O técnico da Seleção Brasileira, Dunga, deu o pontapé inicial no primeiro dia da Semana de Evolução do Futebol Brasileiro. Em sua palestra, propôs reflexões a respeito dos agentes que compõem o universo do futebol.
– A CBF está aberta às ideias, que são o que realmente importam. Não quem é o autor das mesmas. E eu não quero ser o dono da verdade, nem quero ter razão. Eu quero ganhar e chegar, juntamente com todos aqui, ao que é o melhor para a Seleção e ao futebol brasileiro.
A primeira reflexão que o técnico pediu para que o público fizesse foi sobre o imediatismo que cerca todas as análises feitas pela imprensa sobre o desempenho dos clubes e da Seleção Brasileira.
– O futebol é muito mais do que se sabe, do que chega até vocês. Ele é para quem vive os seus bastidores, para quem conhece. É saber o estado emocional dos jogadores, como eles se apresentam, como eles vivenciam e se comprometem com os objetivos do time. Nesse sentido, com essas primeiras informações, é que eu proponho as reflexões da parte de todos vocês.
Dunga ressaltou que, há alguns anos, a CBF vem tomando iniciativas em prol do desenvolvimento do futebol brasileiro, muitas delas passam despercebidas do público.
– Conseguiu-se estipular a data da pré-temporada, a padronização dos campos, uma melhor infraestrutura que possibilite melhores técnicas e o ajuste nas categorias de base, de acordo com as suas necessidades. Hoje, para um garoto ser escalado no time principal, ele tem de cumprir 10 mil horas nas categorias de base.
O técnico destacou igualmente a diferença de estrutura que encontrou à sua disposição quando voltou a comandar a Seleção Brasileira.
– Em 2006, quando assumi pela primeira vez, não havia um banco de dados de jogadores para pesquisar e fazer as convocações. Nem dos jogadores que atuavam na Europa, nem nas seleções de base. Agora, essa situação mudou para muito melhor.
Dunga tem ao seu dispor um banco de dados mais do que completo e adequado para escolher o jogador com quem pode contar. Trabalha ainda afinado com os seus companheiros de comissão técnica e das comissões das seleções de base em uma montagem de estrutura que se repete até a Principal.
– Temos oito observadores espalhados pelas regiões do país, um observador de goleiros no cenário nacional, nas seleções de base, e uma ferramenta específica que mapeia todos os jogadores brasileiros pelo mundo. Isso tudo facilita muito na hora da convocação.
A importância de troca de experiências e intercâmbio com o futebol de outros países é tida como fundamental. Mas com a ressalva de que a importância dessa renovação de ideias não pode se sobrepor nem abrir mão das nossas características, das nossas particularidades e da identidade do nosso futebol. Identidade que para fazer de uma Seleção campeã sempre mostrou a combinação perfeita entre o coletivo e a individualidade.
– Só o talento não ganha campeonato. É preciso ter um sentido coletivo muito forte, porque só as individualidades vão aparecer. O contrário nunca dará certo. A individualidade não pode prevalecer sobre o coletivo.
Dunga enumerou outros requisitos prioritários para a Seleção Brasileira conquistar títulos. Ele sabe bem o que fala, campeão que foi como jogador e técnico.
– Primeiramente, a competitividade, que sempre foi necessária, agora ainda mais, em que o futebol se tornou mais rápido e dinâmico. Depois, o profissionalismo, o comprometimento e o respeito à hierarquia, com diálogo. Não há mais lugar para aquele técnico paizão, que usa o paternalismo como marca de trabalho.
O que foi denominado de “fraquezas” da Seleção Brasileira foi também motivo de análise feita pelo técnico. Isso levando em consideração a disputa das Eliminatórias, que nunca foram fáceis para o Brasil.
– Convoquei 35 jogadores para a disputa das Eliminatórias de 2018. Destes, apenas três disputaram uma Eliminatória – Miranda, Daniel Alves e Filipe Luís -, assim mesmo sem serem titulares, disputaram poucos jogos.
Esse ponto negativo, no entanto, pode proporcionar oportunidades, para o surgimento de jogadores que respondam melhor aos desafios.
– É o momento de surgirem jogadores diferentes, com mais atitude e resposta nas decisões que serão obrigados a tomar.
Radicalmente contrário à tese de que o Brasil já não produz bons jogadores como antigamente, Dunga cita números para comprovar sua argumentação.
– O Brasil é o país que tem o maior número de jogadores que está atuando no exterior. São 1.220 jogadores que saem daqui por ano, sendo de 700 a 800 profissionais. Nas quartas de final da Liga dos Campeões, que é considerado o melhor pela crítica, todos os oito clubes tinham jogadores brasileiros.
O que não se pode exigir do futebol brasileiro é que nossas competições tenham o mesmo nível de qualidade das europeias, segundo Dunga. Ele argumentou:
– Aqui, um clube joga muito mais vezes do que um time europeu. E percorre distâncias que chegam a 90 mil quilômetros por ano, como acontece com os clubes do Recife. Temos as nossas particularidades, que passam também pelo cultura de organização, que debates como este propõem a conduzir para a melhoria do nosso futebol.
No encerramento do painel da manhã desta segunda-feira, debates e perguntas dos presentes aos integrantes da mesa: Dunga, Conte e Levir Culpi. O técnico Oswaldo de Oliveira, presente na plateia, também participou.
CBF