Símbolo de todos os Jogos Olímpicos da Modernidade, a Chama Olímpica faz parte de um ritual realizado desde a Grécia Antiga. O fogo sempre teve caráter sagrado para os gregos: para eles, a história humana começa a partir da desobediência do titã Prometeu, que contrariou a ordem de Zeus, o deus supremo, e roubou os fogos dos deuses para dar aos homens, junto com as ciências e artes. O fogo permanecia aceso nos altares de seus principais templos, como o Templo de Hera, que recebia as competições dos Jogos Olímpicos na Antiguidade.
No passado, raios solares acendiam uma chama em uma pira de Olímpia, cidade que fica a 300 quilômetros da capital Atena. A técnica utilizada pelas sacerdotisas do templo para acender o chamado “fogo puro” requeria o uso da skaphia, uma espécie de espelho côncavo que converge a luz do sol em um só lugar. O rito simbolizava, então, a devolução do elemento divino ao Deus mais poderoso para os gregos.
Uma tradição antiga que remonta às origens do revezamento da tocha era o envio de mensageiros a todas as cidades da Grécia Antiga, com a missão de anunciar a data de início dos Jogos. Junto com o anúncio era proclamada a trégua olímpica, que começava um mês antes do evento e se estendia até o fim das competições. Neste período, as guerras eram interrompidas para garantir o envolvimento de atletas e espectadores nos Jogos. Hoje, o trajeto também serve para anunciar que os Jogos estão chegando.
Na era moderna, a pira olímpica foi acesa pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Amsterdã, em 1928. O escolhido para retomar o ato simbólico foi um funcionário da companhia elétrica da cidade. Mas foi nos Jogos Olímpicos de 1936 que atletas transportaram a chama em tochas até Berlim, cidade-sede dos jogos daquele ano, em um revezamento que só termina com a iluminação da pira olímpica, marcando o início oficial dos Jogos. O idealizador do revezamento foi o alemão Carl Diem: em sua primeira incursão por outros territórios, a tocha percorreu 3.075 km, passou por sete países e pelas mãos de 3.075 portadores.
Um dos momentos mais marcantes da história do fogo olímpico aconteceu em 1964, durante os Jogos de Tóquio. O jovem japonês Yoshinori Sakai, que nasceu em Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945, exatamente na hora em que a bomba nuclear devastou a cidade, foi o responsável por acender a pira. Ao longo dos anos, a Chama Olímpica se consolidou como símbolo de paz, união e amizades entre os povos.
De volta às origens
De acordo com a Carta Olímpica, em sua regra 54, o Comitê Organizador Local é responsável por trazer o fogo até o Estádio Olímpico da cidade-sede – no Rio de Janeiro, será o Maracanã. O cerimonial atual prevê que uma atriz grega, interpretando a sacerdotisa dos tempos antigos, use uma lente para refletir os raios de Sol e acenda a chama em frente às ruínas do templo de Hera. Esta cerimônia está marcada para esta quinta-feira (21) ao meio-dia, no horário local (6h, pelo horário de Brasília).
Depois de aceso, a atriz Katerina Lehou levará o fogo até o Estádio Olímpico da cidade. O primeiro atleta a recebê-la será o ginasta grego Eleftherios Petrounias, campeão mundial nas argolas. Petrounias irá iniciar o revezamento, passando o fogo para o primeiro brasileiro a conduzi-lo: o bicampeão olímpico no vôlei em Barcelona 1992 e Atenas 2004, o ex-jogador Giovane Gávio. O símbolo viajará pela Grécia por seis dias, sendo levado por 450 pessoas – entre eles um refugiado sírio asilado no país, que conduzirá a tocha em nome daqueles que foram forçados a deixar seus países – e percorrendo cerca de 2.234 quilômetros.
O último local do percurso grego da tocha é o antigo estádio Panathinaiko, sede da primeira edição dos Jogos Olímpicos da era moderna, em 1896. Transportado de Olímpia até o Brasil – em um recipiente hermeticamente fechado usado para os deslocamentos de avião – o fogo começa a cruzar o país no dia 3 de maio, partindo da capital Brasília. Mais de 300 cidades fazem parte do trajeto, com 12 mil condutores, entre pessoas comuns, celebridades, atletas e ex-atletas, sendo vedada a participação de nenhum ocupante ou candidato a cargos ou mandatos eletivos. As pessoas que carregarão as tochas foram escolhidas por alguns dos patrocinadores dos Jogos, que receberam indicações de candidatos com histórias de vida que refletem os valores olímpicos.
Chama que não se apaga
A cada edição, diferentes tecnologias são empregadas para evitar que a chama se apague debaixo de chuva, por falta de combustível ou outra intempérie. Por garantia, ainda na Grécia, a equipe organizadora já acende uma chama reserva dias antes da chama principal nascer. O objetivo é evitar que um dia nublado estrague a festa, apague o fogo e haja dificuldade em acender o fogo, mesmo com a utilização de lentes especiais.
Da mesma forma, em cada cidade-sede, o comitê local mantém uma chama reserva para eventualidades. Em seu deslocamento nestes anos, o fogo olímpico já cruzou o Canal da Mancha de navio, enfrentou a neve, mergulhou até a Grande Barreira de Corais, na Austrália, chegou ao espaço, andou de cavalo e camelo e viajou em canoas indígenas.
EBC