Mais da metade da energia consumida em Assunção e região metropolitana da capital do Paraguai, com uma população estimada em aproximadamente 3 milhões de habitantes, já passa pelo novo sistema de 500 kV, entre a margem direita da usina hidrelétrica de Itaipu e a subestação de Villa Hayes.
A informação foi dada nesta quinta-feira (24), em Assunção, pelo presidente da Administración Nacional de Electricidad (Ande), Victor Raúl Romero, durante a palestra Disponibilidad de Energía Eléctrica – Línea de Transmisión, que abriu o ciclo de conferências da Expo Paraguai Brasil 2013. Os diretores-gerais de Itaipu, Jorge Samek (Brasil) e James Spalding (Paraguai), também integraram a mesa.
A feira, que reúne mais de cem empresários brasileiros no Centro de Convenções Mariscal Lópes, na capital paraguaia, foi aberta oficialmente também nesta quinta-feira, pelo presidente do Paraguai, Horacio Cartes. O objetivo é promover o intercâmbio comercial, cultural e turístico entre os dois países.
Victor Romero apresentou gráficos mostrando a evolução do consumo de energia do Paraguai e falou sobre a importância do novo sistema de 500 kV, energizado no início deste mês, para a mudança do perfil econômico do país. O linhão está em fase de comissionamento e entra efetivamente em operação no final do mês.
“Hoje, 43,3% do consumo de energia elétrica do Paraguai é residencial e apenas 22% industrial. Queremos mudar esse quadro”, afirmou. Segundo ele, a meta do país é ampliar o consumo atual de 2.384 MW registrado em 2012 para 6.734 MW daqui a 20 anos. “Para isso, investimentos são necessários”, disse.
Samek destacou a parceria entre Brasil e Paraguai e lembrou que os presidentes dos dois países, Horacio Cartes e Dilma Rousseff, já se encontraram quatro vezes em apenas três meses. O quinto encontro deverá ocorrer já na próxima terça-feira (29), na subestação da margem direita de Itaipu, em Hernandárias, para a cerimônia que vai marcar a entrada em operação definitiva do sistema de 500 kV.
“O Paraguai vive o melhor momento de sua história. A última estimativa aponta um índice de crescimento de 13,7% [do PIB, em 2013]. O segundo maior crescimento registrado na América Latina não vai chegar à metade do crescimento do Paraguai”, destacou Samek.
O diretor brasileiro de Itaipu acrescentou ainda que “não há desenvolvimento sem energia. E isso o Paraguai tem de sobra.”
James Spalding lembrou que somente Itaipu representa 8% do PIB paraguaio – e a exportação da energia excedente da usina é a segunda maior fonte de receita do país. O diretor paraguaio também destacou a importância do sistema de 500 kV para sustentar os atuais níveis de crescimento econômico do país.
“Estamos falando de 25% a 30% da energia consumida em todo o país e que já passa pelo novo sistema”, disse. “Se Itaipu é um exemplo de irmandade entre dois países, essa linha [de 500 kV] é um exemplo adicional, porque foi financiada com recursos não reembolsáveis do Mercosul e aporte voluntário do governo brasileiro”, completou.
Na abertura do evento, ao lado do presidente Horacio Cartes, o presidente do Foro Brasil Paraguai, Raúl Baginski, relacionou as oportunidades que o país vizinho apresenta para investimentos estrangeiros, especialmente em um ambiente de estabilidade econômica e segurança jurídica. “Cremos que é o momento de o Brasil e o Paraguai ampliarem essa extensa agenda de cooperação e de desenvolvimento”, salientou. A Expo Paraguai Brasil segue até esta sexta-feira (25).
O papel da Itaipu
Marco para a transformação do perfil econômico do Paraguai, a construção do sistema de 500 kV teve reflexos importantes também para a empresa responsável pela execução do empreendimento: a Itaipu.
Os números revelam o tamanho do desafio superado. Em diferentes momentos, nos últimos três anos, o projeto mobilizou de 120 a 130 empregados da usina, cerca de 2,5 mil empregados de empresas contratadas e mais de 180 mil documentos, entre desenhos, contratos e especificações. Tudo sob a coordenação da binacional.
Basicamente, o sistema de 500 kV compreende três grandes obras – todas já concluídas: a ampliação da subestação da margem direita de Itaipu; a construção da subestação de Villa Hayes, na Grande Assunção; e a instalação de 348 quilômetros de linhas de transmissão, apoiadas em 759 torres.
Recursos do Focem
Quase toda a obra do sistema de 500 kV foi financiada pelo Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul – o Focem, com contrapartida de 15% do Paraguai. O custo total foi de US$ 320 milhões – incluindo US$ 15,8 milhões na ampliação da subestação da margem direita, US$ 165 milhões nas linhas de transmissão e US$ 105 milhões para a construção da subestação de Villa Hayes.
Operação efetiva e gradual
A entrada em operação definitiva do sistema deve ocorrer até o começo de novembro. A energização, para os testes de confiabilidade, ocorreu no último dia 6 de outubro.
A expectativa é que o novo sistema amplie em 1.200 megawatts (MW) a capacidade de recepção pelo Paraguai da energia produzida por Itaipu – equivalente à demanda de energia, somada, dos Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Esse aumento será gradual e depende de reforços no sistema de distribuição. Dos 1.200 MW, o Paraguai deverá usar a partir de novembro entre 250 e 300 MW. Atualmente, a demanda do mercado paraguaio de energia elétrica, em horário de pico, gira em torno de 2,5 mil MW.
JIE