Fonte: Jornal de Londrina
O tenente-coronel Mauro Rolim de Moura, chefe do Estado-Maior do 2º Comando Regional – autoridade no comando de cinco batalhões de policiais militares e quatro companhias na região norte do Paraná – é um dos 17 indiciados na Operação Ferrari. A investigação da Polícia Federal desmantelou uma quadrilha de traficantes cujos líderes moravam em Londrina e acumularam fortunas estimadas em R$ 40 milhões.
O comandante regional da PM foi conduzido à sede da PF de Londrina na manhã desta segunda-feira (15), onde prestou depoimento após ser alvo de um mandado de condução coercitiva. Ao final, foi indiciado.
De acordo com fontes internas da PF, Moura não integra a quadrilha de traficantes. No entanto, o monitoramento de vigilância e as escutas telefônicas teriam revelado a amizade entre o oficial da PM e um dos quatro coordenadores do tráfico presos em Londrina.
A suspeita é de que Moura frequentava residências e tinha laços sociais com um dos líderes do tráfico em Londrina. Na investigação, a PF descobriu que o amigo-traficante teria o costume de presentear o comandante.
O envolvimento de um membro do alto escalão da PM de Londrina com a apuração causou indignação nos policiais federais que participaram da Operação Ferrari.
Posição da PM
Por nota, a assessoria da Polícia Militar informou que “tão logo sejam avaliadas as acusações que pesam contra o Oficial Superior, e que sustentaram o seu indiciamento, analisará a repercussão do fato no âmbito da Corporação.” A PM confirmou que o depoimento de Moura na PF foi acompanhado pela Corregedoria-Geral do órgão.
Fontes do alto escalão da PM confirmaram, também, que Moura pode ser recolhido no quartel e deve responder a um procedimento administrativo para verificar as condições de permanência do oficial na corporação.
A reportagem tentou contato com Moura na sede do 2º Comando Regional, mas ele já havia encerrado o expediente e ido embora perto das 17h30. O assessor de comunicação da PM em Londrina, capitão Ricardo Eguedis, também não atendeu a ligação do JL.
Gaeco também apontou ligação de oficial com Luiz Abi
Não é a primeira vez que o tenente-coronel Mauro Rolim de Moura aparece próximo a personagens suspeitos de crimes – inclusive contra o patrimônio público.
Em março deste ano, o Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Londrina também descobriu que comandantes do alto escalão da PM local frequentavam a Oficina Providence Auto Center, empresa que os investigadores acreditam pertencer a Luiz Abi Antoun, primo distante do governador Beto Richa, investigado em fraudes de licitação para o conserto de viaturas do governo.
Em uma escuta telefônica autorizada pela Justiça, em 23 de janeiro de 2015, Ismar Ieger – considerado como o dono laranja da oficina – conta à mulher que vários policiais estavam reunidos na empresa com Abi. Entre eles, o coronel Samir Elias Geha, ex-comandante do 5º Batalhão da PM, e o comandante Rolim de Moura. Em outra conversa, Ieger cita o comandante algumas vezes e diz que vai procurá-lo na sede regional da PM em Londrina. No entanto, as conversas não deixam claro o real motivo da aproximação entre Ieger, Abi e o comandante Moura.
Operação Ferrari prendeu 16 pessoas
No balanço de encerramento da operação, a PF divulgou que 16 pessoas foram presas e quatro permaneciam foragidas. Mais de 30 contas bancárias e imóveis foram sequestradas pela Justiça Federal.
Em Londrina, três condomínios de alto padrão foram vasculhados por mais de 300 agentes mobilizados pela operação. Foram apreendidos 42 veículos de luxo – alguns no valor de R$ 200 mil – um iate, 27 caminhões, duas motos importadas, 91 relógios e jóias, 37 celulares. Em dinheiro, na casa de um dos investigados, a PF obteve R$ 634 mil e outros R$ 460 mil em cheques. Ao final do dia, os presos foram transferidos para a carceragem da PF em Curitiba.
Segundo a Polícia Federal, para camuflar os lucros obtidos com o tráfico de cocaína – a pasta base vinha do Paraguai e era refinada em Salvador (BA) e Indaiatuba (SP) – os coordenadores adquiriram empresas em funcionamento para servirem de fachada para a movimentação bancária. Em um posto de combustíveis, que dá nome à Operação, boletos com compra de combustível eram emitidos e pagos como forma de lavar recursos do tráfico de drogas.