Desde o último domingo, o ídolo do futebol Alex deixou os campos de jogo e se aposentou como jogador. O camisa 10 realizou sua última partida atuando pelo Coritiba, seu clube do coração. De agora em diante, o craque será destaques fora de campo, principalmente por ser um destaque também com as palavras. Em uma de suas primeiras participações como ex-jogador de futebol, Alex comentou sobre os tempos de Palmeiras, Cruzeiro e Coxa, além do papel como líder do Movimento Bom Senso e a tristeza por nunca ter disputado uma Copa do Mundo.
Abaixo, confira os principais assuntos debatidos durante o Programa Bate-Bola, da ESPN Brasil, transmitido nesta noite de segunda-feira, com a participação especial do meia, que contou também com a presença do meia Tostão, ídolo do Coritiba no final da década de 80, e no qual Alex diz ter pegado emprestado a camisa 10.
Sobre Tostão: Estou devolvendo a 10, fazendo aquilo que fiz no Palmeiras com o Ademir da Guia, no Cruzeiro, com o Dirceu Lopes e no Coxa com o Tostão. A partir de ontem à tarde, devolvo a camisa 10 do Coxa que sempre foi dele. Eu era um menino, cheguei com nove anos no Coritiba, convivia no Couto Pereira e ele (Tostão) era o cara do time. Fazia a ligação do meio para a ataque. Jogavam com um volante e dois meias, o Tostão era o meia que se aproximava mais. Todo clássico contra o Atlético-PR era ele quem decidia. Ele me encantava por isso. Essa era a imagem que toda criança tem.
Retorno ao Coxa: Eu poderia estar no Cruzeiro, ser bicampeão do Brasileiro, mas não mudaria minha história lá. Eu voltei para o Coxa porque volta todo aquele sentimento de menino, de jogar no seu time. Retornei para ter a satisfação de jogar no meu time.
Momento mais difícil na carreira: Quando eu fui vendido ao Parma foi uma negociação por parte técnica. O clube vem, contrata e leva o jogador. Ainda tenho dúvidas se o Palmeiras recebeu o dinheiro na época. Fui para a justiça comum, ganhei uma liminar e joguei pelo Cruzeiro. A FIFA me puniu por ter um contrato com o Parma e com o Cruzeiro. Pensei que iria acabar. Teria que retornar ao Parma após a Copa de 2002 e quando acertei com o Parma, voltei para o Palmeiras. Quando começou a temporada na Itália, sabia que não ficaria. Ficamos uns 25 dias discutindo na pré-temporada até rescindir e retornar ao Brasil. Voltei ao Brasil em um fracasso no Flamengo e no Cruzeiro. No Palmeiras não foi fracasso por conta da minha primeira passagem. Seis anos antes o Cruzeiro tinha me mandado embora por telefone. Quando voltei, o único time interessado foi o São Caetano. Aí apareceu o Luxemburgo oferecendo um contrato baixo. Entre abril de 2011 e setembro de 2002 foi o período mais complicado. No meio disso veio uma Copa do Mundo que achei que iria, mas acabei não indo. Achei que a coisa ia desandar, mas o Luxemburgo me bancou e a regularidade veio. Vinha de dois anos ruins, como iriam contratar um jogador que não tinha rendido no Flamengo, Palmeiras e próprio Cruzeiro. A partir do momento que ele me banca, eu faço um compromisso com ele.
Sobre Luxa e Felipão: Como treinador, o Felipão me ajudou muito. Cheguei ao Coritiba aos 16 anos, não tinha pressão nenhuma. Quando cheguei ao Palmeiras, vi a pressão para ganhar a Libertadores e o Felipão sempre me bancou. Como treinador, falhou comigo no momento do Mundial porque eu tinha certeza que iria, nós conversamos sobre isso. Não se justificou e nem deve, porque ele era o treinador. Com o Luxemburgo, quando ninguém me queria, ele me bancou. Tive que perder treinamentos, concentração, viagens por assuntos particulares. E ele bancou isso. Minha relação com o Wanderlei era muito próxima.
Como vê o Palmeiras de hoje e da sua época: O Palmeiras não montou um time da maneira que o palmeirense gosta, passou sufoco, mas ainda bem que se safou para poder pensar em coisas melhores para o ano que vem. O meu Palmeiras, em 1997, tinha o objetivo de ganhar a Libertadores. Trouxe o Felipão e jogadores que ele gostava. Dois anos mais tarde conseguimos conquistar a Libertadores. Ninguém salvaria o Palmeiras esse ano, era obrigação dele, ninguém tinha que fazer nada por ele. Deu sorte de chegar em uma condição melhor que o Bahia e Vitória. Tratamos o jogo do Bahia para tentar vencer e fechar com bem o campeonato. Foi tanta festa durante a semana que o primeiro tempo nós passeamos em campo. Mas não pensei no Palmeiras nesse último jogo.
