Morreu às 5h desta quinta-feira (5) em Foz do Iguaçu, o jornalista Juvêncio Mazzarollo. Ele estava internado há 10 dias no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, após sofrer um acidente vascular cerebral. O velório acontece na capela do Cemitério São João Batista, no centro de Foz, em seguida o corpo será levado para sepultamento na cidade de Veranópolis, no Rio Grande do Sul, onde nasceu.
Juvêncio trabalhou nos últimos anos no programa Cultivando Água Boa, da hidrelétrica de Itaipu. Lutou a favor da liberdade de expressão no tempo da Ditadura Militar, motivo pelo qual foi interrogado várias vezes pelos militares do Batalhão de Foz do Iguaçu, até ser preso e levado à Curitiba. Juvêncio só foi solto meses após o fim da ditadura, motivo pelo qual é conhecido como sendo o último preso político do país.
Amigos como Nelton Friederich, Aloízio Palmar e Pedro Toneli, prestaram uma homenagem nesta manhã de quinta-feira durante a programação da Rádio Cultura. Friederich, diretor de Meio Ambiente de Itaipu, lembrou que Mazzarollo era um homem determinado e corajoso.
História
A ideia de criar o semanário Nosso Tempo surgiu em maio de 1980, quando o também semanário Hoje Foz foi vendido para Jucundino Furtado, político ligado à antiga Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido de sustentação da ditadura. Jucundino era um homem poderoso, tido como operador da logística do grupo político liderado por Ney Braga. Essa fama surgiu a partir dos cargos ocupados por ele, como o de diretor-administrativo de Itaipu Binacional e presidente do Banco do Estado do Paraná.
Com a venda do jornal, que funcionava na Vila Yolanda, os jornalistas Aluízio Palmar, João Adelino de Souza e Juvêncio Mazzarollo foram demitidos. Os três eram responsáveis pela linha de conotação popular, de esquerda e de contestação ao governo militar. Naqueles anos a Presidência da República era ocupada pelo general João Figueiredo; o estado do Paraná, pelo coronel Ney Braga; e o município, pelo coronel Clóvis Cunha Vianna.
A permanência dos três jornalistas contestadores era incompatível como a nova orientação que o jornal passaria a ter. Aluízio havia chegado a Foz do Iguaçu em setembro do ano anterior, após ser anistiado. Ele retornou do exílio em que viveu oito anos após ser trocado pelo embaixador da Suíça no Brasil. João Adelino havia passado pelo jornal Fronteira do Iguaçu, de Cascavel, e saído para fundar, juntamente com Sefrin Filho, o Hoje, primeiro em Cascavel e mais tarde seus similares em Marechal Rondon e Foz do Iguaçu. Juvêncio Mazzarollo começou suas atividades jornalísticas no Hoje, a convite de Adelino, então editor da versão iguaçuense do semanário de Cascavel.
Antes, Juvêncio, formado em Letras, havia exercido a profissão de professor de português, literatura e inglês na rede estadual de ensino, de 1970 a 1978. Era professor do Colégio Agrícola Manoel Moreira Pena quando foi sumariamente demitido pelo então governador interventor Jaime Canet Jr., por causa de uma entrevista que concedeu ao jornal Hoje Foz criticando a condução da educação no Paraná. Fora do magistério, Juvêncio passou a trabalhar no jornal que o entrevistara.
Desempregados, Aluízio, Adelino e Juvêncio idealizaram a criação de um jornal que teria sua linha editorial assentada na exposição dos problemas da cidade, no combate à ditadura, defesa dos movimentos populares e na luta por eleições diretas para todos os cargos eletivos, em especial dos prefeitos das chamadas “áreas de segurança nacional”.
Processo e prisão Juvêncio
Apesar deste artifício legal, as pressões prosseguiram até que o regime arbitrário usou seu último recurso: enquadrar e processar Aluízio, Adelino e Juvêncio pela Lei de Segurança Nacional. Os dois primeiros foram absolvidos, mas Juvêncio foi condenado inicialmente a dois anos de prisão, pena depois aumentada para quatro anos pelo Superior Tribunal Militar.
Mesmo com um de seus editores preso, Nosso Tempo manteve a linha editorial, com Adelino, Aluízio e Jessé na edição, e Juvêncio escrevendo seus artigos da prisão, sempre na mesma linha contestatória e esquerdista, como se nada lhe tivesse acontecido.
Fonte: Nosso Tempo Digital