Gardene Jardim Caíres é uma mulher de 46 anos, estatura mediana e loira. Possivelmente ela passaria desapercebida pelo hall de um edifício. E é justamente esta característica, a descrição, que faz de Gardene uma criminosa perigosa, procurada pelas polícias de diversos estados, que responde a nada menos que 40 processos.
Ela faz parte de uma quadrilha especializada em furtos qualificados de apartamentos de luxo que atua em diversos estados do Brasil. A suspeita é que esta organização criminosa tenha furtado nada menos que R$ 13 milhões em joias. O último furto aconteceu no dia 5 deste mÊs em Itumbiara, no Estado de Goiás, quando foram levadas joias avaliadas em R$ 1 milhão. Entre as vítimas estão um ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e um ex-secretário de Estado do Paraná.
Sempre com o mesmo modus operandi, e acompanhada de Luciana Rita Carneiro, de 42 anos, as duas mulheres invadiam prédios de luxo para furtar as peças. Entravam nos apartamentos e faziam a limpa. O foco são sempre as joias. Elas passavam desapercebidas pela portaria e, de forma aleatória, escolhiam os apartamentos que iriam fazer o furto – sempre quando os moradores não estavam em casa. Para isso, usavam uma chave micha e ingressavam no imóvel. Depois, saiam tranquilamente dos edifícios com as joias na bolsa.
Gardene foi presa na terça-feira (8) em São Paulo por policiais da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) de Curitiba, da Polícia Civil do Paraná. Na casa dela, os policiais encontraram relógios e algumas joias. As peças mais valiosas, no entanto, já não estavam lá. “A partir da investigação identificamos o endereço dos membros desta quadrilha. Mandamos equipes para São Paulo que confirmaram a residência deles. Quando a Gardene chegou com familiares ela foi abordada e disse que já imaginava porque estava sendo presa”, explicou o delegado operacional da DFR, André Feltes. “Ela afirmou aos policiais, no momento da prisão, que após os furtos as joias eram entregues imediatamente para uma terceira pessoa – que ela não nominou. E que vendia e se desfazia rapidamente dos objetos furtados”, completou. A Polícia Civil do Paraná agora foca a investigação para identificar este receptador.
Luciana está foragida — assim como José Valdo Sandes Pereira, de 49 anos, ex-marido de Gardene que também integra a quadrilha. O trio tem uma vasta ficha criminal. Os registros de Gardene na polícia de São Paulo preenchem 25 páginas. Os três já foram presos e condenados pela Justiça de Santa Catarina. Eles possuem passagens pela polícia por furto qualificado, estelionato, falsificação de documento público, associação criminosa e porte ilegal de arma de fogo.
Eles deixaram o sistema penal e retornaram às ruas para continuar cometendo os mesmos crimes: furtos em apartamentos de luxo. A Polícia Civil do Paraná relacionou pelo menos 12 casos envolvendo esta quadrilha. Eles atuavam desde 2009 e de lá para cá furtaram jóias em partamentos de São Paulo, Pernambuco, Alagoas, Goiás e Paraná.
O delegado Matheus Laiola, titular da Furtos e Roubos de Curitiba, detalha como esta quadrilha agia. “As duas entravam no prédio, uma ficava no andar verificando o elevador e a Gardene entrava no imóvel. Elas têm uma habilidade incrível para abrir fechaduras. A Gardene nos relatou que só não consegue abrir fechadura eletrônica. Ela diz que abre fechadura até com a unha”, explica o delegado. Outra pessoa ficava fora do prédio, num carro, observando as janelas abertas e orientando as mulheres. Era ele quem dava fuga para a quadrilha”, completou.
No estado paranaense, as mulheres agiram em Curitiba, nos bairros Água Verde, Cabral e Cristo Rei, e nas cidades de Cambé e Londrina. No dia 30 de julho deste ano, as duas mulheres entraram num edifício no bairro Cristo Rei. A vítima, que não estava em casa, só deu falta das joias dois dias depois. Ela procurou a Delegacia de Furtos e Roubos e noticiou o crime. As equipes da DFR iniciaram a investigação e, com as imagens das câmeras de segurança do prédio, conseguiram identificar as duas mulheres. A mesma dupla foi flagrada pelas câmeras de outros edifícios, no Cabral e no Água Verde.
“Verificamos que elas vinham agindo em ações sucessivas. Durante a investigação, identificamos o veículo que dava suporte a quadrilha e verificou-se que era um carro com placa clonada. A partir daí a Polícia Civil do Paraná começou a desvendar o crime e identificar a quadrilha”, disse o secretário da Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita.
A quadrilha usava um Honda Fit com placa ETU 2723, da cidade de São Paulo. Ao consultar a placa, percebeu-se que indicava o veículo modelo Ford Fiesta Branco. “Descobrimos que a quadrilha adulterou a placa utilizando uma fita preta. No lugar da letra T, na verdade a letra era I”, explicou o delegado André Feltes. O Honda Fit, com a placa correta, estava no nome de Pereira – apontado como um dos líderes desta quadrilha especializada.
Ele, assim como Luciana estão foragidos e estão sendo procurados pela Polícia Civil do Paraná e também de outros estados. Gardene será transferida nos próximos dias para São Paulo, onde ficará presa e responderá pelos crimes de associação criminosa e furto qualificado.
Assessoria