21 de maio. A Semana é promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e nessa edição conta com a participação de mais de mil museus de todo o país, que prevem a realização de mais de 3 mil atividades. A programação nacional está disponível em: guiadaprogramacao.museus.gov.br.
A coordenadora geral da Exposição Memórias Siderais, Nara Oliveira, destacou que nesta edição a Semana de Museus apresenta o tema ‘Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus’, que coloca em evidência as relações entre museus e centros de educação pesquisas. “O Ibram, durante as semanas anuais de museologia, debate, entre outros, a relação dos museus com a memória, os desafios e inspirações de um mundo em transformação, a necessidade de trabalharmos em uma sociedade sustentável, o poder das coleções para estabelecer conexões. Todos estes enfoques apontam para a necessidade de transformações nas relações com o conhecimento e demonstram mais do que tendências ou interesses político-ideológicas, mas uma decisão convicta e comprometida dos especialistas que lidam com a educação e cultura e com a democratização do conhecimento”, avalia.
Fonte: Comunicação PTI