Quase todo mundo sabe que é importante, mas ainda tem muita gente que deixa de comunicar quando é alvo de algum crime como roubo, furto ou estelionato. De acordo com o delegado-titular da Divisão de Crimes contra o Patrimônio, Miguel Stadler, a existência de dados específicos sobre cada delito, as regiões em que eles acontecem, e outros detalhes sobre a atuação dos criminosos podem indicar como os agentes de segurança pública do Estado devem atuar, o que aumenta a eficiência no combate ao crime.
Com base nas informações dos registros de crimes, a Coordenadoria de Análise e Planejamento Estratégico da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná indica como as forças policiais podem ser direcionadas, aproveitando ao máximo todo o potencial da estrutura de segurança do Estado.
“É fundamental o registro do boletim de ocorrência, mesmo que tenha sido, por exemplo, o furto de um telefone celular. Todos os dados são relevantes para análise do setor de estatística”, afirma o delegado.
Ele explica que para a polícia é importante verificar não apenas onde o crime foi cometido. No caso dos veículos, por exemplo, havendo a recuperação do bem, também leva-se em consideração onde o carro foi encontrado. “As duas informações podem dizer muito a respeito do comportamento dos marginais e como nós devemos atuar. O registro do boletim de ocorrência pode até aumentar o índice de crimes que estejam subnotificados, mas com a informação correta nós aprimoramos nossa atuação”, explica.
O delegado recomenda que todo tipo de furto ou roubo seja registrado, mesmo que a pessoa acredite que dificilmente o bem furtado ou roubado será recuperado. Ele completa que quanto mais registros o banco de dados tem, melhores e mais assertivas são as operações da polícia, o que, consequentemente, aumenta a proteção da população.
“O planejamento utiliza como base a estatística e os dados georreferenciados. Com os números que temos, definimos planos de ação e estratégias, especialmente as de médio e longo prazo. Construímos mapas com base no cruzamento das informações e isso nos permite trabalhar em diversas frentes. O cruzamento de informações faz com que possamos atuar de forma integrada”, destaca o delegado.
DIFERENCIAL – Ele cita como exemplo o caso do assalto ocorrido em abril deste ano num restaurante do bairro Cabral, em Curitiba, e que teve grande repercussão. “Fizemos o retrato falado digital e em menos de dois dias os marginais foram pegos em uma blitz policial“, conta. Neste caso, a ferramenta do retrato digital, aliada ao registro do crime, permitiu que os suspeitos fossem presos durante o policiamento de rotina na região.
Desde o início do ano, o retrato falado de forma digital, disponível em diversas cidades do Paraná, vai além da confecção do desenho, pois possibilita o cruzamento da imagem elaborada por profissionais qualificados com o acervo de cerca de 80 mil fotografias de todos os que passaram pelo sistema penitenciário. Denominado case board, com base no desenho, o sistema filtra as fotografias que se aproximam da imagem. “Este trabalho auxilia fortemente nas investigações conduzidas pela polícia”, explica a investigadora Daiane Zanon Griesbach.
OUTRAS MEDIDAS – Além do retrato falado digital, outras medidas têm sido adotadas para reduzir a criminalidade. Entre elas, a Operação Impacto, que exigiu rigoroso planejamento meses antes de ser deflagrada e reuniu todas as forças de segurança do Estado – polícias Militar, Civil e Científica, além do Departamento de Inteligência do Estado do Paraná (Diep) e do Departamento Penitenciário (Depen).
A megaoperação durou 30 dias, entre setembro e outubro, e reduziu o número de roubos de veículos em Curitiba. Durante os 30 dias de operação (de 14 de setembro a 14 de outubro), o registro de roubo de carros na Capital caiu 3,49%, quando comparado com o mesmo período de 2015. Além de Curitiba, a Impacto foi deflagrada em dez municípios da Região Metropolitana. Na Capital, 850 pessoas foram conduzidas para a delegacia e em todo o Paraná 6.890 nos 30 dias da operação.
Também foram colocadas em circulação novas viaturas e houve incremento da inteligência da polícia. Operações de formação de barreiras e que envolvem as polícias rodoviárias Estadual e Federal e a Polícia Militar são feitas diariamente e as fiscalizações nos estabelecimentos que comercializam peças para veículos ocorrem semanalmente.
O Grupamento de Operações Aéreas (GOA), implantado em julho deste ano, também tem trazido importantes resultados no combate ao tráfico de drogas, transporte a locais de difícil acesso durante ações policiais, monitoramento, no apoio de ações de inteligência e outras atribuições definidas pela polícia judiciária do Paraná. A equipe integra a Divisão Estadual de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil do Paraná. Um helicóptero apreendido de criminosos, cedido pela Justiça, hoje é usado em ações de segurança.
PARCERIAS – Ao destacar o trabalho integrado entre a população e as forças policiais, o delegado Miguel Stadler cita a importância da atuação dos conselhos comunitários de segurança (Conseg). O de Pinhais, por exemplo, confirma a relevância desta parceria. “Se não informamos o que está acontecendo no nosso bairro, as autoridades policiais vão considerar que estamos num bairro pacato. Mas quem mora sabe qual é a realidade. Nós já compreendemos que a polícia confia em dados, planeja com base em estatísticas. Nosso papel é informar sempre que algo acontecer”, afirma o conselheiro Alceu Pereira Filho.
AEN