O arcebispo de Cascavel, dom Mauro dos Santos, nomeou dois padres que terão a responsabilidade de investigar denúncias de desvio de recursos na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizada no Bairro Neva, em Cascavel. O padre Alfeu Leonidas Teodoro e três funcionárias da secretaria paroquial são suspeitos de falsificação de assinaturas dos tesoureiros nos balancetes enviados ao bispo. Segundo a denúncia, eles lançavam duas vezes as despesas e estornavam os dízimos. Duas secretárias supostamente envolvidas no esquema têm grau de parentesco com o religioso e a terceira trabalha há mais de dez anos na paróquia.
Dom Mauro não falou em valores, mas de acordo com uma fonte que preferiu o anonimato, foram desviados mais de R$ 850 mil dos cofres da igreja. São recursos de dízimos e ofertas de fiéis além de dinheiro obtidos com festas religiosas. Os desvios estariam ocorrendo desde janeiro de 2011, quando o pároco assumiu a igreja.
O arcebispo disse que após o pedido de investigação, convidou os membros do Conselho Econômico Paroquial para uma reunião do Colégio de Consultores da Arquidiocese. No encontro, a denúncia foi formalizada por escrito. Dom Mauro disse ter informado ao pároco que negou as acusações.
“Eu informei-o de todas as denúncias para ele ter ciência do que está sendo denunciado. Ele diz que é inocente e eu não posso julgar nada agora porque serei o juiz. No momento em que abrir o processo caberá a mim o julgamento. Então eu não posso antecipar o meu parecer porque preciso ter em mãos toda a investigação feita pelos dois padres”, diz o religioso.
Os dois padres que terão o papel de investigadores têm até o dia 30 de setembro para ouvir todos os envolvidos e apresentar o relatório. O julgamento segue o rito do Código de Direito Canônico. Por enquanto, o padre Alfeu continua respondendo pela paróquia. Com base no relatório, o arcebispo decidirá se abre ou não um processo administrativo contra o padre. Dentro das leis da Igreja, em um processo administrativo as investigações são encaminhadas para um promotor de Justiça canônico que pode apresentar a denúncia ou não.
“Ele vai analisar todas essas documentações e investigações à luz do Código de Direito Canônico. Se ele oferecer a denúncia vai para julgamento”, explica o arcebispo.
Caso o promotor chegue à conclusão de que não há dados suficientes para apresentar a denúncia, o processo é arquivado.
Se houver condenação, o padre poderá recorrer a outras duas instâncias dentro do Tribunal Eclesiástico, ambas no Vaticano.
“O bispo é autoridade máxima, mas existem decisões do bispo que podem ser questionadas. O padre pode questionar perante a Justiça Eclesiástica na Congregação para o Clero, em Roma”, afirma dom Mauro.
O arcebispo metropolitano destaca que durante toda a sua vida religiosa e mesmo quando atuava como servidor público federal nunca engavetou processos.
“Sempre encaminhei para quem deveria ser encaminhado. Como bispo, também sempre tomei decisões que deveriam ser tomadas à luz do Código do Direito Canônico, não na base do que eu acho, mas o que tem que ser feito”, diz.
Dom Mauro ressalta, no entanto, que é preciso ter prudência.
“As pessoas que têm provas devem denunciar, mas quem não tem, só ouviu falar, pode colocar na berlinda nomes de pessoas que poderão ser maculados para sempre, sem ter como reabilitar a honra. Então, a prudência é o melhor caminho”, diz.
Fonte: Gazeta do Paraná