O trabalho da Hidrologia de Campo de Itaipu vai ajudar o Paraguai a definir um sistema de gestão de recursos hídricos no país. As primeiras medições foram feitas ao longo de 10 dias, em julho e agosto, a pedido da Secretaria del Ambiente (Seam) do governo paraguaio. Nesta primeira etapa foram avaliados os rios Paraguai, Apa, Bermejo e Paraná em pontos nunca antes monitorados no extremo norte e sul do país vizinho.
A ação envolveu duas equipes da Divisão de Estudos Hidrológicos e Energéticos (OPSH.DT), que enfrentaram percalços como dificuldade de acesso aos locais de medição. Em alguns pontos, os técnicos só chegaram aos rios transportados por avião da Força Aérea Paraguaia, com pousos em pistas de terra ou grama, e tiveram que transpor estradas alagadas. “Em Baía Negra, tivemos um pneu furado e só conseguimos deixar o local quando o outro pneu chegou por via aérea”, contou Paulo Gamaro, engenheiro da OPSH.DT.
Grupo da OPSH.DT e da Seam na campanha para medir os rios paraguaios. Em alguns locais, acesso só de avião. “Em Villemi, o avião teve que arremeter e ficamos no ar até alguém tirar as vacas da pista de aterrisagem”, disse Paulo Gamaro.
No sul do Paraguai, a equipe levou em média duas horas e meia para andar 100 quilômetros. “Em alguns trechos não conseguíamos trafegar a mais de 20 quilômetros por hora”, disse Luiz Maldonado.
Tecnologia
Segundo Gamaro, o uso da tecnologia empregada por Itaipu nas medições possibilitou o levantamento de dados como velocidade e direções das correntes e análise da carga de sedimento de fundo, impossíveis de serem verificados com os equipamentos antigos.
“As medições convencionais, com o uso de molinete (tipo de hélice utilizada para estimar a velocidade e vazão), seriam muito demoradas e perigosas em algumas situações”, explicou Gamaro.
O truque são os complexos aparelhos medidores de vazão, os ADCPs, sigla para Acoustic Doppler Current Profiler – em português, Perfilador Doppler Acústico de Corrente. Foi com os ADCPs que o pessoal da Hidrologia analisou, pela primeira vez na história, a turbulência logo após as Cataratas do Iguaçu, em 2011. Eles também foram usados nos trabalhos do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, na cheia de 2008.
Agora, os dados coletados nos rios estão sendo compilados em um relatório. O documento será encaminhado à Secretaria do Meio Ambiente. “São dados iniciais para se conhecer a quantidade de água nos rios medidos. A partir disso, serão definidas ações relacionadas ao gerenciamento dos recursos hídricos no Paraguai”, explicou Luiz Maldonado.
A iniciativa atende ao Projeto de Gestão Sustentável de Recursos Hídricos da Bacia do Prata, formado pelo Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai e Bolívia.
A solicitação chegou a Itaipu por meio da Diretoria Geral Paraguaia. O trabalho foi coordenado pelo gerente da OPSH.DT, José Miguel Rivarola.
Além de Gamaro, Rivarola e Maldonado, também participaram das medições Isaías dos Santos, Francisco Athaydes, Sérgio Tulio e Giovani Gomes. Eles foram divididos em duas equipes: uma entre os dias 14 e 18 de julho e a segunda entre 19 e 23 de agosto.
História ao vivo
Em Humaitá, Departamento Ñeembucú, os técnicos viram as correntes que eram dispostas no rio para impedir a passagem dos navios da Tríplice Aliança (formada por Brasil, Uruguai e Argentina), durante a Guerra do Paraguai.
“Eles erguiam essas correntes quando as embarcações se aproximavam”, contou Luiz Maldonado. No local, ainda há ruínas da sangrenta batalha de 1868, como a igreja destruída.
O baixo nível do Rio Paraguai quase os impediu de fazer o trabalho. “Tivemos que usar uma voadeira da Marinha Paraguai”, disse Gamaro.
Entre a Argentina e Paraguai, eles tiveram que enfrentar ondas altas no rio, com uma largura de 2,5 quilômetros de margem a margem.
JIE