O ano de 2013 na América do Sul foi marcado por eleições no Chile e no Paraguai, crise econômica na Argentina, a morte de Hugo Chávez, na Venezuela, e aprovação de leis consideradas polêmicas no Uruguai.
A Argentina passou por instabilidade econômica em 2013, especialmente na área cambial, o que intensificou a insatisfação da população em relação à presidência de Cristina Kirchner – justamente no ano em que o kirchnerismo completou uma década. No início do ano, o governo anunciou medidas para conter o mercado de dólares no país, devido à deterioração do câmbio argentino. Em março, a moeda norte-americana chegou a valer 8,45 pesos, o que fez a cotação do dólar disparar no mercado paralelo. A crise, entre outros fatores estruturais, está relacionada à falta de confiança da população no sistema bancário e o medo da inflação – que atinge o país de forma intensa desde a década de 1970.
A crise econômica aumentou as críticas em relação ao governo de Cristina, que ainda teve de se submeter a uma cirurgia cerebral em setembro por causa de um edema. A situação de saúde da presidenta gerou instabilidade e insegurança política, especialmente por ter ocorrido pouco antes das eleições legislativas no país, que definiriam o apoio ao governo para as eleições presidenciais de 2015. A situação perdeu poder, mas manteve o controle do Congresso.
Paralelamente, a opinião pública argentina discutiu a Lei de Meios Audiovisuais, considerada constitucional pela Suprema Corte do país. A lei foi aprovada em 2009 e regula o monopólio dos meios de comunicação. Desde então, o Grupo Clarín, principal opositor do governo Kirchner, contestou a lei na Justiça. O grupo tinha mais concessões no setor do que o permitido pela lei em questão.
No Chile, duas mulheres disputaram as eleições presidenciais de 2013, que terminou com a vitória da ex-presidenta Michelle Bachelet, que governou de 2006 a 2010. Ela foi eleita com 63% dos votos para substituir o atual presidente Sebastián Piñera.
O maior desafio do governo de Bachelet será implementar as medidas prometidas em campanha, entre as quais está a reforma da Constituição. A presidenta eleita tem maioria no Congresso, mas terá de negociar com a oposição para dar conta dos dois terços necessários à alteração da Carta – que limita a atuação do Estado na economia e dificulta reformas tributárias que viabilizem o financiamento de reformas sociais.
No Uruguai, o destaque de 2013 foi o próprio presidente José Pepe Mujica, conhecido pela simplicidade e pela abordagem de temas considerados polêmicos – o que rendeu ao país o título de o mais liberal da América do Sul. Em seu governo, foram aprovadas leis sobre a união de homossexuais, a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação e a legalização da maconha.
O Uruguai foi eleito pela revista britânica The Economist o país do ano, que destacou o papel de Pepe Mujica. O país ainda participou em 2013 do processo de paz na Colômbia e enfatizou os benefícios da integração no continente. Em dezembro, Mujica ofereceu a costa Sudeste uruguaia para os paraguaios e bolivianos fazerem comércio – países sul-americanos sem acesso ao mar. De acordo com ele, o objetivo da medida é fortalecer o Mercosul.
No Paraguai, depois do episódio de impeachment do presidente Fernando Lugo, em junho de 2012, Horácio Cartes foi eleito em abril deste ano com o acompanhamento de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) e viabilizou a volta plena do país ao Mercosul. O Paraguai havia sido suspenso do bloco desde junho do ano passado, depois de os países-membros – entre os quais o Brasil – terem questionado a lisura do processo de impeachment e o terem considerado uma quebra do regime constitucional no país.
O retorno pleno do país ao bloco ocorreu depois de o Senado paraguaio ter aprovado a adesão da Venezuela ao Mercosul – que havia sido feita pelos outros membros no período em que o Paraguai esteve suspenso, o que gerou um entrave. O projeto para a aceitação venezuelana no bloco estava estagnado no Congresso paraguaio desde a gestão de Lugo, que não viabilizou a aprovação por oposição de parlamentares contrários ao governo.
Em 2013, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram um período de cessar-fogo unilateral e retomaram o diálogo com o governo pelo fim do conflito armado no país. A expectativa é a de que as partes encontrem uma forma de garantir a participação das Farc na política colombiana.
Na Venezuela, os destaques do ano foram a morte de Hugo Chávez, em março, e a eleição de Nicolás Maduro, em abril. Em 2013, além da oposição política e das dificuldades no campo econômico, o governo de Maduro enfrenta inflação alta – acumulada este ano em mais de 50% -, escassez de alimentos e especulação e especulação monetária.