A instalação de um radiotelescópio, projeto desenvolvido com o apoio da Nasa, vai permitir aos estudantes cegos “ouvirem” os astros no Polo Astronômico Casimiro Montenegro Filho, no Parque Tecnológico Itaipu. O sistema está em fase de testes e deve ser o primeiro de escuta astronômica na região de Foz do Iguaçu.
O aparato vai transformar a radiação captada de Júpiter e do Sol em ondas sonoras, com faixas audíveis aos ouvidos humanos. “No espaço não há som, mas cada corpo celeste emite uma radiação que pode ser decodificada em sinais sonoros”, explicou Janer Vilaça, coordenador do Polo Astronômico. “É como uma emissora de rádio, só que neste caso sintonizaremos as faixas de Júpiter e do Sol”, completou.
O radiotelescópio serve tanto para a inclusão quanto ao aprimoramento da pesquisa astronômica. Para os alunos cegos, o aparelho permitirá uma nova experiência sensorial sobre o espaço. Hoje, eles já aprendem astronomia de forma analógica, por meio do tato em peças do Polo Astronômico e de maquetes em alto relevo criadas pela monitora e pedagoga Sioneia Rodrigues. “Agora, as pessoas cegas também terão essa experiência tecnológica”, disse Vilaça.
Segundo o coordenador, alunos cegos da Escola Municipal Ponte da Amizade, no Jardim Jupira, devem participar dos experimentos.
Pesquisa cruzada
No campo da pesquisa científica, a coleta de dados sonoros ajudará a entender melhor o comportamento dos astros. Segundo Vilaça, também serve para compará-los com informações visuais observadas, por exemplo, com o telescópio solar do Polo Astronômico.
A ideia é que este seja o primeiro radiotelescópio de uma rede integrada em Foz do Iguaçu. As escolas visitantes do Polo serão estimuladas a criarem seus próprios centros de radioastronomia, que poderão se comunicar com o Polo Astronômico.
A proposta é alinhada ao Projeto Jove (variação de Júpiter, em inglês), da Nasa, que cedeu o receptor e o conhecimento para os radiotelescópios com finalidade educacional e de pesquisa. Todos os dados coletados também podem servir a diversos estudos e também serem submetidos ao arquivo do Projeto Jove da Nasa.
Estrutura
A estrutura do radiotelescópio é simples. Dois cabos de aço, com dez metros de comprimento, são instalados juntamente a quatro pararraios, cada um com cerca de cinco metros de altura.
Os cabos servem de antena, e depois são ligados a um receptor. No radiotelescópio do Polo Astronômico, o pequeno receptor enviado pela Nasa serviu como modelo para o desenvolvimento de um outro aparelho com a mesma função e mais potente.
O equipamento está sendo devolvido por dois voluntários: os engenheiros Rômulo Rômulo Gonçalves Bainy e Moacir Fonteque Júnior, este último empregado da Segurança Empresarial de Itaipu e professor da Unioeste.
“Em breve, vamos disponibilizar os sinais capturados à comunidade por meio da internet. As informações obtidas nas dezenas de instituições que montaram o projeto ao redor do mundo são cruzadas com o objetivo de interpretar o sinal desde a sua origem e intensidade”, explicou Fonteque Júnior. “Isso é necessário para garantir que o sinal não se trata de um mero ruído gerado por algum equipamento terrestre”, concluiu o engenheiro.
Pipoca estourando
Segundo a Nasa, a radiação de Júpiter produz uma vasta gama de rajadas com sons diferentes, que se assemelham desde o ruído de pipoca estourando a um punhado de pedrinhas jogadas em um telhado de zinco, além de outros sons mais difíceis de serem identificados.
Já as explosões solares duram de meio a dois minutos. Muitas vezes, elas soam como um rápido aumento de ruído seguido por uma diminuição gradual que volta ao nível inicial.
A página oficial do projeto da Nasa é o http://radiojove.gsfc.nasa.gov/index.html (em inglês).
Por, JIE