Você sabe quanto vale o dólar? No início de março a moeda rompeu pela primeira vez em 10 anos a barreira dos R$ 3. A cotação da moeda muda a cada dia, mas essa variação não é importante apenas para os economistas. Isso porque, o preço do dólar também pode interferir no seu dia a dia.
A tendência, segundo analistas, é que a moeda dos EUA permaneça num patamar mais elevado diante do cenário político e econômico conturbado e das incertezas sobre o ajuste fiscal das contas públicas brasileiras. Mas, apesar de ter subido também em relação a outras moedas, por causa de uma expectativa de aumento dos juros da economia americana, é na comparação com o real que o dólar apresenta uma de suas maiores altas.
Em menos de três meses, a cotação do dólar vendido no Brasil passou de R$2,69 para R$ 3,19, uma diferença de R$ 0,50. Esse é um fenômeno que vem sendo verificado desde setembro de 2014, quando a cotação estava abaixo de R$ 2,3. Pode parecer pouco, mas qualquer valorização do câmbio causa um enorme impacto na economia, porque afeta o preço de produtos importados, encarece as viagens ao exterior, interfere em contratos firmados em dólar e, por fim, pressiona a inflação. Entenda, abaixo, como funciona a cotação do dólar.
O que é câmbio?
Antes de abordar a alta do dólar, é preciso entender o conceito da taxa de câmbio. Câmbio é a relação de preços entre duas economias, tem o objetivo de facilitar as transações comerciais entre os países. Como qualquer problema econômico impacta o valor da moeda, por isso a taxa de câmbio é flexível.
Quais são os motivos que estão levando o dólar às alturas?
Para o professor de Economia da Universidade de Brasília, Flávio Basílio, a correção da valorização do real perante o mercado internacional deveria ter acontecido antes. “O que causa estranheza é a velocidade com que isso acontece e causa a volatilidade do real perante o mercado”, explica. O real estava valorizado com relação a todas as moedas e isso é ruim quando se analisa a balança comercial, trazer investimentos para o Brasil se torna mais difícil.
O fortalecimento da economia dos EUA e a crise política e financeira da Europa são problemas externos que estão pressionando o câmbio e causando a desvalorização do real. O dólar deve fugir ainda mais do Brasil porque os norte-americanos planejam subir, até a metade do ano, sua taxa de juros, atualmente em 0,25%. Isso pode fazer o dinheiro dos investidores render mais por lá do que aqui.
Para Basílio, resta saber se isso é um problema ou não. “Já havia uma necessidade de ajuste de câmbio, o problema real é a velocidade com que isso aconteceu, a volatilidade do câmbio, sim, é um problema, pois gera incerteza e afeta a credibilidade do mercado nacional”, completa. O economista explica que esse ajuste, apesar de importante, não garante o fortalecimento da economia brasileira, pois ainda há um reajuste a se fazer com relação a outras moedas.
Como os fatores externos afetam a cotação da moeda?
O economista Flávio Basílio explica que a valorização do dólar aconteceu frente a todas as moedas, devido a expectativa de aumento da taxa de juros nos EUA. Já a moeda brasileira precisava de uma correção, “o câmbio que tínhamos não era sustentável a longo prazo”, pontua.
As oscilações da cotação do dólar variam de acordo com a lei da oferta e da demanda – quanto maior a oferta da moeda americana, menor é sua cotação. Porém outros fatores podem causar influências nessa variação. O risco-país é um conceito utilizado para tentar definir o grau de instabilidade econômica, mostrando aos investidores qual é o perigo de se investir em um país. Quanto menor o índice de risco de um país, maior é o número de investidores estrangeiros, consequentemente mais dólares circulando no mercado daquele país.
O que o governo pode fazer para conter a instabilidade cambial?
O governo também pode exercer influência, quando interfere no mercado para estabilizar o dólar e deixar o real desvalorizado. Essa medida torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional e aumenta as exportações e investimentos, importantes para o país.
Basílio explica que, historicamente, as interferências do governo foram tardias. “Estamos observando uma repetição do que aconteceu em 1999, 2002 e 2003. Não se pode deixar a moeda nacional se valorizar tanto, pois quando ocorrem ajustes, eles acontecem muito rápido e geram instabilidade”, completa. Para Basílio, o Banco Central deve atuar de forma mais forte, para prevenir a apreciação. “A curto prazo, a valorização da moeda ajuda a conter a inflação, mas gera a volatilidade do mercado quando acontecem ajustes”, disse.
O que faz o mercado oscilar?
Basílio destaca que a política fiscal, o patamar de importações e explortações, a competitividade do mercado e o nível de investimentos internos também influenciam no fortalecimento da moeda.
Por que existem diferentes cotações?
Se você for comprar a moeda para viajar, certamente vai pagar um valor ainda maior do que vê em todos os noticiários. Isso porque, seja o dólar que define o valor de compras de produtos de outros países, ou dólar para quem vai viajar, as cotações são diferentes para várias operações. Os tipos de de dólar são: comercial, turismo e paralelo.
O dólar comercial é utilizado em transações no mercado financeiro, como importações e exportações. Já o dólar turismo é usado em compra de moeda para viagens. O dólar paralelo, como o nome diz, é o dólar usado em transações que não passam pelo controle do Banco Central. É considerado ilegal.
Eles têm valores diferentes, porque o comercial é cotado pelo mercado, mas o governo consegue influenciar comprando e vendendo a moeda norte-americana. Já o dólar turismo é mais caro, porque os bancos e agências pagam taxas, os custos da importação e somam ainda o que vão ganhar com as operações. Já o paralelo não tem nenhum tipo de controle.
EBC