“A toxoplasmose congênita, uma infecção que a mãe transmite à criança durante a gestação, por não ter ainda desenvolvido anticorpos contra a doença, vem a ser a principal causa de cegueira irreversível em nossa região”.
A afirmação é da oftalmopediatra Carolina Andrade, que faz parte da equipe de 17 oftalmologistas do Hospital de Olhos de Cascavel. Segundo ela, o drama destas crianças, condenadas à dependência do braille e da bengala, poderia ser facilmente evitado.
Como se transmite
A Toxoplasmose ocular é uma doença causada por um parasita chamado Toxoplasma gondii, que se transmite de diferentes formas. Uma delas é através dos felinos, especialmente os gatos, que são os grandes disseminadores do parasita no ambiente. Infectados, eles eliminam os ovos desse protozoário pelas fezes, poluem o ambiente e contaminam quem por ali circula. Não é necessário entrar em contato direto com eles, basta dividir os mesmos espaços.
Outra é através da ingestão de alimentos contaminados, como verduras, legumes, água, carne de porco mal cozida e outros. É de fundamental importância que a mulher grávida não vá a lugares frequentados por gatos e não coma carne crua, mal cozida ou mal passada, para evitar que adquira a infecção durante a gravidez.
Pré-natal pode evitar
Ainda de acordo com a oftalmopediatra Carolina Andrade, o ponto de partida do processo de prevenção contra a toxoplasmose congênita está na realização dos exames rotineiros de assistência pré-natal.
“Se a mulher já foi infectada pelo parasita, ela desenvolveu anticorpos, que serão transmitidos ao feto. Neste caso, os exames vão mostrar que não há risco algum. Mas se os exames indicarem que a mulher ainda não foi infectada e, portanto, não desenvolveu anticorpos, é preciso tomar todos os cuidados, porque durante a gravidez, poderá transmitir o parasita para o feto. O toxoplasma pode ir direto para o olho e para o sistema nervoso central. No olho ele deixa uma cicatriz grande, e deixa uma sequela visual irreversível. A criança pode vir a perder completamente a visão. Não tem tratamento que a gente possa fazer depois de nascido com a doença, então o tratamento é durante a gestação mesmo”, diz Carolina Andrade.
Primeiros cuidados
Já ao nascer, a primeira providência deve ser o teste do olhinho, que é fundamental para perceber se a criança já nasceu com alguma má formação como a catarata congênita, o glaucoma congênito, a própria toxoplasmose que é uma doença comum aqui na região Oeste Paranaense.
“Se a criança demorar muito a fazer esse teste e tiver algum problema desse tipo pode correr o risco até de uma cegueira irreversível se não for tratado a tempo”, diz a médica, lembrando que a Organização Mundial de Saúde, orienta que toda criança deve passar por esse teste antes de completar o primeiro mês de vida.
-Na sequencia, de acordo com Carolina Andrade, o ideal é que a criança faça um primeiro check-up ocular com o profissional oftalmopediatra aos seis meses. “Fazemos todos os exames, entre eles, de estrabismo, de possíveis infecções. Se tudo estiver normal, recomendamos retorno a cada 12 meses.
-A consulta anual é importante porque a visão da criança só termina de desenvolver aos sete anos de vida. É um tempo muito longo. Se nesse período acontecer algo que ninguém perceba, pode ficar uma sequela para a vida inteira.
-Não é raro no consultório uma criança chegar com nove anos e não enxergar com um dos olhos. Assim: um olho está normal, a criança foi muito bem na escola e os pais nunca perceberam nada. A gente vai a fazer o teste e num dos olhos não tem visão nenhuma. É a chamada ambliopia, ou olho preguiçoso. E nessa idade já é irreversível, pouco pode ser feito. É uma coisa que fica para a vida inteira daquela pessoa, daquela criança”, diz.