Uma rua na Vila C Nova, de Foz do Iguaçu, tem se tornado referência no bairro por trazer um movimento diferente aos domingos pela manhã. A Rua Fortaleza, para alguns moradores do local, já é chamada de a “rua da feira”. A implementação dessa mudança parte de um projeto de extensão da UNILA, “Feira Popular da Produção Familiar”, iniciativa construída com moradores a partir deste ano. Nas barracas, encontram-se diversos produtos à venda, como hortaliças, frutas, artesanatos, pães, doces, salgados e sucos. Esses produtos são produzidos por moradores de bairros da região norte da cidade: Vila C Nova e Velha, São Sebastião, Jardim Universitário e Cidade Nova 1 e 2.
“A feira traz uma alternativa de desenvolvimento, por meio da valorização da produção local; do aumento da renda familiar; e do mercado justo e sem atores intermediários, o que favorece dois lados: produtores e consumidores. Trabalha-se com um sistema de cadeia produtiva curta, quilômetro zero, que diminui custos com logística e transporte”, explica o bolsista do projeto e estudante do curso de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar, João Pedro Wicinovski. Atualmente, o acadêmico atua, ainda, em uma pesquisa – que integra seu projeto de conclusão de curso -, sobre os impactos econômicos, sociais e culturais dessa feira.
A vertente sociocultural também marca presença na feira, a partir de iniciativas dos moradores, a exemplo de atividades musicais em meio ao comércio dos produtos. “As feiras são, historicamente, espaços de trocas. Elas têm a capacidade de expor produtos, além de possibilitar a troca de ideias e informações. No caso da feira na Vila C, um de seus desdobramentos foi a criação de um espaço público de referência na região para o lazer e encontro, extrapolando, assim, a ideia típica de feira como local apenas de negócio”, contextualiza o professor do curso Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar da UNILA, Exzovildres Neto, coordenador do projeto.
Diálogo
Um dos subsídios para a implementação da feira na Vila C foi uma pesquisa sobre mapeamentos de hortas urbanas, realizada na UNILA por meio do Programa de Incentivo e Envolvimento com a Comunidade (Probiec). Nela, percebeu-se a existência de um grande número de hortas de produção familiar na região norte de Foz do Iguaçu, precisamente na Vila C e bairros lindeiros, sobretudo no espaço periurbano. No entanto, não havia locais adequados para a comercialização, troca de conhecimentos e interação com o público consumidor. A partir dessa constatação, iniciou-se o diálogo com os moradores, com aplicação de questionários e encontros para discutir a implementação da feira.
Antes do pontapé inicial, integrantes do projeto procuraram a Vigilância Sanitária e a Prefeitura, para buscar apoio e garantir o funcionamento da feira em condições adequadas. Também tiveram a contribuição da Escola Municipal Padre Luigi Salvucci, cuja diretora cedeu, inicialmente, um espaço para que a feira acontecesse. Hoje, a iniciativa ocorre na rua, em frente à escola. “A construção da feira é democrática, com a tomada de decisão coletiva. Uma das decisões gerais dos atores envolvidos foi a de que a feira deveria ser em espaço aberto, na rua, e que eles ficariam responsáveis pela compra e montagem de suas barracas”, pontua o acadêmico João Pedro.
Fruto, portanto, desse diálogo e com articulação e construção coletiva, a primeira feira aconteceu – debaixo de chuva e com fluxo intenso de pessoas – no dia 12 de julho deste ano. Mais estruturada e fortalecida pelo apoio de moradores e instituições da Vila C, como escola, centro comunitário e igreja, hoje a feira já conta com um regulamento – marco que serve como norte, incluindo um direcionamento sobre o ingresso de novos produtores. O objetivo do projeto de extensão é que essa iniciativa seja autogestionária, com autonomia dos moradores, para que possam dar continuidade à apropriação dessa feira e seguir com tomadas de decisões a partir do diálogo entre os atores envolvidos.
Planejamento e formação
Um dos eixos do curso de Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar da UNILA é planejamento e gestão de projetos. O projeto da feira nasce dessa vertente, que inclui a implementação de projetos sociais. “Trabalhamos no curso questões sobre o levantamento de problemas da realidade, a articulação das instituições e atores sociais, o planejamento e a concretização de projetos, por meio de assessoria e consultoria às comunidades interessadas”, explica o docente Exzovildres Neto.
“Esse é um trabalho que não se limita à feira, mas também é um projeto de formação extensionista rural, com diálogo e aplicação dos conhecimentos. Isso mostra que o curso na UNILA tem uma função social de atender às necessidades que partem da sociedade”, complementa o estudante João Pedro, que, na UNILA, teve a contribuição dos colegas de curso Leandro Raggi e Leonardo da Silva Lopes, voluntários do projeto, e Vinícius Stormoski.
Crédito:
Unila
“Coletivo pra quem tem disposição”