422 gols na carreira: Um dia desses, me passaram os números e me chamou a atenção que, dos meias, só Zico e Pelé fizeram mais gols que eu. Me sinto o melhor, porque os dois são ETs né. Já fiz muitos gols, mas nunca fui de ligar tanto. Futebol tem que jogar simples, o que é mais simples fazer, tirar do Prass ou dar o gol para o Joel? Dar a assistência pra gente comemorar junto (se referindo ao jogo contra o Palmeiras).
Reencontro com o Palmeiras: Pra mim foi difícil, porque os times chegaram em situações parecidas. O Palmeiras tinha dois pontos a mais e sabíamos que quem perdesse teria dificuldades nas rodadas seguintes. Foi um dia muito complicado para mim, porque sabia que tudo isso poderia acontecer.
Sobre o atual Cruzeiro: São líderes desde o ano passado, fizeram um trabalho fantástico. O Cruzeiro está de parabéns. O Marcelo Oliveira, em Curitiba, é muito respeitado, teve a infelicidade de dois vices na Copa do Brasil, mas fez um trabalho muito bem. Falavam que o Marcelo nos jogos finais sempre inventava algo. Eu não acredito nisso, no dia do jogo, outros jogadores foram melhores e o Coritiba perdeu.
Melhor ano foi em 2003: Tive o ano de 2003 e o ano seguinte da Turquia, que ganhamos do Chelsea. Eu estava entre os dez melhores da Champions. Mas tecnicamente, aqui no Brasil, meu ano no Cruzeiro foi o melhor deles.
Futebol em Minas: O Atlético-MG e Cruzeiro tenham sido as melhores equipes porque propõem o jogo, tanto dentro e fora de casa. Só assim dá pra gente melhorar o nível dos jogos.
Mudanças no futebol brasileiro: O antigo camisa 5 era aquele escalado para sair de trás e colocar a bola na frente, sempre com muita leitura. Hoje tem poucos jogadores que conseguem fazer isso. O Pirlo tem 37 anos e joga caminhando, talvez seja o melhor jogador nesse quesito, porque é inteligente. No Brasil, para proteger o lateral, coloca-se um volante. O cara vira um marcador de lateral. O que precisa ter é o uso da característica. O Levir conseguiu fazer isso no Atlético-MG. Fixou um volante e colocou os caras de movimentação na frente, com qualidade técnica, com velocidade. O uso da característica às vezes é mal utilizado. No sentido de usar essas características, acho que poderia ser diferente, o futebol poderia ser mais bonito de se ver.
Melhor parceiro e melhor marcador: Aristizábal no Cruzeiro. Ano foi mágico, tudo acontecia. Gostava de jogar com o Evair no Palmeiras, mas não jogamos por muitas vezes. Já para ser marcado, era difícil jogar contra o Corinthians de Vampeta e Rincón. O Fred (Rincón) tinha uma leitura de equilíbrio na frente. Tinha tanta inteligência que desequilibrava de um jeito absurdo. E o Vampeta achava os atacantes de forma muito fácil, tinha um bom passe.
Calendário brasileiro: Em termos de viagens é complicado. Com três horas e meia você vai de Curitiba a Salvador. Essa logística é bem mais difícil que na Europa.
Bom Senso: Acredito que o futebol brasileiro tem que ser discutido e melhorar. Os jogadores têm medo da retaliação. Se você olhar desde o início, verá quem são os jogadores que bateram de frente. Paulo André foi embora, Juninho Pernambucano estava em fim de carreira, o Seedorf no Botafogo. Outros atletas são sempre nomes fortes nos clubes. Mas no ano passado, nenhum jogador do Cruzeiro falou do Bom Senso. Esse ano, vi uma entrevista do Marcelo Oliveira falando do calendário. Mas estamos falando isso bem antes. É aquela história, se está bom pra mim, porque vou me envolver em outra situação. Jogador ainda tem medo de possíveis retaliações.
Sindicatos: Queremos caminhar junto com os treinadores, jogadores de futebol profissional para criar uma associação que possa seguir. Montar um grupo de cinco ou mais pessoas, uma de cada setor, para discutir alguma coisa, algo que atualmente não temos. O que vejo é que as pessoas estão pouco preocupadas em pensar o futebol. Se preocupam mais com o quanto uma medida vai dar (em termos financeiros).
Seleção Brasileira: Falar sobre o Dunga ainda é cedo. O problema maior foi quando perdeu para a Holanda, porque ele era muito bom, as discussões eram sobre seu comportamento com as pessoas. Mas de resultados, era bom. Ele volta tentando refazer uma equipe que vem de desastres. Sobre o 7 a 1, não vejo um abismo. Os jogadores se perderam. O momento da Alemanha foi ótimo e do Brasil foi ruim. Mas o 7 a 1 foi um bônus enorme, não precisávamos disso tudo para perceber a situação do futebol brasileiro.
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