O jornalista Aluízio Palmar receberá do Poder Legislativo de Foz do Iguaçu, no dia 30 de junho, o título de Cidadão Honorário. A homenagem vai reunir representantes de diversos movimentos sociais e autoridades federais e locais.
Proposta por Nilton Bobato (PCdoB), a condecoração à Palmar tem dois importantes objetivos: reconhecer a relevância de seu legado em defesa da democracia, tanto na luta propriamente dita quanto pelo pioneirismo no jornalismo engajado, com a criação e lançamento do semanário “Nosso Tempo”, em 1980, que denunciava as operações da ditadura, quanto por representar um símbolo de reafirmação da democracia, diante de um momento histórico marcado por uma grave crise institucional e política.
“Aluízio é um importante personagem que está nas páginas da memória do nosso país, uma memória dolorosa, de horror, que não deve ser esquecida, que colocou sua vida, sua integridade física e emocional a serviço da luta pela democracia, da luta por um país melhor”, justificou o parlamentar.
O título será entregue na quinta-feira, 30, às 19h, na Câmara Municipal.
Sobre o Homenageado
A vida de Palmar foi de entrega à liberdade, a justiça e a igualdade. Nascido em São Fidélis, RJ, aos 73 anos de idade, ele foi militante e dirigente estudantil da União Fluminense dos Estudantes, quando cursava Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense, em Niteroi, coordenador do Plano Nacional de Alfabetização (PNA), que era dirigido pelo educador Paulo Freire, dirigente do MR8, movimento revolucionário 8 de outubro, uma das principais organizações de resistência do período. Em 1964, quando o então Presidente João Goulart, “Jango”, foi deposto pelo golpe empresarial e militar, Palmar se entregou a uma luta que deixaria para sempre as marcas das torturas, prisões e exílio que sofreria pelo aparato da ditadura.
Depois de passar três anos organizando e desenvolvendo no Estado do Rio de Janeiro várias formas de luta e devido à uma incessante perseguição política, Aluízio decidiu vir para a Região Oeste do Paraná, onde se dedicou a organizar a resistência à ditadura no campo. Aqui, casou, de forma clandestina, com Eunice Rahmeier, filha de família pioneira de Foz do Iguaçu. Devido a sua luta contra o regime tirano, Aluízio foi preso em 04 de abril de 1969.
No livro Cálices Quebrados, a jornalista Juliana Machado, conta como foi sua conversa com Aluízio Palmar sobre os dias que ele passou na prisão: “Sabe que em todos esses anos eu pouco detalhei esse episódio de minha vida. Interrompe-se. Começa a contar a respeito de uma palestra dada por ele uma vez. Ele diz que é comum nesses eventos que as pessoas o provoquem para que diga o que ele passou dentro da prisão. Interrompe-se novamente. Em seguida, prossegue. “Eu passei tanto tempo no pau-de-arara do DOPS [Delegacia de Ordem Política e Social] que carrego até hoje as marcas no corpo e na alma. Eu era tirado do xadrez quase todas as noites e os companheiros que viam eu saindo, quando viam, ficavam apreensivos. Quando eu voltava, eu voltava diferente”. Insisto no que seja “voltar diferente”. Percebo que ele vai continuar, mas não me responde.
“Sabe, eu penso assim: será que eu tenho que passar por tudo de novo contando? Não, eu prefiro não falar os detalhes, mas foi o ano de 69 todo. Esse suplício, que se repetiu desde a minha prisão, aconteceu na Delegacia de Polícia de Cascavel; no Batalhão de Fronteiras, de Foz do Iguaçu; no quartel da Polícia do Exército, em Curitiba; no Centro de Informações da Marinha e nos centros de tortura das ilhas das Cobras e das Flores, também situadas no Rio de Janeiro. Eram torturas de todo tipo, desde choque elétrico, afogamento, pau de arara. As torturas eram realizadas em plena luz do dia.” Além da dor física, tinha a psicológica. Teve um tenente de Foz do Iguaçu que ameaçou provocar um aborto na esposa de Aluízio assim que ela fosse presa. “Filho de comunista, comunista é. A ideologia é transmitida pelo sangue.”
Toda a trajetória e a memória do período de chumbo foi narrada por Aluízio em seu livro, “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?”, que marca a busca incessante dos presos desparecidos políticos. Como parte de sua luta pelo resgate e preservação da memória histórica, Aluízio trouxe para Foz do Iguaçu, em outubro de 2011, a Caravana da Anistia, que realizou, no Plenário da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, uma concorrida sessão de reparação às vítimas da ditadura na região. Incansável em sua caminhada no resgate das memórias reprimidas, Aluízio Ferreira Palmar promoveu e organizou, também no Plenário da Casa de Leis Municipal, em 27 de junho de 2013, uma Audiência Pública da Comissão Nacional da Verdade, quando as vítimas da ditadura verteram lágrimas ao relatar as torturas sofridas nos centros de tortura.
Em 2010, Aluízio Palmar, em conjunto com outros ativistas sociais, refundou o Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu, que se transformou em um núcleo de luta em defesa das minorias. Palmar também é membro do Comitê de Acompanhamento da Sociedade Civil na Comissão de Anistia, ligada ao Ministério da Justiça e mantém o site de referências históricas:www.documentosrevelados.com.br onde disponibiliza cerca de 80 mil documentos.