Antes de ministrar a aula inaugural do ano letivo da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, o ex-presidente uruguaio José Mujica, respondeu perguntas de jornalistas de diferentes continentes, que perguntaram sobre política internacional e os desafios da crise econômica e política no Brasil.
Sobre o Mercosul, Mujica ressaltou que as indústrias dos países devem se unir para competir com as fabricantes internacionais e não entre si, principalmente das fabricantes de automóveis. “Quanto mais separados nós latino-americanos estamos, mais distante estaremos de poder equilibrar o mundo. Uma América Latina dividida em muitas repúblicas, mesmo com grandes como o Brasil, ainda é pouca coisa para o mundo”.
Pepe, como é chamado pelos uruguaios, criticou a atual política dos países do Mercosul, defendendo uma união entre os vizinhos como forma de proteção ao mercado internacional. “A integração não é mais um sonho, é um grito de socorro, porque o mundo de reagrupa em gigantescas unidades”. Sei que no Brasil há uma velha discussão, de que é preciso primeiro integrar internamente. Entendo isso. Mas já não há tempo: a Europa está construindo uma grande nação, mesmo com um histórico de guerras e massacres. Os Estados Unidos, todos conhecemos, assim como a China. E é com esse mundo que vamos ter de negociar”, disse.
O ex-presidente e atual senador, esteve acompanhado da esposa, a também senadora Lucía Topolansky e do alto representante-geral do Mercosur, Florisvaldo Fier.
“Como vamos negociar com a China, Índia ou Estados Unidos, divididos em um monte de repúblicas? Como jogamos neste mundo?. Não apenas angústia que nasce no meu coração, mas também pessimismo. Equilibrar é juntar-se com o Brasil em nosso continente, algo que tem custado muito e vai continuar custando, porque sobram inimigos da integração e o pior inimigo está na cegueira da nossa própria economia”, disse.
“Os desafios que temos são de caráter político, mas nos falta estatura política. É muito discurso, muito banquete, mas não avançamos. Disputamos entre nós e não temos uma política em comum”, criticou, antes de defender a criação de ministérios que promovam a integração regional.
Questionado sobre o atual momento político da América Latina, Mujica disse que existe na história recente um movimento pendular constante – entre direita e esquerda – e que é importante o ser humano saber conviver com vitórias e derrotas. “Aprendi uma coisa: os únicos derrotados na vida são os que não voltam a se levantar. O problema não é triunfar, o problema é viver: ser derrotado e seguir vivendo”, finalizou Pepe Mujica.